43 - dançando com o perigo

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A segunda-feira chega de forma amena, com um frio agradável. De bom humor, já que é feriado, deixo o Carlinhos com o pai, e saio da nossa casa ao lado da minha prima efusiva, que veio exclusivamente me buscar. O motivo? Preciso buscar o presente que tia Camila comprou para o bebê. Ela mesma quer entregá-lo a mim e eu posso provar seu entrevero enquanto estou por lá.

— Meu namorado está adorando essa coisa de relacionamento sério — comenta Barbara conforme caminhamos.

— Não era ele que fugia disso como o diabo foge da cruz?

— Não mais. Nosso namoro o amadureceu de certa forma. Agora Marcelo quer andar de mãos dadas publicamente e até me levou pra conhecer sua família. Não é ótimo?

— Ele fez isso? — Juro que tento disfarçar a surpresa com essa informação, mas não dá.

— Surpreendentemente sim. Os pais dele são incríveis, tirando o fato de que viajam muito e são meio ausentes.

— Aposto que nem imaginam que o filho dá altas festas debaixo do teto deles. — Sorrio.

— Nem sonham — murmura, divertida. — Eles são muito divertidos e...

Suas próximas palavras são bruscamente interrompidas pelo barulho de uma freada violenta de carro. Gritamos pelo susto, e sou capaz de ouvir o ruído de uma porta se abrindo com brutalidade.

— Meu Deus!

— O que houve, Barbara? — pergunto, aflita. — Vamos sair daqui. — Tento puxá-la, mas ela permanece tão dura quanto uma pedra.

— Fica quietinha, cega inútil — diz uma voz com frieza e eu congelo. Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. — Estou com uma arma apontada para a barriga da sua priminha. Se você der mais um passo, eu aperto o gatilho.

Não!

— Barbara! — murmuro, assustada.

— Ela está dizendo a verdade, Ceci — diz baixinho.

Ah, meu Deus!

— Entra no carro! — Carla sussurra, friamente. — Senão eu mato a loirinha.

Meu coração pulsa na garganta enquanto eu me preparo para fazer o que ela ordenou. Não posso colocar minha prima em risco.

— Não, Ceci. Não faça isso. — Barbara choraminga e eu ouço um barulho forte, assustador. Depois só reina o silêncio.

— O que você fez com ela? — grito, angustiada.

— Dei uma coronhada na vadia pra ver se ela calava a boca. Parece que funcionou.

— Não! — Soluço.

— Cala a boca! Entra logo no carro ou eu estouro os miolos dessa garota. Vem! — Sinto sua mão em meu braço, e sou jogada sobre algo macio antes de ouvir o barulho da porta se fechando com força.

Logo, ouço o som do motor, e o carro se movimenta muito rápido até que eu precise segurar nas laterais para não me machucar.

Carla ri alto, e eu tento abrir a porta, mas estão travadas para a sua conveniência.

Soluço baixinho, muito assustada. Eu imaginava que essa garota tivesse algum interesse pelo Bernardo, mas jamais pensei que ela faria algo assim, que ela fosse tão louca. Eu a subestimei e agora não sei do que mais ela é capaz. Provavelmente quer acabar comigo.



***



Barbara

Desperto com uma dor terrível na nuca e os pensamentos meio perdidos. É inevitável chorar quando finalmente tomo consciência do que aconteceu.

Depois de ter apagado, só restou um borrão escuro na minha cabeça, mas é bem provável que a Carla tenha levado Cecília com ela. Minha prima está correndo perigo nas mãos daquela lunática e tudo por minha culpa. Eu deveria tê-la protegido, como prometi assim que ela chegou à cidade. Mas falhei!

Varro a rua pouco movimentada com os olhos e uma pequena multidão curiosa me encara.

Eu os ignoro e fico de pé, após recuperar a bengala de Cecília caída no chão.

— Você está bem? — Uma garota negra questiona, meio preocupada.

— Sim. Eu... eu só desmaiei. Obrigada por perguntar.

— Eu vi a garota levando sua amiga. — Eu a encaro; os olhos arregalados. — Pensei que vocês só estivessem conversando, mas a vi acertando sua nuca com uma arma. Ela colocou a outra menina no banco de trás do veículo e se foi. Eu até tentei anotar a placa do carro, mas ela foi muito rápida.

— Apaguei assim que ela me acertou — murmuro, cansada. — Obrigada por tentar ajudar. Eu tenho que ir.

— Não vai ligar pra polícia?

— Eu vou, mas antes preciso avisar alguém. Tchau.

— Tchau. Boa sorte na sua busca.

— Obrigada. — Aceno antes de correr em direção à casa do Bernardo. Ele precisa saber o que aconteceu e já prevejo sua reação. E ela não será nada boa.

Minutos depois, esmurro a porta de madeira.

— Bernardo! Sou eu. Barbara — grito.

A porta é aberta rapidamente, revelando um Bernardo preocupado. Ele abre passagem para que eu possa entrar.

— E a Cecília? Não veio com você? — Franze o cenho.

— Preciso que fique calmo e...

Ele estreita os olhos.

— O que aconteceu?

— Cecília foi sequestrada, Bernardo — digo em um choramingo, passando a mão no rosto.

— Como é? — Ele amplia os olhos, cético. — O que você está querendo dizer? A Cecília não...

— A maldita da sua ex a levou. Estávamos no caminho para buscar o presente do bebê, quando a Carla freou o carro ao nosso lado e forçou Cecília a entrar nele após nos ameaçar com uma arma! Você consegue entender? — murmuro, vendo o seu assombro. — Aquela vaca surtou e obrigou minha prima a entrar no carro. Eu não deixei e acabei levando uma coronhada. Apaguei na hora e quando voltei à tona, Cecília havia sumido assim como o carro. Carla a levou. — termino o relato sem poder controlar o desespero e as lágrimas.

— Não chora. A culpa não foi sua. Carla é louca. Como eu não percebi isso?! Porra! — ele xinga, atordoado, com os olhos úmidos. — Preciso encontrar a Cecília. Você pode ficar com o Carlinhos? Ele está no quarto. Vou atrás do Marcelo pra ver se ele me ajuda. — Ele passa a mão sobre as próprias lágrimas que não param de cair.

— Sim, eu fico. Não se preocupe — concordo.

— Você está com o seu celular aí? — inquere de repente.

— Sim.

— Liga pra polícia. Diga como era o carro e descreva a Carla da melhor forma que puder. Conta tudo. Eu vou anotar o endereço dela pra você entregar. A família dela pode saber de alguma informação importante. — Bernardo arranca uma folha em branco de um caderno de anotações sobre a estante e rabisca alguma coisa com a caneta antes de me entregar. — Está aqui. Enquanto isso eu vou dar o meu jeito. A polícia demora muito com essas coisas. Não posso ficar parado.

— Está certo. Pode ir tranquilo. Eu também vou ligar para a mamãe e tia Laura depois. Elas precisam saber.

— Certo. Eu vou indo nessa. — Ele se afasta, batendo a porta.

Sigo para o quarto e observo o bebê docemente adormecido no berço antes de puxar meu celular do bolso da calça. Disco o número rapidamente e ponho o celular contra o ouvido.

— Olá. É da polícia? Eu tenho uma denúncia pra fazer — solto assim que alguém atende.




Uma Luz Na EscuridãoWhere stories live. Discover now