Capítulo 7 - A Hora Mais Sombria

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Não há saída.

Horas se misturaram e, durante o nebuloso período de tempo, esse foi o único pensamento coerente que penetrou a mente carregada de emoções de Harry e o seu corpo varrido pela dor. Não há saída. Aconchegado contra a parede, abraçando os joelhos fortemente contra o peito, cada esforço seu havia sido usado para bloquear todo o mundo cruel e doloroso. A prisão deixara-o mais exausto do que percebera, e a recuperação estava levando muito mais tempo do que pensou que fosse levar. Ou talvez parecesse mais tempo. De vez em quando, algum músculo ao acaso se contorcia involuntariamente, e os fantasmas da Maldição Cruciatus percorriam o músculo e iam direto para a boca de seu estômago enjoado.

Além do espasmo ocasional, Harry não havia se movido uma única vez, recusando-se a estilhaçar a pequena bolha de reclusão que criara para si mesmo. Se sua vigília silenciosa fosse interrompida, seu último fio de sanidade desapareceria, e era só o que lhe restava. Preso, sem sua varinha, sem um aliado, sem uma prece, a realidade da situação finalmente o atingira.

Não há saída.

Harry nunca estivera preso assim. Cada esbarrão com a morte, cada batalha perigosa, cada encontro com Voldemort, havia sido rápido e furioso. Não houvera tempo de se preocupar; meditar em seu futuro próximo. Nenhum pensamento, apenas ação. Pensando bem, essa era provavelmente a única razão pela qual sobrevivera das outras vezes. Desta vez, no entanto, não havia maldições voando, pessoas gritando, nem pânico repentino. Apenas sentar e esperar. Sentar e passar o tempo agonizando por um destino que até agora parecera abstrato de um jeito retorcido.

Desde o ataque ao Ministério na primavera anterior, tinham acontecido tantas coisas abstratas. Pistas vagas do paradeiro de Voldemort, lições extras de Defesa Contra as Artes das Trevas enviadas por coruja durante os meses de verão, tentativas de olhares tranquilizadores de seus amigos; tudo se amontoava nessa teia nebulosa que ele chamava de vida. Os padrões completamente familiares de terror, determinação e esperança; a ameaça constante, mas nada disso parecia completamente real. Havia sempre o conhecimento implícito de que, no fim das contas, tudo dependia dele; mas a fria realidade disso sempre havia sido mascarada por tempo e distância. "Quando chegar...", "Mais cedo ou mais tarde...", "No fim...". Não eram "aqui e agora". Ainda não eram reais.

Isto era real o suficiente, e estava tudo errado. Ele tinha uma imagem mental distante da luta final, como se parte dele já tivesse decidido como ia acontecer, como tudo deveria acabar. A Ordem estaria lá para apoiá-lo, para ter certeza de que ele chegaria ao confronto final. Seria uma batalha, cara a cara, maldições voando, matar ou morrer; exatamente como tinha sido antes. Não deveria acabar assim.

Não há saída.

Onde estava Dumbledore? Onde estava Remus? Onde estava essa maldita Ordem que deveria protegê-lo? Onde estava todo mundo agora que ele realmente precisava deles? Pesquisando, usando cada recurso a seu dispor e se preocupando loucamente, ele tinha certeza, tão útil quanto fosse. Preso numa fortaleza imapeável, e provavelmente escondido por inumeráveis feitiços e escudos, as esperanças de Harry de que mesmo Dumbledore o encontrasse estavam diminuindo a cada hora. Primeiro, no fundo de sua mente, ele acreditara que a ajuda estava a caminho, mas agora ele sabia com uma certeza dolorosa que estava sozinho. Claro, estava acostumado a ficar sozinho. Aprendera com o passar dos anos a contar com seus próprios esquemas, quer sua intuição estivesse correta ou não. No fim, a batalha contra Voldemort deveria ser por conta dele mesmo... Mas aprisionado, sem varinha, sem ajuda...

Não há saída.

Quase houve ajuda. Em algum lugar no meio do caminho, inconscientemente, ele pusera sua única esperança real de escapar em Malfoy.

Eclipse (Drarry)Where stories live. Discover now