Capítulo 07

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GISELLY

Minha mão sangrava, impregnando o ambiente com um cheiro metálico atordoante. Ele tornava tangível toda minha angustia. A dor martelava sem misericórdia como um corpo em combustão.

O espelho — que antes estava rachado — se encontrava em pedaços sobre o mármore da pia.

Ajoelhei-me e respirei fundo, sendo devorada pela intensa dor. Receava pronunciar seu nome, mas o meu coração rasgava por ele. Eu precisava encontrar forças para superar sua ausência precoce. Era necessário, eu sabia disso. Mas na prática, não era simples. Ninguém entendia que por dentro, tudo estava desmoronando.

Levantei-me do chão e fui mais uma vez até a pia, enchendo as minhas mãos com água fria e a atirei no meu rosto. Fiz engolir aquele choro, repetindo incessantemente a mim mesma que eu precisava superar.

Alguns minutos após, estava decida a sair daquele banheiro antes que fosse flagrada por alguém. Porém, previamente alguém já tencionava entrar por aquela porta e então, contra minhas idealizações me encontrei face a face com seus olhar de pena importuno.

Sem medir tempo, ultrapassei seu corpo magro, mas novamente ela foi mais ágil e me conteve, segurando em meu pulso. Meu corpo endureceu subitamente.

Eu a encarei.

— Giselly, espere... — sussurrava, pois sabia que o eco que aquele corredor evacuado emitia a delataria. — Me desculpa. Eu não tive a intenção de tocar em um assunto delicado.

Kendall portava na íris um olhar pálido e sincero, embora eu não estivesse interessada nas suas desculpas e menos ainda na sua pena.

Me solta — falei, me limitando a sua ideia.

— O que está havendo aqui?

Era a diretora Sandra.

Poderia haver alguma palavra que revertesse o olhar amargo daquela profissional diante um possível confronto entre duas alunas — uma delas segurava o braço da oponente, a fim de ganhar vantagem, e a outra, continha sangue escorrendo na mão direita e no olhar lágrimas incessantes —, mas talvez não soasse convincente no momento.

— Já para minha sala. As duas!

...

Minha mãe possuía uma expressão desgastada perante sua convocação a escola no meu primeiro dia de aula.

Meu espírito martelava incessante diante a curiosidade acerca do que ela e a diretora Sandra discutiram. Possivelmente um assunto desagradável. Que outra explicação para minha mãe apossar-se de um olhar distante e evitar contato comigo durante o nosso trajeto dentro do táxi?

Uma pontada de ódio me invadia.

— O que ela te disse? — questionei, decidida a quebrar aquele silencio desgastante.

Ela permitiu que seu olhar caminhasse até mim. Uma expressão indecifrável tomou conta de sua face maquiada.

— O que você tem a dizer para mim? — retrucou um pouco amarga.

— Nada — ela bufou. — Você não tem que se preocupar com isso.

Não? — seu olhar se tornou incrédulo. — Como eu sou convocada a diretoria no seu primeiro dia de aula por conta de uma briga?

— Não foi uma briga.

Orientei a minha atenção para janela do automóvel. Reconhecia a estrada, estávamos chegando a casa. Um alívio prontamente se instalou. Queria me refugiar de minha mãe e suas repreensões.

— Como você explica a sua mão?

Como mágica, a menção fez com que o ferimento latejasse. A atadura — que tinha sido tratada pela competente da enfermaria da escola — estava dolorosamente justa, o que não facilitava o meu padecimento.

— Não foi uma briga. — repliquei.

Não havia comodidade ao conversar a respeito com minha mãe. Ela era aquela que julgava sem pensar. Pouco se importava com o meu interior, desde que meu externo estivesse intacto — e bonito.

— Me diz, então Giselly. Somos uma família.

Família.

Eu ri.

Em que buraco de sua mente estava escondido aquele discurso quando decidiu deixar tudo para trás para morar com um cara que eu mal conhecia? Ela sabia que eu estava buscando sem descanso soluções para melhorar a nossa vida. Eu ia conseguir, mas ela não acreditou que eu fosse capaz.

— Fui eu... — contei, pronta e afiada para encarar uma afronta de minha mãe — Eu fiz isso, mãe.

— Mas para quê? — indagou assustada.

— Para mitigar o que eu estava sentindo. — um gosto salgado subiu pela garganta, eclodindo a superfície dos olhos. Mas eu não ia parar — A dor que eu sinto dentro de mim, nem ao menos se aproxima da dor de levar um tiro.

— Elly, essa não é a melhor forma de resolver as coisas. Você deveria...

— O que? — a provoquei. — Fazer como você? Tomar decisões ruins para condições péssimas?

Ela logo encarou e compreendeu o que eu pretendia com aquela acusação.

Vi seus lábios entreabertos, pronta para dizer algo. No entanto havíamos chegado a casa. Desci do carro e a deixei falando sozinha.

Segui depressa, não querendo ser alcançada. As lágrimas caiam em minhas bochechas queimadas pelo frio. Era impossível respirar, depois de ser tão intratável com minha mãe. Uma fração de culpa se apossou de mim.

Subi a calçada da casa, quando alguém me atropelou com o corpo desordenado. A força não foi suficiente para que eu caísse, mas eu senti uma forte dor do peito acompanhado do ar que escapulia do meu pulmão.

O fato de eu me contorcer de dor não foi suficiente para o rapaz me acudi.

Em milésimos tive a panorama de seus olhos irritadiços e de aspectos afiados. Tentei analisar um pouco mais, porém ele desviou sua direção. Como um vulto continuou andando desconcertado e eu pude ver sua silhueta sumir no horizonte.

É cada um que aparece.

Bufei, ainda sentindo a dor do impacto acompanhado do desconforto de minha mão. Olhei para a mesma, temendo que o sangue tenha escapado pelo curativo, embora outra coisa tivesse atraído minha intenção; um cartão retangular tingida por uma cor branca.

Me apossei do objeto surrado. No letreiro, havia um nome quase ilegível grafado.

Jeremy Styles.

    

    

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Pedaços De Nós (Entre Desejos & Segredos)Where stories live. Discover now