73● Com o tempo vem a saudade

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Queria simplesmente acordar e ter como preocupação apenas a implicância da Lu, queria me sentir furioso com a astúcia dela e impaciente com sua teimosia. Queria todos os dias ir até sua casa só para a irritar, e depois de uma boa briga beijar sua boca apenas para a fazer se calar. Mas a Luiza ja não falava mais, ela ao menos conseguia me olhar com seu jeito de quem sabia tudo o que eu estava pensando. Eu ao menos podia abraça-la.

Me sentia um inútil, e um monstro por tudo o que fiz com ela. Tivemos tanto tempo que desperdicei por teimosia, e ela sempre, independente do que eu fiesse ou dissesse ficou ao meu lado. Porque mesmo por baixo daquela marra toda a Lu era gentil, e me amava. Ela cuidou de mim e me mostrou que eu não era um ser tão terrível como pensava. Me mostrou que de nada valia ter várias garotas e não ser feliz, me fez enxergar o quão orgulhoso sempre fui, quando na realidade só precisava abrir meu coração. E agora, sozinho e sem ninguém tão relutante quanto eu ao meu lado, só conseguia me sentir vazio, desamparado e confuso, tentava não pensar em como seria sem ela, mas sabia que precisava imaginar. E quando permitia me pegava a beira do desespero, a verdade é que não restaria nada se a Lu se fosse, eu não era do tipo que se confortaria com lembranças boas, eu queria ela viva e nada mais.

Me levantei sentindo meu corpo doer, não era mais a dor constante que o tumor causava, mas sim uma dor exaustiva. Meu cabelo tinha crescido novamente e meu corpo ja não ostentava as marcas de agulhas, eu simplesmente me restaurei. Inteiro por fora, devastado por dentro:

- Vai acabar surtando. - ouvi Ick dizer as minhas costas e bufei irritado por ter deixado a porta aberta - Não pode passar todas as noites em claro.

- Posso sim - continuei olhando pela janela e me lembrando do dia em que a Lu quase ficou pelada, naquele mesmo lugar - To dormindo a tarde, então não importa.

- Vai tocar no Golden hoje?

- Não, hoje é o Dante. - vivíamos revezando, e nos finais de semana trocávamos juntos - Vou para o hospital daqui a pouco.

- Claro que vai.

Me virei e o vi inquieto, ele se sentou na beira da minha cama e continuou me encarando, como se tentasse desvenda algo. Odiava o super auto controle do Ícaro, eram raras as vezes que o vi sem controle, e me orgulhava por ter sido o motivo dessas revoltas. Não falei nada, apenas continuei de pé esperando que  falasse, até que ele colocou a mão no bolso e tirou duas coisas estranhas e coloridas, jogou na minha direção e por impulso consegui pegar:

- Achei jogados na sala - Ick se explicou, enquanto eu encarava os dois chaveiros que tinha dado para a Luiza, na primeira vez que saímos juntos - Achei que fosse querer.

Eu os tinha jogado na sala, foi no dia em que brigamos e ela foi embora, no mesmo dia que a minha vida e a dela ficaram por um fio. Engoli em seco e os coloquei na minha mesinha, momentos como aquele aconteciam com frequência, eu olhava algo e imediatamente era transportado para outro momento, em um tempo onde éramos felizes:

- Obrigado - falei sincero - Não sei se ela vai querer de volta, mas não custa nada guardar... Trás boas lembranças.

- Como conseguiu eles?

- Ela jogou na minha cara quando terminei com ela - ri me lembrando do quão idiota fui - consegui isso no nosso primeiro encontro forçado, ela me disse que queria um urso gigante mas só consegui ganhar essas porcarias.

EternoWhere stories live. Discover now