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Guilherme:

Quem não tem teto de vidro que me atirem a primeira pedra, ninguém poderá me condenar por estar com raiva, por estar irredutível quando fui tão leal a Bernardo e ele me traiu, quando de todas as formas possível eu lhe mostrava o meu amor e ele preferiu acreditar no meu irmão. 

A última coisa que eu queria na vida era dar um fim ao meu sonho, amei Bernardo desde que nos conhecemos  e sonhei com minha vida perfeita ao seu lado. 

A escolha mais difícil foi mandá-lo embora quando todo o meu ser queria pedir que ele ficasse. 
Assistir em lágrimas ele arrumar suas coisas, me implorando perdão, e eu ter que me esforçar para não ceder o que o meu coração desejava. 

"_ Foi apenas um beijo" - ele me disse, como assim apenas um beijo, não foi apenas um beijo, foi decepção, foi traição, foi desconfiança, não, não foi apenas um beijo. 

A dias andávamos discutindo, por motivos fútil, ora era uma mensagem que eu recebia no meu celular, ora era por causa de falta de atenção que ele me acusava, e eu em minha ingenuidade tentava de todas as formas o agradar. 

Eu não fazia ideia que a dias o meu irmão, sangue do meu sangue me apunhalava pelas costas, causando intrigas entre Bernardo e eu. 

As pessoas são dão aquilo que tem para dar, e era isso o que Glauco continha no coração, desavença, discórdia, ódio, mas eu não sabia disso, sempre o recebia em nossa casa com um sorriso, afinal ele era o meu irmão. 

Mas a culpa não é 100% dele, pois Bernardo dormia todos os dias ao meu lado, conhecia os meus gostos, meus segredos, minha intimidade, e deixou-se enganar por palavras desleais. 

Foi escolha de Bernardo beijar aquele rapaz, pode-se dizer que ele foi induzido a agir de tal maneira, isso não está em questionamento, ele escolheu beija-lo.

Eu queria poder virar a página anterior e apagar esse episódio da minha história, mas não posso, a traição está registrada em minha mente, e todas as vezes em que eu fecho os olhos é a imagem de Bernardo beijando Bruno que eu enxergo. 

Uma semana já se passou, o lado da cama de Bernardo permanece gelado, seus braços já não me aquecem, sei ele está sentindo a minha falta, tanto quanto eu a dele, eu tenho consciência disso, Lana faz questão de enfatizar isso todas as vezes que conversamos, mas não é necessário que ela me fale para que eu saiba disso.  
O que me entristece ainda mais é ver os nossos filhos sentindo a falta dele. Mas eu sei que ele jamais deixará de dar assistência emocional aos meninos. Ele falhou comigo como homem, contudo não posso tirar o mérito dele ser um excelente pai. 

Em concordância resolvemos conversar com os meninos sobre a causa dele sair de casa, não foi fácil para nenhum de nós dois ver os nossos meninos querendo entender como funcionaria a vida deles daquele momento em diante, por isso escutar suas perguntas sanariam pelo menos um pouco as dúvidas dos dois, o resto seria na prática. 


Entretanto Bernardo, parecia não querer entender que as coisas haviam mudado, e na manhã seguinte ele apareceu na minha porta para levar os meninos para a escola, acomodou os dois no banco de trás e abriu a porta do passageiro para mim, eu não quis fazer drama na frente dos meninos, Bernardo logo se pôs diante do volante dirigindo rumo a escola, em todo o percurso eu olhava para o lado de fora evitando olhar para ele, somente quando os meninos já haviam entrado na escola, quando ele e eu estávamos sozinho que eu virei-me para ele:

_ Precisamos definir como será com os meninos, para que não fiquemos nesse impasse. Você pode ir lá em casa a hora em que quiser, pode levar e buscar os meninos e até levá-los para passear a hora em que você quiser, mas eu peço que me avise antes, para não acontecer igual hoje. Acho que assim como eu, você não quer confundir os meninos, se todas as manhãs você aparecer para levar eles, ir buscar, e se toda hora você aparecer em casa, vai dar uma falsa sensação a eles que estamos juntos ainda. 

_ Não precisa ser uma falsa sensação Gui.

_ Bernardo, não insista. Eu venho buscar eles hoje e peço que você não apareça. 

_ Isso não é justo Gui. 

_ Não é justo? _ Então você acha justo criar expectativas nas crianças e depois decepciona-los?

Ele ficou em silêncio, cabeça baixa, e talvez por que eu precisava falar eu continuei:

_ Uma vez definido que o nosso casamento acabou, precisamos nos adaptar as mudanças, você não pode aparecer a qualquer hora, sem me avisar. Isso é justo. 

_ Você está sendo muito duro comigo Gui, eu errei, eu sei, mas eu te amo. 


_ Bê... 

 Sem perceber eu o chamava pelo apelido carinhoso e isso fez com que ele  levantasse o seu rosto encontrando o meu olhar, que logo tratei de desviar:

_ Bernardo, eu sei do seu amor, eu não tenho dúvida quanto ao que sentimos um pelo outro, eu também te amo, não posso mentir, eu também estou sofrendo com a nossa separação.

_ Então volta para mim.

_ Eu não posso Bernardo. 

_ Não pode, ou não quer?

_ Eu não posso ficar com alguém a quem eu não confio.  Não vamos nos magoar mais, me liga quando quiser vir ver os meninos. 

Ele não me impediu quando eu o deixei, me conduzindo ao ponto de ônibus. Deixo minhas lágrimas correrem livremente sobre minha face encostando a cabeça no vidro da janela enquanto observo a paisagem, movendo-se rapidamente, me sinto em fragmentos, meu coração apertado, como se todo o choro preso quisesse vir a tona, então ouço alguém me perguntar:

_ Está tudo bem com você? 

Eu me dou conta que estou em um transporte público, a iniciativa do rapaz que estava a minha frente merecia uma resposta, contudo  vários olhares curiosos esperava a minha conclusão do motivo pelo qual eu estava daquele jeito, me dirigi ao rapaz:

_ Sim, eu estou bem. 

_ Tem certeza, não prefere conversar o que te fez chorar tão compulsivamente diante de tantos olhares curiosos?

_ Não quero te incomodar com os meus problemas

_ Para sua sorte esse é o meu trabalho. Estou me formando em psicologia, permite que eu me sente do seu lado?

_ Estranho você me pedir para sentar quando estamos em um ônibus público. 

Ele deu risada:

_ Vou interpretar isso como um sim. Meu nome é Lyam e o seu?

_ Guilherme.

Ele sentou-se ao meu lado e começou a puxar assunto, terminamos em um barzinho tomando uma cerveja e eu lhe contando todo o meu drama: 

_Você ama o seu ex:?

_ Muito, e eu sei que ele também me ama.

_ Mas acha que não está preparado para desculpá-lo  ou acredita que ele não merece ser perdoado pelo erro dele? 

_ Ele me magoou demais. 

_ Posso fazer algo que provará se está preparado ou não para seguir adiante sem ele?

_ O que pensa em fazer?

Sem que eu estivesse esperando ele beijou-me, imediatamente eu recuei o meu corpo para trás, ele sorriu umedecendo os lábios com a língua.

_ Você não está preparado. 

Em busca de redençãoWhere stories live. Discover now