Cap 28

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NATALIE.

Assisto minha vida virar um caos. De noiva surpresa a noiva abandonada. Doeu tanto quando ouvi as palavras saírem da boca dele. Eu nunca seria capaz de fazer o que ele pensa que fiz. Não sem considerar ele. Mesmo depois daquela conversa no parque e todas as suas atitudes que me mostravam que ele não queria filhos. 

Saio do banheiro com um roupão e com os olhos cheios de lágrimas. No quarto só está Bennet. A esse ponto nem me preocupo se meu rosto está em ordem, só quero me deitar e fingir que esse dia não está acontecendo. Me sento na cama macia e alta de Will e passo a mão pela cocha. 

- Não fique assim. Eu prometo que vou mata-lo. - Bennet fala meio sem graça depois de alguns minutos de silêncio.

Abro um sorriso bem sem graça, mas nem sei qual a intenção. Abaixo os ombros e respiro fundo. Como isso foi acontecer? Dessa vez abro um sorriso, mas por pena de mim. Olha aonde eu acabei. Nem cheguei ao altar para dizer que fui abandonada lá, consegui a proeza de ser abandonada antes. Realmente não nasci com a sorte ao meu favor.

Bennet fecha a porta do quarto e se aproxima. Pega um banco que estava encostado na parede e se senta perto de mim. Penso no que ele pensa que vai falar que pode melhorar a minha situação. 

- Se você quiser pode bater em mim, eu aguento. - ele brinca. 

- A vontade não é pouca, acredite. Mas, não é com você o meu problema. - respondo e olho para baixo. - Você sabia, certo? Ela te contou. 

- Sim. Sei que não deu muito tempo para você contar para ele, depois do jeito que ele entrou aqui, mas acho que vale a pena você contar, se quiser fazer as pazes. Will é cabeça dura as vezes e se ele ficou desse jeito é porque...

Continuo a ouvir o que ele tem para falar, mesmo sem prestar muita atenção. Sinto minhas mãos ficarem geladas e um pouco trêmulas. Meu irmão está aqui, em algum lugar. Ele veio de tão longe para poder me levar ao altar, mas parece que isso não vai acontecer. Eu já não seria levada pelo meu pai, por motivos óbvios, mas contava com meu irmão para isso. Ao pensar sobre o assunto, me lembro de quando eu era pequenas e de alguns momentos que tive com o meu pai. Como eu amava a nossa familia e em instantes tudo foi para os ares. 

- Eu tinha uma familia dessas de comercial, sabe? - sorrio ao começar a contar. - Típica familia feliz. Meus pais trabalhavam, enquanto eu e meu irmão íamos para a escola e de tarde todos estavam em casa, para sermos a família feliz novamente. Eu lembro que eu tinha 14 anos, estava no primeiro ano, tinha acabado uma aula maravilhosa de química, eu tinha recebido as provas do semestre e fiquei feliz por ter tirado uma nota muito boa nas matérias. A professora nova era a melhor que eu tinha tido até então e eu me sentia um sucesso por finalmente entender alguma coisa da matéria. Eu, Carrie e algumas meninas saímos da sala e ficamos no pátio, no final da aula. Era dia de reunião e como de praxe, eu esperava minha mãe ir para a sala, falar com a professora e depois íamos ao cinema, para comemorar as notas boas. Eu e as meninas ficamos lá conversando sobre garotos como sempre e aos poucos elas foram indo embora, só Carrie ficou comigo. Estava um sol gostoso sabe? Só mais um dia normal da minha vida, nada de muito especial.

Ele escuta atentamente enquanto eu falo. Penso em parar de contar, mas a esse ponto, as memorias voltam como um filme em minha cabeça e simplesmente não consigo parar. 

- Estava demorando para minha mãe sair da escola e eu sabia que não era porque eu tinha tirado notas ruins. Eu era muito boa, melhor que Carrie em algumas matérias, sempre tive facilidade com matemática, línguas, física e história, até ajudava quando ela precisava. Óbvio que ela se destacava em artes, você tinha que ver o que ela desenhava, era de tirar o fôlego. Eu lembro que depois de longos minutos esperando, Carrie disse que precisava ir no banheiro porque tinha que verificar o absorvente e eu a acompanhei, lógico. Assim que entramos no banheiro, recebi uma ligação da minha mãe dizendo que ia se atrasar para a reunião, disse para falar para a professora esperar mais vinte minutos que ela chegaria. Avisei Carrie que eu ia sair, mas para ela me esperar na escadaria da entrada da escola. Quando eu estava cruzando o corredor para ir para a sala, eu senti aquele cheiro de chuva, sabe? Quando o ar muda e o cheiro de umidade invade? A escola estava meio vazia, todo mundo já estava em casa curtindo as merecidas férias, para voltar um mês depois. Eu lembro que uma mãe de uma amiga minha da outra sala passou por mim e sorriu. Aquilo foi tão estranho sabe? Não o sorriso, mas a sensação, senti uma angústia.

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