Capítulo 10

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GISELLY

Naquele mesmo fim de tarde de quietude, cogitava sobre olhos verdes e os mistérios daquele cara — a imagem dele martelava ácida na minha cabeça.

A sincronia das batidas na porta do quarto me arrancou de minhas atividades ponderativas. Mantive-me em postura adequada na mesa da escrivaninha, e atendi ao chamado com tom alto de voz.

— Oi. Está ocupada? — era minha mãe.

Meu rosto corou pelo acanhamento. Me sentia péssima pela nossa discussão de ontem, a qual eu agi de forma grotesca. Envolvida pelo sentimento de raiva e angústia.

— Não, eu só estou colocando umas atividades escolares em dia. — tentei soar mais neutra possível.

Notei que estava com seus cabelos muito bem penteados e usava uma maquiagem típica para um jantar formal. O vestido florido acentuava com o tom caramelo de seus olhos. Em paridade eu apreciava a sua autoestima, pois a satisfação era evidente em seu semblante, contudo eu estava inquieta com a sua rápida adaptação.

Ela se aproximou de mim um pouco incerta.

— Filha, sobre ontem...

— Me desculpa mãe. — eu falei antes que ela pudesse prosseguir. — Eu estava com raiva e por conta disso fui egoísta e falei aquelas coisas para você.

— Não... Fui eu quem não deveria ser insensível – ela aproximou-se mim. Podia sentir o forte aroma de seu perfume importado — Mesmo sendo a única que entende tudo o que você passou, fui quem menos te apoiou. Talvez eu tenha me envolvido tanto com a mudança, que eu acabei me descuidando de você.

Aquele último sentimento era recíproco.

— Talvez não devêssemos nomear culpados agora. — eu aconselhei, sentindo um peso muito grande se esvair dos meus ombros. — Podemos virar essa página.

— Eu concordo.

Ela abriu os braços me convidando para um abraço caloroso. Aquele era o toque que meu corpo clamava, e minha mãe o concedeu com muito amor.

— Mãe?

— O quê?

— Qual foram os resultados dos seus exames? — indaguei direta e sem rodeios.

Ela mirou meus olhos. Pude ver sua expressão se alterando para um triste olhar vagante.

— Não vou mentir; não foi exatamente o que eu esperava — desabafou.

Seu inicio de fala foi o suficiente para congelar meu coração. Um nó se formou em minha garganta.

Deixei que ela prosseguisse.

— Precisei refazer todos os exames, pois os remédios que me foram passados no hospital da nossa cidade, podem ter cooperado para agravar a minha condição. — iniciou, acomodando-se na minha cama. — Tenho um quadro persistente de bronquite. Este causa um estado permanente de inflamação nos pulmões, sendo assim diminui a circulação de oxigênio no sangue, tendo grande um potencial para interromper de vez a minha respiração. — por um momento ela riu com o próprio argumento. — Eu finalmente consegui memorizar tudo o que o médico disse.

— Não tem graça. — a repreendi.

— Eu sei.

— Quanto tempo leva para recuperação absoluta? — questionei.

Escondia por trás do olhar o pavor diante aquele resultado. Sua doença era inquietante e perigosa. Meu coração falhava a cada batida.

— A este ponto é irreversível.

Pedaços De Nós (Entre Desejos & Segredos)Where stories live. Discover now