21 - descoberta

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Cecília

Eu estava radiante, semanas depois. A minha relação com o Bernardo estava indo bem, apesar de agora ele estudar à noite devido ao novo emprego. Fiquei feliz por ele, apesar de decepcionada por não encontrá-lo na escola. Ele continuava indo ao psicólogo todos os sábados de manhã e isso estava lhe fazendo muito bem, sobretudo com relação aos pesadelos envolvendo seu pai que já não o incomodavam como antes.

Ele me pediu em namoro semana retrasada no Snow Valley. Após eu aceitar, ainda tive a chance de abraçar um xaxim gigante e assar marshmallows numa fogueira no início da noite, à moda americana. Foi romântico e, vale dizer, inesquecível.

Todavia, ainda pairava sobre nós uma nuvem escura. Eu não sabia o que era, mas andava preocupada com algo que eu desconhecia e acho que poderia ser uma premonição. Tudo estava indo tão bem, que eu tinha receio de algo mudar absolutamente tudo. Eu tinha medo, mas não revelava meus pensamentos para o Bernardo. Podia ser apenas uma sensação; nada além disso.

Nós saímos frequentemente em sua moto, mas as saídas noturnas eram raras. Tia Laura tinha certo controle sobre isso e eu não a julgava. Ela só queria me proteger, apesar de Bernardo não apresentar risco algum. Ela me criou como uma mãe, e eu não poderia julgá-la por se preocupar, afinal ainda sou menor de idade e estou sob sua proteção.

— Para a moto, por favor! — Bato levemente contra as costas do Bernardo, conforme a moto corre na estrada sábado à tarde.

Ele freia a moto bruscamente e eu pulo, me apoiando nos joelhos e vomitando em algum lugar, provavelmente à beira da estrada.

— Você está bem? — Bernardo massageia meu couro cabeludo conforme esvazio o meu estômago. Sinto outra vertigem após terminar e me apoio contra o torso dele; cansada.

Respiro fundo antes de responder: — Senti um enjoo. Algo que eu comi não me fez bem.

— Deve ser. — Sua voz soa preocupada e levemente assustada. — Já está se sentindo melhor? Quer ir ao hospital?

— Sim e não — murmuro. — Só estou com um gosto ruim na boca. — Faço uma careta.

— Pega. — Ele me entrega algo que eu acho ser uma garrafa. — É água.

— Obrigada. — Retiro a tampa e despejo o líquido garganta abaixo antes de devolver a garrafa. — Acho que podemos ir agora. Desculpa.

— Não se preocupa, linda. — Ele beija o topo da minha cabeça. — Estou te levando para casa. Vamos. — montamos sobre a moto e logo ela corre na estrada, com uma velocidade razoável, diferente da anterior, que era rápida e um pouco perigosa.

Rodeio sua cintura com os braços e fecho os olhos durante o percurso. Sinto-me melhor agora e estou levemente confusa quanto à vertigem e à vontade de vomitar. Com certeza foi algo relacionado ao almoço.

— Você está pálida — murmura Barbara um tempo depois, quando Bernardo me deixa em casa e volta para a sua. — O que houve?

— Passei mal na volta do passeio — murmuro após escovar os dentes já que a minha boca estava com um gosto ruim. — Pedi para o Bernardo parar a moto e vomitei na estrada.

— O almoço não deve ter caído bem.

— Também acho. Eu nunca havia sentido isso.

— Isso é muito estranho — murmura, enigmática, e eu franzo o cenho, confusa.

— Cecília? — A voz de tia Laura nos interrompe. — Bernardo já foi?

— Sim. Ele só veio me deixar e foi pra casa.

Uma Luz Na EscuridãoWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu