"O corajoso herói que caiu num buraco"

13 2 1
                                    


Mary não sabia como explicar a situação para os demais. Não era tão simples contar que foi criada por um fada e em busca de sua identidade acabou cometendo alguns (talvez muito mais) crimes. Não que ela tivesse vergonha de seus delitos, saira ganhando todas as brigas mesmo.

– Eu proponho o jogo do conhecimento! – Disse Will um pouco mais animado do que devia.

Jonny arregalou os olhos fixados no ruivo, queria muito poder gritar "CÊ TÁ É LOKO?", mas se conteve apenas com um sorrisinho desesperado. Hãnsel percebendo toda aquela troca de olhares, também olhou para Mary indicando que ela não deveria aceitar.

Will riu maleficamente, palavra inventada para (quase) todas suas expressões. Foi até o andar de cima enquanto todos estavam na sala evitando não se encarar... De menos Jonny que olhava pra Mary sem nem piscar. O ruivo trouxe um tabuleiro e explicou para todos como o jogo funcionava. A cada rodada uma pessoa jogava o dado, andava as casa necessárias e a cor onde parava continha uma pergunta sobre si mesmo, era obrigatório contar a história do ocorrido logo após a resposta. Hãnsel foi quem começou, sorriu pois tinha parado na cor preta.

– Qual a sua maior decepção? – Jonny perguntou não tão feliz tirando a carta correspondente. Hãnsel congelou.

– Eu sou uma coleção de decepções! – Ele brincou. Todos o olhavam esperando a resposta.

– Tudo bem se não quiser falar, Hãnsel. – Interrompeu Mary, mas ele sabia que iria ter que falar.

– Foi quando eu descobri que minha mãe se fora esperando um filho que nunca voltou para casa. Eu não pude nem me despedir.

– Sinto muito por isso. – O ruivo se desculpou, e o garoto estranho riu, fingindo estar bem.

Era a vez de Mary, que hesitando, jogou os dados.

– Qual foi o maior delito que você cometeu?

– Tenho para mim que foi fugir de casa, mas ainda sim eu não me arrependo. – A loira respondeu recebendo olhares duvidosos.

– Tem que contar a história, Mary. – Disse Will.

– Mas o Hãnsel não contou! – Jonny a defendeu.

– Queriam mesmo ouvir sobre como meu pai me sequestrou por anos, deixando minha mãe morrer sozinha?

Ninguém respondeu.

– Tudo bem, eu vou contar. Eu não sei quem são meus pais, fui criada na floresta por uma mulher,
longe de tudo e todos. Eu fugi por que queria saber mais, sobre o mundo e sobre mim mesma.

– Uau, temos uma aventureira! – Falou o ruivo arrancando risadas dos demais, incluindo Mary.

– Minha vez! – Jonny jogou os dados parando na cor azul, olhou para Will esperando sua pergunta.

– Um momento constrangedor?

Os outros três o encararam com a cabeça apoiada sobre as mãos, Jonny era o mais quieto entre eles, e de fato o que mais queria se esconder naquele momento.

– Eu tinha acabado de sair da escola com meu melhor amigo e encontrei a garota por quem eu tinha uma paixonite sendo agarrada por um professor. Aí então eu peguei um graveto que estava no chão para incrivelmente ser o herói do dia, mas ao invés de acertar o professor eu acertei a menina, ela me xingou e mandou eu fazer algo útil. Foi quando larguei a mochila no chão e corri para salva-la...

– Correu sim, mas sem olhar para o chão. O pobre coitado caiu dentro dum buraco! – Completou seu melhor amigo.

Hãnsel caiu na gargalhada logo de cara, todos começaram a rir também e Mary colocou a mão em seu ombrol como consolo.

As Crônicas da LoucuraWhere stories live. Discover now