Não me deixe ir

Prazer, Lili.

Acordo um pouco antes do café da manhã e coloco minha roupa de corrida. Ontem à noite, perguntei se tinha alguma coisa que podia fazer, para exercitar ou algo assim. A moça apenas disse que atrás havia um campo para correr e que eu podia usar, caso quisesse. Saio do quarto, todos ainda estão dormindo. Desço e vou até a porta onde ela me direcionou ontem, abro e vejo um campo grande, não tão grande, mas o suficiente. Me alongo e então começo a correr. Isso me acalma, de verdade, a dor nos músculos é reconfortante. No fone tocava Red Hot Chilli Peppers e eu corri no ritmo da musica. Ouço alguém gritar, mas não entendo nada, quando me viro, apenas sinto o impacto. Caio no chão e sinto uma dor no meu tornozelo. Vejo então a garota de ontem se levantando, ela usava acessórios de proteção e andava de Skate.

- Você está bem?- ela pergunta.- me desculpa, eu perdi o controle.- ela diz apavorada.

- Eu estou bem.- me levanto.- mas vê se toma cuidado da próxima vez, garota.- digo irritado.

A menina então abaixa a cabeça e sai andando. Sei que não devia ter sido tão grosso com ela. Corro até ela antes que ela suma no meio das árvores. Agora que sei que ela não é nenhuma viciada, duvido de sua idade, talvez fosse mais nova.

- Ei!- grito.- Espera!- digo e ela se vira para mim.- Desculpa ter sido grosso, to tentando melhorar isso.- eu digo e sorrio ainda ofegante.

- Está tudo bem.- ela sorri empolgada.- Prazer, Lili.- ela estende a mãe.

- Prazer, Lili.-  seguro.- sou…

- Sebastian Hastings.- ela me corta.- eu li a sua ficha escondido.- rimos.

- E então, o que faz aqui já que não é nenhuma viciada?- digo.- além de celulares e tvs.- dou risada.

- Eu venho com meu pai, agora nas férias, fico aqui com ele.- ela diz calma. Lili era bem mais baixa que eu, talvez um pouco menor que Mellory, seus cabelos eram loiros e tinha uma cara de bebê.

- Quantos anos você tem?- pergunto a olhando enquanto andavamos.

- onze.- ela diz sorridente.- e você tem dezoito, eu sei disso também.- eu dou uma risada de leve.

Ela ainda era uma criança, não só pela idade, mas pelo seu jeito, chegava ser até fofa. Caminhamos até dentro da clínica e então ela foi para um lado e eu fui para o outro, quando chego próximo a porta do meu quarto vejo uma garota sair. Ela era alta, tinha cabelos castanhos e olhos claros, uma beleza diferente. Ela então sorri ao me ver e fecha a porta do quarto saindo ao meu lado.
Entro no quarto e tomo banho, já devia ser hora do café da manhã e eu acho que não podia me atrasar.

***

Mellory

O dia está nublado. Olho pela janela e a chuva ameaça a cair. Olho para frente e procuro por Sebastian no seu quarto escuro, mas não encontro nada além de suas coisas. Faz apenas uma dia. Um dia que Sebastian foi embora, e eu continuo triste. Talvez eu seja egoísta demais ou contraditora, eu queria que ele se internasse para melhorar, eu até o disse, mas agora quero ele aqui de volta.
Ontem a noite, eu me deitei com ele, e nem éramos namorados, isso me deixa confusa, eu sei que Sebastian jamais será um homem qualquer pra mim, mas as coisas estão confusa na minha cabeça, as vezes acho que vou explodir.

- Querida?- minha mãe chama minha atenção ao bater e em seguida abrir a porta.- O jantar está na mesa.- ela me encara.

- Já vou.- digo e saio da janela deixando a cortina cobri-la.

***

- Como você está?- digo caminhando ao lado dele.

Sebastian aparentemente parece bem, muito bem. Na primeira semana não pude vir vê-lo, mas hoje consegui. Minhas aulas voltaria na próxima segunda e as coisas ficariam mais difíceis.

- Estou bem…- ele coloca as mãos nos bolsos.- mais do que esperava.- sorri.

- Sinto sua falta.- digo olhando pro sol.- Te procuro pelo quarto.- o olho.

- Sério?- ele ri.- também sinto sua falta.- ele ri.

Sebastian então acena para alguém, ele sorri e eu olho na direção, não tinha ninguém ali, absolutamente ninguém.

- Está acenando para quem?- pergunto procurando.

- Pra Lili, uma amiga que arranjei aqui.- ele diz rindo. Olho novamente para o lugar e não vejo ninguém.- Ela só tem 11 anos, então, não precisa ficar com ciúmes.- me abraça.

- Tudo bem.- dou risada.- Então…- continuamos a andar.- essa é sua nova mulher?- digo num tom brincalhão.

- Acho que eu realmente… estou apaixonado por ela.- ele diz e começamos a rir.

Continuamos a caminhar até a entrada da clínica. Eu ainda não havia visto essa tal de Lili, talvez tivesse saído quando eu olhei, mas isso não inportava agora. Eu tinha que ir pra casa, já fazia um bom tempo que estava ali com ele. Me despeço de Sebastian desejando ficar ali com ele.

***

- Onde você estava?- diz minha mãe assim que entro.

- Chegou mais cedo?- me assusto.

- Não.- ela passa a mão na cabeça.- eu fui demitida.- ela diz nervosa.

- Mãe, e-eu sinto muito.- digo indo até ela.

- Está tudo bem. Mas você ainda não me disse aonde estava.- la me encara.

- Eu fui ver Sebastian na clínica.- digo colocando a bolsa na mesinha.

- Então, sobre isso…- minha mãe para de pé a minha frente.- Eu e seu pai decidimos que queremos que se afaste de Sebastian.

- Oi?- grito.- como assim me afastar?- digo nervosa.

- Não queremos mais nenhum contato entre vocês.- ela se impõe.

- Você está louca?- grito.

- Mellory, olha como fala comigo! Sou sua mãe e exijo respeito!- ela grita apontando o dedo na minha cara.

- Você quer que eu me afaste do cara que eu amo?- grito com ela.

- O cara que você ama é um drogado!- ela grita e eu a olho incrédula.- Com todo respeito, eu adorava Clarissa, mas Sebastian sempre foi estranho…

- Com todo respeito? Que respeito, mãe?- digo e ela me olha com raiva.

- Basta.- ela se recompõe.- É isso. Você está proibida de ter qualquer contato com aquele garoto, e isso não terá mais discussão!- ela diz autoritária.

- Isso é o que vamos ver, mamãe!- digo e subo para meu quarto ouvindo-a gritar comigo.

Ela está ficando louca, só pode. Não era ela que confiava tanto nele no começo, aí só porque o menino é viciado, e por sinal está tentando melhorar, ela não quer mais que eu veja o menino? É isso?
Então vamos ver, mamãe. Vamos ver se você vai me impedir de vê-lo.