"O pássaro verde me contou"

13 2 5
                                    


Mary acordou num solavanco, seu corpo inteiro doía e ela tinha absoluta certeza de que havia milhares de folhas em seu cabelo. A garota falhou miseravelmente em tentar melhorar sua aparência. Tinha a vaga impressão de que havia dormido em alguém, talvez fosse um sonho. Hãnsel já não estava mais ali e a fogueira já tinha cessado, Mary supôs que ele havia saído cedo para buscar alimentos, mas levou um susto quando o garoto apareceu atrás de uma árvore.

– Bom dia, bela adormecida! – Disse alegremente.

A garota gritou tão alto que acordou os outros. Hãnsel queria entender como um pedaço de galho havia parado em seu rosto em poucos segundos, infelizmente não conseguiu desviar. Moon também se assustou e decidiu subir em cima da árvore mais próxima. Os meninos riam escandalosamente, quando Mary percebeu o que havia feito se desesperou.

– Não me perdoe. Quer dizer... Não, me perdoe! – A loira foi até ele avaliar seu ferimento. – Aaah, cara. Me perdoa, me perdoa, me perdoa mesmo.

– Você deveria para de me atacar. – Brincou, recebendo uma lágrima de Mary. – Está tudo bem, nem doeu!

Sim, havia doído. Se teve algo que machucou Hãnsel na última década foi aquele maldito e insignificante graveto. Ele deixou ela lhe fazer um curativo rápido já que havia cortado-o perto do olho, quando foi a cidade conseguiu arranjar quatro mochilas e alguns suprimentos para todos.

Jonny estava mapeando toda a área da cidade, ele e Will resolveram continuar com o livro antigo e todas as tralhas misteriosas que nele continha, agora parecia ajudar. De acordo com ele os quatro estavam pouco mais a leste do centro da cidade, descobriram mais tarde que não deveria ser o centro só por quê literalmente estava no meio.

– Uou! Esse lugar fede. –Disse Mary.

– Você meio que está em cima do esterco. – Hãnsel achou melhor avisar, fazendo todos rirem.

Jonny começou a contar histórias que tinha ouvido sobre o lugar enguanto todos estavam sentados sobre um jafariz que já não funcionava há um punhado de tempo. Eles se assustaram ao ouvir um barulho parecido com o de antes, tão assustador quanto, e Jonny se desequilbrou indo parar dentro do jafariz soltando um grito ridículo quando deu de cara com a estátua de Helssen de La Rosa.

– Foi mal gente, foi eu. – Disse Will passando a mão levemente em sua barriga com uma cara chorona.

Jonny quase deu um soco no amigo quando viu que Mary morria de rir dele, mas Hãnsel o segurou também rindo. Tudo foi disfarçado pelo garoto que comprimentou a estátua ao seu lado como se estivessem apenas batendo um papo entre velhos amigos.

A praça do centro era coberta de pedrinhas e havia barracas antigas abandonadas, a brisa do final de outono trazia consigo um aroma de flores, Mary desejou não esquecer os dias anteriores, o final de tarde do domingo deixou todos entorpecidos de seus afazeres. Eram como quatros jovens que tinham marcado de se encontrar e tomar um sorvete, mesmo que fosse imaginário.

Como se lesse seus pensamentos, um pássaro verde trouxe à tona a confusão em que se meteram.

- A princesa foi perdida, o reino se destruiu, vocês podem consertar. Eu sei que podem!

Jonny e Will se olharam como se estivessem discutimos entre correr ou dizer "nunca nem vi", eles sabiam a verdade e estavam escondendo mais que um livro velho. Já Hãnsel não parecia tão chocado, sorriu para o pássaro em cima da estátua e foi até ele devagar.

– Olá amiga, como tem passado?

– O garoto da casa solitária é a chave.

– Você conhece um pássaro falante? - Perguntou Jonny.

- Você fala a língua dos pássaros? - Também perguntou Will ao mesmo tempo.

– Seu idiota, ele não está falando "passarês" - Respondeu o amigo.

– Quietos, por favor. Esse pássaro é "ela", e apareceu para mim nos três momentos mais importantes da minha vida.

– Ela quer nos dizer alguma coisa, eu a vi na manhã quando fugi de casa. - Concluiu Mary pensando mais um pouco.

Todos se calaram esperando a pequena ave verde lhes contar a boa nova. Se passaram três, cinco, oito minutos, Will pegou um pacote de biscoito e a gatinha de Hãnsel brincava com um monte de folhas trazidas pelo vento.

– Monstros do mal ao sul. Procurem o mago, o mago é amigo.

E então sumiu, tão rápido quanto apareceu.

– O que isso significa? – Perguntou Jonny. – Devemos ouvir o pássaro ou fingir que nada aconteceu e fugir?

Mary não queria ir atrás de um mago numa vila totalmente abandona, entretanto a votação foi unânime. Com a gata em seu colo ela cruzara os dedos para que o cara não fosse conhecido de Pópia, sua mãe iria ficar um tanto quanto irritada ao descobrir tudo o que aconteceu. Primeiro, a enganou para ir ao mercado ambu, depois fugiu sem dar explicações. Havia virado uma fugitiva, agrediu um seja-lá-o-que Hãnsel é, resgatou desconhecidos e foi parar numa casa que ficava literalmente dentro de uma caverna.

Era tecnicamente tudo o que Pópia não queria para ela, o pior de tudo é que a busca de Mary começava por quê queria descobrir sua história. Mas até agora não conseguiu nenhuma pista. Talvez mais tarde devesse contar para os garotos o que realmente quer, eles podem ajudá-la ou deixar que ela vá em busca de tudo sozinha.

Will tropeçou seis vezes durante todo o caminho, mas quando tropeçou pela última vez gritou tanto que pensaram ser monstros.

– É sério que eu tropeçei em uma varinha? Por que raios há uma varinha largada no chão?

Hãnsel observou o objeto sem tocar, todos esperavam uma declaração do garoto. Jonny não falava nada desde que seguiram o caminho, concordando com um "pássaro inútil", como se referiu a entregadora de notícias. Will pediu-o para que não culpase o mensageiro, mas sabia que algo a mais o incomodava.

– A varinha está apontando para a casa no fim do bosque, atrás daquela árvore. – Apontou Hãnsel.

– É nesse momento que eu digo que não vou entrar lá e acabou entrando do mesmo jeito. – Choramingou o ruivo.

– Salsicha e Scooby, lembra?

Jonny sorriu para o garoto acalmando-o. Quando pequenos os dois apostavam corrida até em casa, largavam a mochila na porta de qualquer jeito e se jogavam no sofá esperando o desenho favorito começar, enguanto a mãe de Jonny preparava o almoço. Depois de conhecer Hãnsel, o garoto teve um bugue de acordo com o tempo, parecia mesmo que aquilo havia acontecido há séculos, mas Hãnsel com aparência de um garoto de quinze anos tinha realmente séculos de vida.

– É, nós vamos entrar... – Falou Mary nada convincente.

Hãnsel lhe lançou um sorriso travesso como se estivesse invadindo o quintal do vizinho com os amigos.

As Crônicas da LoucuraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora