45 - perdendo você

6.2K 478 53
                                    

Bernardo

Elas pararam bem aqui — murmura Marcelo ao meu lado, conforme dirijo em uma estrada de terra bem íngreme. Dou uma olhada na tela do notebook, observando o percurso indicado. Ele será muito útil, com certeza.

De repente o carro faz um barulho estranho e para de se mover com um ronco terrível.

— Caralho! — Esmurro o volante.

— Essa porra deu prego justamente agora?! Não acredito! — Meu amigo passa a mão sobre o cabelo. — Logo quando estamos tão perto!

Nego com a cabeça, frustrado.

— Eu vou a pé — digo, descendo do carro. — O lugar é aqui perto, então posso alcançá-lo sem problema.

— Isso foi um baita azar. E eu levei a droga dessa picape na manutenção há poucos dias. Mas parece que o trabalho não foi bem feito.

— Não esquenta. — Bato em seu ombro. — Me espera aqui. Eu vou in...

Meu celular apita dentro do meu bolso e eu o puxo rapidamente. Observo a tela brilhante, antes de atender a chamada de um número desconhecido.

Quem pode ser numa hora dessas?

— Oi, meu amor. — Congelo quando ouço a voz de Carla. Ativo o viva-voz paro o Marcelo ouvir. — Estou usando o celular do meu irmão. Eu não seria burra ao ponto de usar o meu, afinal, já dei um jeito de me livrar dele.

— Cadê a Cecília, porra? Sei que você está com ela. — Cuspo, enfurecido.

— Como sou boazinha... — Carla ri. — Vou te dar uma dica.

— Deixa de papo furado, cadela. Onde está a Cecília?

— Ela está queimando, meu amor. Então encontre um rastro de fumaça. Mas isso não vai adiantar de nada no fim das contas. Ela já se foi para sempre — murmura, divertida, antes de finalizar a ligação.

Sinto um calafrio estranho.

Tento ligar para o celular novamente, mas cai direto na caixa postal.

Praguejo, frustrado.

Porra!

— O que ela quis dizer? — Marcelo me encara, estranhando.

— Eu não... — Eu me interrompo ao pensar em algo.

Não pode ser! Ela não seria capaz! Ou seria?

— Me espera aqui — murmuro, tenso. — Pede ajuda, qualquer coisa. Eu vou resgatar a minha mulher.

— Boa sorte, cara — diz Marcelo, sério, antes de fazer uma ligação.

Corro para longe dali, embrenhando-me na mata. Se eu não me engano, o paradeiro de Cecília deve ser nessa localização. As imagens da sua localização na tela brilhante do notebook passam pela minha cabeça com rapidez, conforme corro, observando cada canto dessa floresta de araucárias. Meus olhos ardem de angústia, mas eu tento me controlar. Não é hora de desespero, apesar de isso ser meio difícil agora.

Paro de correr, ao me dar conta de algo. Na verdade, ao ver algo.

Eu me deparo com uma nuvem de fumaça subindo por trás das árvores em um ponto meio distante da floresta. Carla falou algo sobre isso e, sem perder tempo, sigo nessa direção.

Ela está queimando, meu amor.

A voz daquela desgraçada não sai da minha cabeça.

... Então encontre um rastro de fumaça.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora