Cecília
Eu estava radiante, semanas depois. A minha relação com o Bernardo estava indo bem, apesar de agora ele estudar à noite devido ao novo emprego. Fiquei feliz por ele, apesar de decepcionada por não encontrá-lo na escola. Ele continuava indo ao psicólogo todos os sábados de manhã e isso estava lhe fazendo muito bem, sobretudo com relação aos pesadelos envolvendo seu pai que já não o incomodavam como antes.
Ele me pediu em namoro semana retrasada no Snow Valley. Após eu aceitar, ainda tive a chance de abraçar um xaxim gigante e assar marshmallows numa fogueira no início da noite, à moda americana. Foi romântico e, vale dizer, inesquecível.
Todavia, ainda pairava sobre nós uma nuvem escura. Eu não sabia o que era, mas andava preocupada com algo que eu desconhecia e acho que poderia ser uma premonição. Tudo estava indo tão bem, que eu tinha receio de algo mudar absolutamente tudo. Eu tinha medo, mas não revelava meus pensamentos para o Bernardo. Podia ser apenas uma sensação; nada além disso.
Nós saímos frequentemente em sua moto, mas as saídas noturnas eram raras. Tia Laura tinha certo controle sobre isso e eu não a julgava. Ela só queria me proteger, apesar de Bernardo não apresentar risco algum. Ela me criou como uma mãe, e eu não poderia julgá-la por se preocupar, afinal ainda sou menor de idade e estou sob sua proteção.
— Para a moto, por favor! — Bato levemente contra as costas do Bernardo, conforme a moto corre na estrada sábado à tarde.
Ele freia a moto bruscamente e eu pulo, me apoiando nos joelhos e vomitando em algum lugar, provavelmente à beira da estrada.
— Você está bem? — Bernardo massageia meu couro cabeludo conforme esvazio o meu estômago. Sinto outra vertigem após terminar e me apoio contra o torso dele; cansada.
Respiro fundo antes de responder: — Senti um enjoo. Algo que eu comi não me fez bem.
— Deve ser. — Sua voz soa preocupada e levemente assustada. — Já está se sentindo melhor? Quer ir ao hospital?
— Sim e não — murmuro. — Só estou com um gosto ruim na boca. — Faço uma careta.
— Pega. — Ele me entrega algo que eu acho ser uma garrafa. — É água.
— Obrigada. — Retiro a tampa e despejo o líquido garganta abaixo antes de devolver a garrafa. — Acho que podemos ir agora. Desculpa.
— Não se preocupa, linda. — Ele beija o topo da minha cabeça. — Estou te levando para casa. Vamos. — montamos sobre a moto e logo ela corre na estrada, com uma velocidade razoável, diferente da anterior, que era rápida e um pouco perigosa.
Rodeio sua cintura com os braços e fecho os olhos durante o percurso. Sinto-me melhor agora e estou levemente confusa quanto à vertigem e à vontade de vomitar. Com certeza foi algo relacionado ao almoço.
— Você está pálida — murmura Barbara um tempo depois, quando Bernardo me deixa em casa e volta para a sua. — O que houve?
— Passei mal na volta do passeio — murmuro após escovar os dentes já que a minha boca estava com um gosto ruim. — Pedi para o Bernardo parar a moto e vomitei na estrada.
— O almoço não deve ter caído bem.
— Também acho. Eu nunca havia sentido isso.
— Isso é muito estranho — murmura, enigmática, e eu franzo o cenho, confusa.
— Cecília? — A voz de tia Laura nos interrompe. — Bernardo já foi?
— Sim. Ele só veio me deixar e foi pra casa.
JE LEEST
Uma Luz Na Escuridão
RomantiekCecília é cega. Anos depois de perder a visão e os pais em um terrível acidente de carro, ela se muda para uma bela cidade em Santa Catarina, conhecida pelo inverno rigoroso. Tudo está perfeito, até ele aparecer. O primeiro dia na nova escola acaba...