Capítulo 3 - Chá Amargo

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Draco assistia à forma imóvel de Harry Potter, contorcendo-se contra a parede da cela e tremeu. O calabouço estava frio. Era assim que as coisas funcionavam, o que não significava que Draco tinha que gostar. Pôs seus pés sobre o recosto da cadeira e apertou o cobertor sobre os próprios ombros. Tinha sido uma longa noite, e ela não acabaria por aí.

Seu chá havia tempos estava frio, deixado intocado no chão a seus pés. Sua mãe sempre se recusara a deixá-lo adoçar o chá (chá adoçado era simplesmente impróprio), e apesar de seu aroma forte, Draco jamais apreciara o gosto amargo. Como ele gostaria de uma bebida um tanto quanto "mais forte" para mantê-lo aquecido - uma que teria abafado os pensamentos ridículos que insistiam em passar por sua cabeça descontrolados.

Por um momento (um ataque de insanidade momentânea, para ser mais exato), ele quase cometeu um deslize e pediu desculpas à Biddy, antes que ela saísse dos calabouços. Ele, Draco Malfoy, desculpando-se para um elfo-doméstico? Absurdo! Mas que era ainda pior, Potter tinha instigado tudo aquilo, apenas para virar as costas para Draco e se enrolar aparentemente adormecido no chão.

Ninguém dava as costas para um Malfoy, e ali estava Potter, calmamente fazendo exatamente isso, como se não houvesse nada no mundo que o preocupasse. Draco considerou apontar a varinha para o odioso cativo, mas com qual finalidade? Torturá-lo? Por alguma razão, a idéia havia perdido a graça. Controlá-lo? Aparentemente isso não iria funcionar. Não, ele queria vencer Potter em seu próprio jogo.

Não importasse a situação, Potter sempre tinha conseguido sair ganhando. Oh, e não era somente Quadribol. Havia a Copa das Casas, o Torneio Tribruxo, cobertura da mídia, fama e fortuna... Era o suficiente para deixar Draco enjoado. Agora o que sobrara do garoto, adormecido no chão frio do calabouço, estava ganhando num jogo de esperteza.

Draco apertou os dentes. Não, isso era só o primeiro round. Haveria muito tempo para reverter esta situação. Ele só não podia deixar Potter o atingir. Ele certamente não ia ficar ruminando isso. Mas isso era exatamente o que ele estava fazendo, e sabia disso.

Draco girou a cadeira, virando de costas para que não pudesse ver Potter e a cela.

Era impossível Potter saber o efeito que seu comentário sobre "ganhar lealdade" estava produzindo em Draco. Como um Malfoy, ele havia passado sua vida inteira tentando ganhar respeito, prestígio, e o mais importante, poder. Lealdade era meramente a consequência lógica desses atributos, não uma qualidade que viesse sozinha. A lealdade de seu pai ao Lord das Trevas, sua própria lealdade ao seu pai; a lealdade era simplesmente dada à pessoa com mais poder.

Poder. Era sobre isso que tudo era. O objetivo final. Era a última etapa, naturalmente, requerendo tempo, astúcia e apadrinhamento. Era uma aspiração remota de Draco quando era mais jovem, então respeito havia se tornado seu objetivo intermediário. Ele o havia procurado em seus amigos, seus professores, e acima de tudo, em seu pai. Crabbe e Goyle tinham sido fáceis. Mostrava-se aos idiotas um truque com cartas e eles o adorariam como se fosse da linhagem de Merlim. Professores eram um pouco mais difíceis. Ele havia conseguido notas altas em suas aulas, particularmente Poções, mas com amantes de sangues ruins como Dumbledore controlando a escola, o nome Malfoy não causava mais a mesma impressão de antes. Draco havia conseguido se realmente se envergonhar algumas vezes, havia tido problemas com alguns professores, e cada uma das vezes, tinha alguma coisa a ver com Potter. Detenção na Floresta Negra, confusões com hipogrifos, e momentos dolorosos como uma doninha saltitante - tudo isso era cortesia de Potter, de um jeito ou de outro.

Naturalmente, sempre que Potter inadvertidamente o instigava a algo desse gênero, seu pai fazia questão que ele soubesse o quanto desgostoso estava. Não era fácil para ninguém conseguir o respeito de Lucius Malfoy. A tarefa se tornava ainda mais difícil quando ele era seu pai. Draco nunca havia conseguido ser bom o suficiente, nunca capaz de se mover rápido o suficiente, mesmo que não houvesse nada que ele quisesse mais. Só os deuses sabiam, ele jurava que quanto mais tentava, mais ele falhava em atender às expectativas de seu pai. Como único herdeiro dos Malfoy, tinha uma reputação a manter. Tinha um destino para cumprir. Apenas grandes coisas podiam vir de um nome como Draco Malfoy.

Eclipse (Drarry)Where stories live. Discover now