white wings • au!cashton

Me and you against all worlds!

— Você vai pagar por isso, anjo.

O sorriso demoníaco não abandona a face de Michael Clifford. Ele me observa cautelosamente ao recolher suas roupas no chão, rindo de forma misteriosa ao deixar o quarto. Minha mente repete suas palavras em um loop angustiante e é impossível deixar de me perguntar se a escolha do pronome foi apenas uma coincidência ou se ele de fato desejava me atingir ao me chamar de anjo. Não posso deixar que estes pensamentos me embaralhem a mente agora.

O choque dura apenas alguns segundos. Os soluços de Calum chegam aos meus ouvidos e eu me lembro de que tenho questões maiores com as quais me preocupar no momento. Aproximo-me dele na cama. Suas costas estão coladas na parede e ele está encolhido, abraçando as pernas e escondendo o rosto entre os joelhos. Meu estômago dá uma volta, afundando-se em preocupação. Com cuidado, toco em seus cabelos molhados pelo suor e vejo-o se assustar minimamente, logo levantando a cabeça e abrindo os braços para que eu o abrace. Espanto-me com seu gesto, mas não demoro a abraçá-lo, envolvendo meus braços em seu tronco descoberto.

Suas lágrimas molham minha camisa e eu não me importo nem um pouco. Eu apenas quero protegê-lo. Isso é tudo minha culpa. Eu não deveria ter me distraído com Frank, não deveria ao menos tê-lo permitido vir a esta festa. É minha culpa. O tempo não congelou quando deveria — Calum estava em uma situação de perigo e eu não tive a chance de salvá-lo, pois não tenho mais meus poderes. De que adianta, afinal? De que adianta ter um anjo da guarda como eu? Alguém que não consegue salvar seu protegido; um impotente.

Calum está tremendo. Tiro minha jaqueta e embalo seu corpo, mas o que ele sente não é frio. Tento dizer a ele que tudo ficará bem, mas seus soluços estilhaçam meu coração. Repito isto como um mantra. Seu choro embala minha mente como a música mais triste já ouvida. Tento me manter firme por ele, mas é impossível. É um pecado que alguém tão precioso tenha que passar por tal sofrimento. Se eu não tivesse aparecido em sua vida, as coisas seriam diferentes? Se eu tivesse voltado no tempo e apagado de sua mente o momento em que apareci em seu quarto, ele estaria bem agora. Eu não deveria ter sido egoísta, não deveria ter feito um acordo com a Morte.

Eu mal posso acreditar que Michael tenha tentado fazer uma coisa daquelas. Um ato de tamanha atrocidade, praticado somente por reais monstros. Forçar alguém a fazer algo contra vontade é algo horrível, independente da circunstância. Não importa se vocês estão em um relacionamento ou não, as vontades devem ser respeitadas.

— Calma, meu amor — pronuncio calmamente. Suas lágrimas ainda molham minha camisa e ele aperta seu corpo contra meu peito como se tivesse medo de que eu o abandonasse. Quando digo isso, ele levanta o rosto na direção do meu, de modo que seus olhos estão na altura de minha boca. Vejo o quanto seu rosto está vermelho e frágil. Sinto a dor em cada centímetro dele. — Está tudo bem, ele já foi embora.

Calum se afasta de mim lentamente, sentando-se a minha frente. Seu olhar cai para suas mãos, recusando-se a me encarar. As lágrimas secas em suas bochechas são substituídas por novas, mas, dessa vez, em menor quantidade. Ele respira fundo algumas vezes, tentando se acalmar. Meu coração está pesado. Limpo de meu rosto as lágrimas que nem ao menos me dei conta de terem caído.

— Obrigado por ter me salvado — diz ele. Sua voz soa tão fraca e baixa que é quase inaudível. O modo fragilizado o qual ele pronuncia tais palavras apenas faz com que meu coração se afunde mais. Tenho de morder o lábio para não chorar.

— Não precisa agradecer — minha voz falha e ele nota. Não sei bem como respondê-lo. Calum tenta forçar um sorriso, mas sua expressão parece se tornar somente uma careta de dor mal disfarçada. — Sabe que sempre estarei aqui por você.

— Isso é culpa minha — ele suspira, encarando o vazio. — Eu deveria ter terminado com Michael na semana passada, quando ele fez aquilo com você. Eu não... eu não sei, Ashton, eu apenas...