Capítulo 13 - Uma louca completamente lúcida

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- Você está diferente Camila.

- Como assim?

- Antes você fedia álcool, não que eu não gostasse, até porque eu já estava acostumada, mas agora sinto o cheiro da sua pele e sei que ela também sente.

- Ainda me considero alcoólatra.

- Você bebia para entorpecer sua mente, hoje quem entorpece é ela.

Parei por um momento, ela não podia ter razão, pessoas não mudam por pessoas, isso seria muito humanitário, pessoas mudam por dinheiro, poder e sexo casual.

- Gostaria de poder fazer verídica essa informação, mas ela não corresponde os fatos.

- Ela sabe como você é na cama?

Engoli em seco, esse assunto era um tanto quanto difícil de ser discutido, ainda mais àquela hora, daquela forma.

- Nunca a beijei.

- Você sequer sentiu o gosto dela e ela te provoca sensações? – Ariana disse surpresa.

- Ela não me provoca sensações, não seja tola. – respondi na defensiva.

- Camila se me permite um conselho, você não sabe onde está pisando e se ela for controladora como você?

- Não me importo.

- Você não se importa em ser submissa?

- Eu não consigo pensar em mais nada no momento, sei que desde que Lauren chegou a minha vida tem sido um tormento, é como flertar com o paraíso e casar com o inferno.

- Ela realmente mexeu com você. – Ariana disse com os olhos marejados.

- Eu gosto de você e te magoar dessa forma também acaba comigo.

Nós duas permanecemos em silêncio, apenas escutando o chacoalhar das folhas, tentando fazer com que aquele momento perdurasse o suficiente para acalmar nossas almas miseráveis e acalentar nossos corações.

- Eu não me importo. – Ariana disse quebrando o silêncio.

- Com o quê? – respondi aflita.

- Ainda quero ser sua.

- Ariana...

- Isso não compete apenas a você, essa é uma escolha minha também.

- Você merece coisa melhor, não se contente com migalhas.

- Suas migalhas são maiores do que qualquer amor que uma simples mulher possa proporcionar.

Ariana era doce e me fazia um bem inimaginável, por isso eu teria que ser dura com ela, afinal tinha razão eu estava mudando e desenvolvendo algo novo em meu interior, algo como empatia.

- Não podemos nos ver mais, eu sinto muito. – respondi com meu coração em pedaços.

- Por causa dela? Alguém que nunca beijou? – ela respondeu com tom de desespero.

- Não apenas por isso, mas sim porque você é ingênua demais para ver a mulher maravilhosa que é e o que pode conquistar se eu não fizer mais parte de seus pensamentos obscuros.

Ariana me fitou e entrelaçou seus lábios nos meus, deixei sua língua percorrer cada canto da minha boca, enquanto nossas mãos aflitas buscavam espaços em nossos corpos, beijá-la era cômodo e ao mesmo tempo ardente, mas eu queria mais e sabia que ela merecia também.

Assim que parou de me beijar, levantou-se e seus lábios murmuraram:

- Eu amo você.

Foi embora deixando-me ao relento, com o coração frio e a alma gélida de alguém que tem coragem de partir corações, mas que não pode se impor frente a uma mulher qualquer, que trocou moradia por sexo e emprego por comida. Era como viver em um maldito inferno, se por um lado sabia que aquilo era abrupto, por outro não poderia deixar a empresa a mercê de escolhas sentimentais, de um coração que até ontem eu mal sabia que tinha.

Como diria Edgar Allan Poe, quando um louco parece completamente lúcido é o momento de colocar-lhe a camisa de força. Apesar do fatídico acidente da minha família, sempre me prendi as minhas loucuras, o que tinha vontade de fazer eu fazia, sem ligar para as consequências. Entreguei-me ao álcool e a todos os meus anseios, com a ciência de minha imortalidade, mas também da minha maldição. Eu e Deus tínhamos esse pacto mutuo, no qual viveria o restante dos meus dias, jogada na superficialidade e ele se contentaria com a minha miséria. Nunca imaginei que encontraria alguém que me fizesse sentir viva, até adentrar aqueles malditos olhos verdes.

Se para um poeta o amor torna sua sobrevivência, para mim seria a tragédia, Christopher e a empresa precisavam da minha ajuda e eu precisava da pele e do cheiro daquela mulher, como se ela fosse a musa de minha vida podre e inexistente. Os pássaros que cantavam em coro, eu já não podia acompanha-los, aquilo não era um filme da Disney e eu era meu próprio lobo mau, o que me assustava é que Lauren estava longe de ser a chapeuzinho vermelho.

Senti minha garganta secar e daria tudo para ter um copo de álcool, o tempo estava cada vez mais frio e meu coração mais seco, fazer escolhas sempre foi o meu calcanhar de Aquiles e quando tudo estava aparentemente certo, era o sinal que tudo iria desmoronar. Passei os olhos pelas mensagens do meu celular, querendo encontrar respostas, algum sinal divino ou infernal, já que os demônios pareciam flertar ainda mais comigo.

Mãe diz: Sofi eu amo você, estou com saudades.

Ela não podia apenas me chamar de filha? Minha vontade foi quebrar o celular em mil pedaços e sumir para um lugar onde eu realmente chamasse Sofia e fosse uma pessoa digna de misericórdia e perdão. Me dei por derrotada e passei para a próxima.

Lauren diz: Só Deus sabe o quanto eu queria te abraçar agora e te proteger dos seus próprios pensamentos.

Não era possível... Olhei para todos os lados e não tinha ninguém além dos pássaros, folhas e escuridão.

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Atualização de segunda a sexta!

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