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Bernardo:

Com a acusação sustentável não tinha como Glauco, sair em pune, tudo era contra ele, mesmo ele alegando insanidade e dizendo que foi convencido pelos cúmplices a participar do sequestro, isso era uma jogada dele já que mortos não provam inocência, não que aqueles homens fossem inocentes já que se juntaram a ele. Mas aí dizer que eles influenciaram Glauco era imaginação demais.

Guilherme estava prestando depoimento, as perguntas que ambos advogados faziam era incisivas para o inquérito:

_ Então o meu cliente Glauco frequentava a sua casa?

_ Sim, ele é meu irmão, eu confiava nele.

_ E você nunca desconfiou sobre o ódio que você alega que ele tenha contra você?

_ Não, nunca desconfiei, ele sempre me tratou bem, sempre demonstrou gostar das crianças, mas envenenava a cabeça do Bernardo com mentiras e acusações falsas.

_ Descreva para mim como foi a infância de vocês dois? 

_ Nosso pai me trouxe para casa dele, depois que minha mãe foi trabalhar em outra cidade, nós dois dividíamos o mesmo quarto, os mesmos brinquedos, brincávamos juntos, brigávamos também como todos os irmãos.

_ E você nunca presenciou uma cena de ódio, ou sentiu-se ameaçado pelo seu irmão?

_ Não!

_ E quando foi que você começou a perceber que o comportamento do seu irmão havia mudado?

_ Bernardo e eu andávamos brigando muito, eu não sabia que o motivo de tantas discussão, até o dia em que eu peguei o Bernardo beijando um rapaz, e no meio da nossa conversa ele acabou me contando que o Glauco já o havia alertado do meu amante, só que não existia amante algum.

_ Então você quer dizer que seu irmão perturbava o seu relacionamento?

_ Sim.

_ Então você concorda comigo que seu irmão estava perturbado emocionalmente?

_ Não, não foi isso o que eu disse.

Sem permitir que Guilherme prosseguisse no que diria o advogado de Glauco já tomou a fala:

_ Fica registrado então ao corpo de jurados que o depoente Guilherme Andrade, irmão do réu, confirma que o irmão perturbava o seu relacionamento, perturbar também tem o mesmo significado de transtornar, ou seja fica registrado que o réu estava transtornando, e portanto ele é considerado um transtornador. E um transtornador é que causa transtorno.
Só preciso lhe fazer mais uma pergunta, você disse que seu irmão causava transtorno certo?

_ Sim!

_ Você então está confirmando em julgamento sob juramento que seu irmão estava emocionalmente perturbado, transtornado?

_ Protesto meritíssimo, o advogado de defesa está induzindo a testemunha.

_ Protesto negado. 

_ Sem mais perguntas meritíssimo. 

Sem que nos déssemos contas estávamos fornecendo base para considerarem Glauco um doente e não um criminoso que era o que de fato ele era.

_ O advogado de acusação está com a palavra.

_ Obrigado meritíssimo. O depoente Guilherme afirmou aqui que o irmão agia premeditadamente  e estava consciente em tudo o que fazia estou certo?

_ Sim.

_ Em sua frente agia como uma pessoa amigável, assim como um irmão deveria agir, mas pelas costas ele agia maldosamente fazendo intrigas com o seu parceiro,  você como irmão dele o considera um doente?

_ Não!

_ Então descreva com as suas palavras como enxerga o réu.

_ Ele não é doente, é dissimulado, entrava na minha casa, sorria, brincava com os meninos, mas em seus pensamentos premeditava o mal, isso não é ser doente e sim uma farsa   para que os jurados acreditem que ele está doente e o mandem para uma clínica, ele atirou em dois homens que morreu, atirou no meu filho e quase o matou, não é justo ele ser favorecido com uma clínica de repouso.

_ Protesto, o depoente está induzindo o juri contra o meu cliente.

_ Protesto aceito, peço que tire a afirmação do depoente dos autos. 

Continuaram as perguntas, e Guilherme foi dispensado. Eu ainda ficaria a espera de ser chamado. 

Era a vez dos policiais, o advogado tentava a todo custo alegar que a cena do crime havia sido adulterada. 

Depois foi a minha vez de se aproximar da tribuna do juiz, fazer o juramento e sentar-se na cadeira onde prestaria o meu depoimento. 

Sentia meu coração descompassado ao ver a frieza no olhar de Glauco, ora mostrando-se passivamente calmo ora descontrolado, ele bem sabia representar o personagem pois parecia mesmo perturbado:

_ O depoente é o que do réu?

_ Cunhado, ele é meio irmão do meu companheiro. 

_ Entendo,  consta no auto que o seu companheiro afirmou que você era induzido pelo réu a suspeitar do seu companheiro, essa afirmação é verdadeira?

_ Sim, está certo.

_ Então posso deduzir que você acreditava nas palavras do réu?

_ Sim. 

_ E quando foi que  mudou a visão que tinha sobre o meu cliente?

_ Quando eu descobrir que ele me manipulava, ele sabia que eu tinha ciumes do Guilherme e me fazia acreditar que ele tinha um amante. 

_ E você acha que esse comportamento que o meu cliente demonstrava a ter era algo normal?

_ Ele é manipulador. 

_ Não foi isso o que eu lhe perguntei, mas vou recapitular a pergunta de uma outra forma. Você agiria da mesma forma como meu cliente agiu?

_ Não!

Eu havia sido pego em uma armadilha. Depois as perguntas passaram a ser sobre o sequestro, o carcere privado, a entrada dos policiais e o desfecho com o corpo do meu filho no chão:

_ Você pegou o seu filho no colo antes da perícia entrar?

_ Sim.

_ Em que momento que você fez isso?

_ No momento em que os paramédicos entraram.

_ Então os paramédicos entraram na cena do crime antes da perícia?

_ Meu filho estava perdendo muito sangue, eu não reparei se os paramédicos entraram antes ou depois. 

_ Sem mais perguntas meritíssimo. 

Entraremos em ressesso e voltaremos em duas horas com o veredito.

Em uma das salas destinadas aos depoente de acusação, Guilherme andava de um lado a outro, ele estava nervoso, como sempre eu o abraçava para acalmá-lo:

_ Ele vai se safar Bê, ele vai consegui o que quer.

_ Calma Gui.. ele não vai sair impune.

_ Como não, ele está se passando por doente, nós falamos tudo o que vivemos e sentimos, mas do que adiantou, nada, nada o advogado dele conseguiu passar ao juri a imagem de alguém que precisa de cuidados especiais. Isso não é justo, eu quero ele atrás das grades, preso, enjaulado. É inaceitável  que ele saia livre, eu não vou aguentar Bernardo. 


_ Gui, mesmo que ele vá para uma clínica ele não poderá sair de lá.

Guilherme balançava a cabeça repetidas vezes.

_ Não, não Bê... uma clínica de repouso é bom demais para ele, ele tem que ser encarcerado. 

Voltando para audiência após as falas finais dos advogados, o juiz leu a sentença:

_ O titular desse juizado penal, anuncia a sentença condenatória a Glauco Andrade, pelos seguintes crimes.
 Pelo crime de duplo sequestro.
 Pelo crime de abandono de incapaz.
Pelo crime de duplo carcere privado.
Pelo crime de tentativa de homicídio doloso qualificado.
Pelo crime de duplo homicídio doloso qualificado.
Por todos os crimes cometidos o juri decidiu pela condenação do réu á 60 anos dos quais é condenado a passar 30 anos em prisão uma vez que é o máximo de tempo que reza a lei. Com atenuante da espera do laudo médico para definir se ele permanecerá na prisão ou irá para uma clínica psiquiátrica. 

Saímos de lá com a vitória, porém com a incerteza de que ele permaneceria na prisão. 



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