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O avião havia descolado à cerca de uma hora e eu encontrava-me a ouvir musica enquanto tentava escrever no meu diário. Algo que sempre fora tão fácil para mim tinha acabado de se tornado na pior tarefa do mundo devido ao olhar que queimava sobre mim. Olhar esse que, obviamente, provinha do rapaz que se encontrava a meu lado. No início ainda ignorei, mas uma hora depois ele ainda não se tinha cansado de olhar. Decidi, então escrever em letras grandes no meu diário para ele ler. 

"Querido diário, explica-me por que razão tenho um estranho a meu lado a olhar fixamente para mim". Consegui ouvir um pequeno riso mas continuei a sentir o seu olhar em mim o que já me começava a irritar. Farta das suas ações, decidi tomar uma atitude, tentando não me irritar muito, visto que se eu no meu estado normal já sou má, então no meu estado irritada era capaz de fazer o avião cair porque nem sempre consigo controlar os meus impulsos. Fechei, então, os olhos e contei até trinta respirando fundo no fim da contagem.

- Mas qual é o teu problema caralho, tenho escrito "olhem para mim" na testa, seu atrasado?- perguntei-lhe irritada, bastante irritada.

- Desculpa? Não percebi o que disseste não sou... português? É isso?- respondeu com um sotaque meio britânico meio americano, por isso deduzi que ele fosse australiano e não uma mistura de inglês e americano.

Rolei os olhos com a sua resposta e endireitei-me no banco do avião de modo a encara-lo com o objetivo de lhe responder. Contudo, o meu coração enloqueceu e começou a bater num ritmo frenético assim que olhei para os esbelto par de olhos azuis daquele estranho. Ajuda, chamem o 112 aéreo, estou a ter um ataque cardíaco! Deixem estar, eu não farei falta! Ou então deixem aqui o borracho de olhos azuis fazer-me respiração boca a boca. Pensei eu vidrada no rapaz que, com um sorriso de lado, estalou os dedos à frente dos meus olhos para me trazer de volta à realidade. Abanei a cabeça, um hábito meu, para esquecer aqueles pensamentos parvos.

-Entendeste o que te disse?- fitou-me.

-Claro, estou na merda de um avião a caminho de Londres, por isso, acho que tenho de saber falar inglês, não achas, inteligência?- Respondi-lhe em inglês para que me entendesse.

-Desculpa lá fera, não quis ofender.

-Já acabaste? É que caso não te tenhas apercebido eu estava a escrever e a ouvir música! Ainda bem que te vais calar- Disse-lhe.- Obrigada pela compreensão.- acrescentei antes de ele ter tempo  de responder.

-O que te leva a pensar que me vou calar?- inquiriu com um pequeno sorriso a formar-se naqueles lábios perfeitos. Espera, aquilo é um piercing no lábio?

Internem-me estou a ficar com pensamentos muito alegres e eu não sou assim, essa não sou eu. "conceal, don't feel, don't let them know" cantei baixinho para mim mesma.

-Então? Sou assim tão lindo para me estares a comer com o olhar?- perguntou, certamente, divertido por eu estar a olhar fixamente para ele.

Fechei os olhos com força e respirei fundo pela milésima vez neste dia. Mas quem é que ele pensa que é para me dizer uma coisa assim, para além de me irritar e provocar? Que mal fiz eu para merecer isto? Ele já está a abusar um bocado, se eu me enervo faço um escândalo e o avião cai mesmo, e ,embora não me pareça assim tão má ideia, sei que não o devo fazer.  

Desde quando é que te importas com aquilo que deves ou não fazer Emily? Perguntou-me uma das minhas vozinhas interiores fazendo-me explodir, quase por completo.

-Ó seu otário de merda, vai-te foder e deixa-me em paz- gritei incomodando os outros passageiros que me olharam com caras de maus. Mostrei-lhe o dedo do meio ao miúdo e pus os meus fones aumentando o volume da música.

DarknessWhere stories live. Discover now