Eclipse (Drarry)

Capítulo 14 - Ponto de Ruptura

O dia amanheceu claro e quente, mas o único ocupante da barraca perto do rio ainda roncava suavemente. Um zumbido em sua orelha o fez se mover, mas ele simplesmente se aconchegou melhor na capa macia e voltou a roncar. Algo passou em sua bochecha, e ele tentou esmagá-lo por reflexo, mas não abriu os olhos. Quando o mosquito pousou no nariz de Harry e o picou, ele lhe deu um tapa.

O tapa na cara o acordou na hora, e ele se sentou, piscando com a claridade da manhã.

"Droga de inseto", ele resmungou, esfregando o nariz, que agora coçava e doía. Ele suspirou e olhou para seu companheiro. "Bom dia, Dra-".

Ele parou. A barraca estava vazia. "Draco", ele sussurrou.

Colocando seus óculos com pressa, ele se levantou, cambaleando e quase derrubando a barraca no processo. Ele estava preste a gritar o nome de Draco quando o viu, e isso o fez parar.

Draco estava de pé na parte rasa do rio, olhando para a outra margem. Suas calças estavam enroladas até o joelho, e a água chegava até suas canelas. Ondas do rio batiam em suas pernas e em outras ondas, brilhando com a luz. Ele estava só de camiseta - Harry notou o suéter azul na margem do rio.

Draco deu um pequeno passo à frente, fazendo ondas maiores no rio calmo. Enquanto ele se movia, Harry podia ver seus ombros ficando tensos por baixo da camiseta. Ele colocou o outro pé ao lado do primeiro, e parou de novo. Mesmo que Harry não pudesse ver seu rosto, ele podia imaginar. Draco quase fechava os olhos cada vez que dava um passo. Então, quando parava de novo, ele abria bem os olhos, observando tudo.

Com o sol, a floresta toda parecia estar mais viva e verde. O ar não estava úmido, mas também não estava seco demais. O vento estava calmo, como se a manhã prendesse a respiração enquanto cumprimentava o dia. O único som era o fundo familiar de água correndo, e o ocasional zumbido de um mosquito.

Harry coçou o nariz.

Ele observou Draco por mais alguns segundos antes de se decidir. Ele chutou os sapatos para longe - apesar de ouvir em sua mente a voz de Draco lhe dizendo para desamarrar os cadarços antes - tirou as meias e enrolou as calças.

O orvalho da grama grudava em seus dedos, e seus pés estavam molhados antes de ele calmamente entrar no rio. Ele parou ao lado de Draco.

Draco agiu como se soubesse que Harry estava ali o tempo todo, o olhou brevemente, e lançou a ele um sorriso e um aceno de cabeça. Harry achou que tivesse sentido um "por que demorou tanto?" Em algum lugar, mas era retórico. Draco então olhou de volta para a floresta.

Harry seguiu o olhar de Draco, se perguntando se ele estava olhando para alguma coisa em particular. Ele rapidamente percebeu que não havia nada especifico - apenas tudo. O pensamento o fez sorrir, e ele olhou de volta para Draco e viu o mesmo sorriso pensativo em seu rosto.

"O que você acha?" Harry perguntou num sussurro, como se algo mais alto não fosse permitido.

Draco não olhou para ele quando respondeu. "Eu acho lindo".

Harry não tinha certeza de como Draco ia agir, depois da experiência no rio. Poderia ser um pouco estranho para ele. Talvez Draco não quisesse falar sobre ela, ou talvez ele se fecharia, por desconforto por ter se exposto tanto. Ele poderia até ficar irritado. O resultado poderia ser diferente.

Draco não mencionou o incidente de novo. Era como se o tempo passado no rio tivesse sido em um lugar e tempo diferentes, e Draco continuou como se nada tivesse acontecido. Quase. Draco não agia muito diferente de antes. Ele ainda insultava Harry de vez em quando, só por diversão, e ainda contava longas histórias sobre fatos mágicos. Ele se divertiu muito quando Harry tropeçou num galho e caiu numa poça de lama, e riu enquanto curava os ferimentos de Harry. Harry franziu a testa. Ainda assim, algo havia mudado. Eles estavam mais próximos, de algum jeito. Mesmo que nenhum dos dois falasse nisso, era óbvio, e Harry se sentia estranhamente reconfortado. De algum jeito, ele sabia que Draco também se sentia assim.