Part 1

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Primeiro havia sangue. Pequenos respingos vermelhos sobre o gramado verde. Depois, ao longe o som dos alunos que conversavam no pátio antes que se iniciasse o quarto período. Por último, o corpo magro do garoto encolhido junto ao muro.

Ele já estava cansado de vir parar ali toda vez que fechava seus olhos. Ele já estava exausto de balbuciar sempre as mesmas palavras e aquela pessoa não levantar o rosto para olha-lo. E ele estava desesperado por saber que sempre chegaria tarde demais.

_Pan?

Ele estendeu o braço, mas o garoto parecia estar muito distante, longe demais para ouvi-lo ou ser tocado por ele. Ele tentou mais uma vez, mas parecia que sua garganta estava trancada e sua voz saia como um murmúrio baixo, inaudível. Agora ele começava a sentir o pânico aumentar, ele queria poder fazer alguma coisa, mas diante daquela situação tudo estava acabado, não havia nada mais para ser impedido de acontecer.

_Pan!

Dessa vez ele gritou o mais alto que pode e foi então que sentiu alguém sacudir seu ombro de leve, despertando-o de seu pesadelo:

_O Dr.Montana está pronto para atendê-lo.

Bok olhou para o café que havia derrubado em si mesmo enquanto cochilava e depois para o rosto da jovem ao seu lado, como se pedisse uma sugestão à ela sobre o que deveria fazer. Ela sorriu gentilmente e disse:

_Tem um banheiro no fim do corredor.

Ele agradeceu e meio trôpego foi em direção ao cômodo, xingando mentalmente a si mesmo por ter adormecido enquanto segurava uma bebida quente.

Depois de lavar o rosto com água fria e de tentar limpar suas roupas e o terno que valia o suficiente para fazê-lo sentir remorso caso o tivesse estragado, ele voltou a recepção.

A secretária continuava lá e como ele ainda não sabia para onde ir, mais uma vez recorreu a sua gentileza:

_Onde fica a sala do doutor?

Sorrindo ela lhe disse para seguir reto e entrar na primeira porta a direita. Enquanto seguia as instruções, Bok não pode deixar de pensar que ela deveria acha-lo um maluco completo. Porém ele sabia que havia dado motivo para tal impressão de si mesmo: acordara berrando em plena sala de espera de um psicólogo. Ele também pensava o mesmo, só que era orgulhoso demais para admitir.

Memórias de uma mente em devaneiosWhere stories live. Discover now