Eu me enganei.

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Fecho a porta assim que Lili sai e vou para o banheiro. Provavelmente, Mellory viria mais tarde, eu precisava saber o que diria pra ela, ela não podia desconfiar. Entro debaixo d'água e deixo com que a mesma molhe meu cabelo caindo sob meus ombros. Não queria que as coisas terminassem assim, com ameaças e mentiras. Mas talvez a Sra. Carson esteja certa, não sou o futuro ideal para Mellory, pelo menos não agora. Talvez isso a magoe, mas espero que um dia ela possa me perdoar, e entender que, talvez isso tenha sido bom pra ela, não consigo saber como agora, mas se ela seguir em frente, talvez as coisas melhore pra ela.
Saio do chuveiro e me seco, visto minha roupa e arruma a bagunça que eu fiz, por mais difícil que as coisas estão sendo, meu coração bate mais forte ao saber que Mellory estava vindo, não porque tudo acabaria hoje, mas porque iria ve-lá e só isso me importava agora. Desço e esbarro na garota da noite passada, ela apenas sorri e peço desculpas, ela sobe para o seu quarto sem dizer nada. Eu achava que eu era estranho, mas essa menina...
Vejo então Mellory na recepção conversando com Miranda. Miranda me olha, indicando aonde estou, Mellory corre até mim parado no fim da escada a olha, ela me abraça e pela última vez, sinto seu cheiro e seu corpo colado ao meu. Ela me beija e eu recuo.

- O que foi?- ela sorri desentendida.- Aconteceu algo?- segura minhas mãos.

- Precisamos conversar.- digo apertando à mão para que ela não comece a tremer.

Eu e Mellory caminhamos até o lado de fora atrás da clínica. Estavamos numa distância boa já, mas eu queria continuar em silêncio.

- Então, o que tem para me dizer que parou nosso beijo?- ela diz num tom brincalhão.

- Nós precisamos parar de nos ver.- digo sério e vejo seu sorriso se desfazer.

- O que quer dizer com isso?

- Eu acho que me enganei sobre o que sentia por você e...

- Você disse que me amava naquela noite.- ela diz nervosa.

- Talvez tenha sido o momento...

- Não foi, Sebastian, não me diga isso...- ela se altera.- foi a minha mãe, não foi? Ela veio aqui? O que ela te disse?- ela segura minhas mãos deseperada.

Queria dizer a verdade, queria falar que era mentira e que eu a amava, queria faze-la parar de chorar, queria abraçar seu corpo. Estou pedindo para que faça ela esquecer de você, a mágoa vem como consequência. Lembro das palavras da Sra.Carson e então afasto Mellory. Só havia uma forma dela não olhar mais na minha cara, e essa forma a magoaria.

- Eu transei com outra garota aqui dentro.- digo olhando para a árvore atrás dela.- Isso fez com que eu percebesse que não amava você.- digo rude.- Porque se eu amasse, não teria te traído.- agora a olho. Seu rosto carrega uma mistura de tristeza e desconfiança.

- Você não fez isso.- ela diz deixando as lágrimas caírem.

- Eu fiz. Mas eu te contei a verdade e acho que agora é hora de você seguir em frente.- digo colocando a mão em seu ombro, mas ela tira.

- Não, não, você não fez isso.- ela diz olhando no fundo dos meus olhos.- sei quando mente.- ela sorri debochada.

- Então hoje seu senso errou.- digo tentando não ser grosso. Vejo o rosto de Melly se contorcer.

- E tudo o que vivemos?- ela me empurra.- Não passou de momentos pra você?- me empurra de novo.- E as noites no hospital?- diz socando meu peito.- O dia do velório? A nossa noite, Sebastian?- ela gritava, me empurrava e batia.

- Eu já disse, foi um engano e eu me arrependo do que aconteceu...

- Você o que?- ela grita. Cala a boca, sebatsian.- Você conseguiu!- ela grita.- Eu nunca mais vou olhar na sua cara, eu não quero mais saber de você. É isso que você quer?- ela abre os braços gritando.- então, pronto! Eu vou embora por aquela porta e você nunca mais vai me ver ou saber de mim. Eu te odeio, Sebastian Hastings.

Mellory sai andando me deixando sozinho. Sei que aquelas palavras não são verdade, sei que ela só disse porque a magoei, e olha, isso está doendo tanto em mim quanto nela. Nada do que eu disse foi verdade, absolutamente nada. Eu amo essa garota como nunca amei qualquer outra, e eu sinceramente, espero que um dia ela me perdoe por isso.

***

Dia seguinte - consulta com a psicóloga da clínica.

Eu estava sentado na sala dela como já de costume. Eu estava no sofá, enquanto ela sentava no banco. Seu nome era Chloe, e tinha, mais ou menos, seus 37 anos. Era uma mulher realmente atraente, mas nada que me chamasse atenção, nenhuma mulher além de Mellory me chamava atenção mais, isso deve ser efeito colateral de se amar alguém.
Chloe pega sua caderneta e sorri ao me ver na consulta, borlei as últimas duas, não queria falar com ninguém e se abrir para uma estranha, é pior ainda.

- Bom, já demos um longo passo.- ela sorri.- você me contou sua história com sua mãe e seu pai e tudo o que viveram.- ela continua sorrindo e intercalando seus olhares entre eu e a caderneta.- Hoje talvez não se sinta confortável, mas precisamos conversar sobre isso. Vou iniciar o tratamento em relação ao vício, mas fique tranquilo, iremos começar apenas por algumas perguntas, pode ser pra você?- eu confirmo com a cabeça.- Quando usou pela primeira vez?

- Em uma festa.- digo sério.

- Qual era o tipo da droga?

- LSD.- digo sentindo meu corpo se contrarir como se pedisse para eu me calar.

- Costumava a usar que tipo?

- Usava LSD mais em festas, usei maconha por um tempo e por fim cocaína que comecei este ano.- digo e o incômodo piora. Se eu quero melhorar preciso aprender a abrir a boca.

- Está bem. O que isso trazia para você? Quero dizer, qual era a satisfação em ingerir as drogas?- ela me olha com uma certa curiosidade nos olhos.

- No início, foi apenas forçado, todos usavam e eu não, e os meninos me perturbaram.- digo respirando fundo me forçando a continuar.- sabia que eles não parariam, então ingeri o LSD, foi então que vi o efeito. Depois de um tempo percebi que toda festa que eu ia, eu ingeria a droga.- era visível minha luta contra a fala, um lado de mim sabia a necessidade de contar pelo menos uma vez a verdade para alguém, mas por outro lado, era como me mutilar sem a lâmina.- E então veio a notícia da leucemia. Eu precisava me acalmar, estava uma pilha, já tinha se passado 5 anos desde o divórcio entre eles, mas eu ainda não conseguia superar e foi quando ela foi diagnosticada que eu comecei com a maconha...

- O que sentiu quando descobriu sobre a doença de sua mãe?- ela diz em interrompendo. Fico desconfortável no começo, mas me forço a falar.

- Raiva. Eu acho. Raiva dele, raiva dela, da doença, de mim e de todo mundo. É so isso que eu conseguia sentir. Raiva.- digo sério olhando para o tapete de pelo debaixo de nós.

- Porque usou a cocaína?

- Vi que o efeito era mais forte e diferente e quando percebi, já estava usando.- digo curto.

- Está bem.- ela fecha a cardenta.- Chega por hoje.- ela me encara ainda sorrindo.- mas antes...- ela me olha com desconfiança.- Quer me dizer um pouco sobre a garota que vem visita-lo?

- Não é o momento certo pra isso ainda.- digo e me levanto.

- Tudo bem.- ela faz o mesmo.- espero que um dia consiga me falar sobre ela.- sorri gentil.

- Um dia...- digo e me despeço com um meio sorriso torto, saindo da sala.

Não me deixe irWhere stories live. Discover now