The guard angel caught out of guard

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Calum e Michael estão namorando há mais de um mês. É estranho. Nunca imaginei que, a este ponto, eu fosse estar tão bem. Para ser bem sincero, acho que estou melhor do que jamais estive — e eu não estou sequer sendo irônico ou mentindo para mim mesmo.

Durante duas semanas, as coisas foram realmente difíceis. Para onde quer que eu olhasse, os dois estavam lá, juntos, com seus corações batendo em sincronia e suas línguas dançando a mesma coreografia. Não havia como fugir. Eu não podia simplesmente abandonar Calum sem proteção somente porque não aguentava vê-lo nos braços de outro. Por mais dolorosa que fosse a situação, eu precisava encará-la. Por mais que as lágrimas me embaçassem a vista, eu precisava dar um jeito de enxergar as coisas com clareza.

Calum entrava pela janela todos os dias na exata mesma hora da madrugada. Como havia prometido a ele que não estaria presente durante seus momentos íntimos com Michael, eu o esperava em seu quarto, estirado em sua cama enquanto contava cada segundo até sua chegada. Quando ele aparecia, com seus lábios inchados e os fios de cabelo bagunçados, meu coração se agitava intensamente. Calum se sentava a minha frente, um longo suspiro escapava-lhe os lábios, um gigantesco sorriso aparecia; então, em seu melhor tom apaixonado, ele narrava todos os momentos compartilhados com o namorado.

Eu não me sentia triste. A empolgação com a qual ele falava sobre Michael me contagiava. Eu me sentia como um verdadeiro adolescente, confidenciando segredos nas madrugadas e me surpreendendo tanto quanto Calum com suas descobertas da sexualidade. Apesar de meu coração se enterrar cada vez mais fundo ao notar os sentimentos de meu protegido se intensificando rapidamente, eu me sentia verdadeiramente feliz por ele. Eu não me importava se Calum estivesse com Michael, desde que ele estivesse bem.

As madrugadas sempre terminavam da mesma forma: Calum me pedia algum conselho a respeito de seu relacionamento e eu opinava de forma sincera e imparcial, na esperança de que as inseguranças abandonassem seu coração tão puro. Então, antes de nos deitarmos, ele plantava um beijo no topo de minha cabeça. Eu beijava-lhe a testa, envolvendo-o em meus braços. Ali, eu sentia que as coisas estavam certas; era como se nada mais no mundo importasse além do garoto precioso que dormia no aconchego de meu abraço. Nesses momentos, eu sentia que o Destino estava finalmente tendo piedade de minha alma condenada.

Gradativamente, as coisas foram mudando. Calum passou a chegar cada vez mais cedo, até que não estava mais tendo de pular a janela, pois ainda era cedo demais e ele podia passar pela porta sem se preocupar com o sermão de seus pais. Nossas conversas da madrugada se tornaram conversas de fim de noite, adquirindo cada vez mais um teor melancólico. Eu sentia seu coração se esfriando, a paixão murchando aos poucos até se tornar nada além de uma pequena pétala sem cor. Apesar disso, ele não admitia que já não gostasse mais tanto assim de Michael.

Uma noite, Calum disse algo que não saiu de minha mente:

— Michael e eu não vamos durar muito — entonou ele. Àquele dia, notei o quanto Calum Hood havia amadurecido em tão pouco tempo. Suas palavras não eram carregadas de drama ou sofrimento, mas sim puramente verdadeiras. O sorrisinho triste direcionado a mim não era por saber que seu relacionamento estava fadado ao término, contudo, eu não pude decifrar seu real significado. — Quando estamos juntos, sinto que sua mente não está comigo. Quando me beija, sinto que deseja estar com outra pessoa. Michael procura em mim um outro alguém e ambos sabemos que eu não estou correspondendo às expectativas — ele deu de ombros, levemente afetado. Notei que ele já havia remoído aquilo em sua mente muitas e muitas vezes antes de estar pronto para dizer em voz alta.

Era como se, naquele momento, Calum tivesse finalmente aceitado a verdade: ele nunca amaria Michael. A pessoa pelo qual ele havia passado tanto tempo apaixonado não passava de uma idealização de sua mente, criada com base no personagem que Michael insiste em interpretar todos os dias. Por trás da máscara, não havia príncipe encantado algum.

white wings • au!cashtonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora