Capítulo 01.

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Sarah Cropper.

Ele me fita com esses olhos castanhos que um dia foi minha perdição, em uma de suas mãos vejo uma rosa vermelha, a minha favorita, pois amo vermelho. Miguel se aproxima em passos lentos e com um olhar cheio de luxuria, a flor é erguida e eu a pego, sinto o seu perfume e o fito com um sorriso no rosto.

— Delicada como uma princesa, mas. - Junta as sobrancelhas. - Perigosa, por que me deixou Sarah? - Esbraveja.

— Eu não... Miguel. - Olho ao redor e tudo fica escuro, Miguel fica maior do que eu, com medo acabo caindo ao chão.

— Eu te amava. - Diz com uma voz assustadora. - Por que me deixou Sarah? - Esbraveja.

Começo a chorar de desespero, olho para o chão e uma poça se forma abaixo de mim, me afasto rapidamente ao perceber ser sangue, Miguel se transforma em uma criatura negra e vem em minha direção, coloco a mão no rosto e tudo se apaga. Acordo em um susto, mais uma vez sonho com Miguel, parece que quando terminamos a culpa permaneceu em mim, respiro fundo e encosto na poltrona do avião, logo ouço o piloto avisando que já vamos pousar, aperto meu cinto e fecho meus olhos, não é que tenha medo de altura, mas tenho medo de quando o avião decola e pousa.
Finalmente terra firme, estou oficialmente em Londres, agora só preciso ir até o trem e chegar oficialmente em Costwolds, digamos que ganhei uma bolsa de estudos após quase morrer de estudar, vou cursar dança, tinha a opção de estudar em Londres mesmo, mas acho que é muito cidade para mim, então escolhi Costwolds. Além de ser uma cidade linda é tranquila, pelo menos com o pouco que pesquisei sobre ela, e estranhamente minha madrinha escolheu esse lugar. Eu morava com ela desde criança, que foi quando perdi minha mãe, não me lembro muito bem de como ela era, mas Samantha diz que sou a cara dela. Após algumas horas de trem, finalmente chego na cidade e adivinha? É mais bonita do que imaginei, fico maravilhada com as pessoas, com as lojas e com as casas, parecem ter saído de um livro de conto de fadas. Enfim, agora tenho que resolver aonde vou ficar, puxo minha mala até uma loja de celulares que, pelo menos, dentro da cidade eles são modernos, sem demoras compro um chip novo e começo a navegar na internet a procura de hotéis.

— Vamos ver o temos por aqui.. - Mordo meu lábio ainda com o celular em mãos.

Após entrar em um site e outro acho um perfeito, não é muito caro e fica perto da faculdade que é mais no interior, olho ao redor e procuro por algum veículo que me leve até lá, a minha esquerda tem um ponto de ônibus, mas olho para minhas malas e isso fica fora de cogitação. Peço informações na loja de celulares mesmo e uma senhora muito simpática me mostrou o ponto de táxi, agradeci e fui até o local, onde se encontra um homem jovem parado em frente ao carro com seu cigarro na boca.

— Com licença senhor. - Paro em sua frente e o mesmo me fita. - Poderia me levar a esse endereço? - Mostro a tela do celular.

— Claro. - Apaga seu cigarro e se aproxima. - Deixe-me ajudar com isso senhorita. - Pega minha mala com facilidade. - Por favor, entre. - Conclui antes de fechar o porta-malas.

Entro no banco de trás com um pouco de medo, pois já está escurecendo e vou para o interior, onde só tem mato e mais mato, o motorista entra em seguida e começa a dirigir em silêncio, fico olhando a paisagem para me distrair e em um olhar em falso o vejo me olhar pelo retrovisor.

— Desculpe senhorita, mas você não é daqui certo?

— Não, eu sou de Glasgow. - Sorri. - Um pouco longe daqui.

— Cidade linda. - Sorri. - Gostei do seu colar, é uma pedra Lunar certo? - Ergo minha sobrancelha e olho para meu colar, tinha esquecido dele.

— Não sei dizer, ganhei de presente de minha madrinha. - O fito. - Mas, o que seria uma pedra Lunar?

— Poxa... Você ainda não sabe. - Coça a garganta.

— O que não sei? - Junto a sobrancelhas. - Na verdade, o que eu deveria saber?

— Nada demais senhorita. - Para o carro. - Chegamos, hotel Estrela sul.

Acerto o pagamento e o mesmo me ajuda com a mala até a recepção do hotel, fico impressionada com sua força e olha que ele me parece um pouco franzino. Agradeci e me virei para a recepcionista, que é linda, cabelos loiros, unhas feitas e maquiagem impecável, me senti envergonhada agora com essa cara de Zumbi.

— Bem-vinda ao Estrela sul, em que posso lhe ajudar? - A recepcionista sorri.

— Boa noite, eu gostaria de um quarto para alguns dias. - Sorri.

— Seus documentos por gentileza. - Os entrego e a mesma começa a digitar em seu computador com delicadeza.
Como sempre me perco em pensamentos enquanto ela faz o Check-in, tenho um grande problema em prestar atenção nas coisas, ainda mais quando estou preocupada ou ansiosa, eu só espero que tudo dê certo, sai de casa com a cara e coragem, mas mesmo tendo uma quantia razoável, tenho medo de algo dar errado e eu ter que deixar a faculdade. Desperto do meu devaneio com uma mão de unhas feitas passando em frente ao meu rosto.

— Senhorita Cropper, está se sentindo bem? - Se levanta e me fita.

— Desculpe, eu só me distrai... Estou bem, obrigada. - Sorri sem graça e a mesma se senta aliviada.

— Que ótimo. - Sorri. - Tomei um susto, mas enfim, você teve sorte, tenho um quarto disponível no segundo andar... Ele é um dos mais simples. - Vira a tela do computador.

— Está perfeito. - Digo após verificar tudo que o quarto tem e o valor.

— Certo. - Se levanta e pega uma chave. - Aqui está, quarto 107, tenha uma ótima estadia senhorita Cropper e qualquer coisa a recepção estará a seu dispor.

— Obrigada. - Pego a chave e me retiro.

Vou em direção ao elevador quase correndo, que vergonha, por que eu sempre tenho que fazer essas coisas? Aperto o botão do segundo andar e em segundos acho meu quarto, ao abri-lo me sinto satisfeita, pois é bem aconchegante e limpo, coloco minhas malas em um canto e me jogo na cama com o celular em mãos. Aviso minha madrinha que cheguei bem e começo a conversar com Ana, digamos que ela é minha melhor amiga desde sempre, ela é uma loirinha baixinha e atentada, sorri ao me lembrar das coisas que aprontamos em Glasgow, sinto saudades dela, pois antes de vir para esse lugar a mesma se mudou para Paris, sem Miguel e sem Ana, não tive como negar a bolsa de estudos e começar uma vida nova. Ouço meu estômago resmungar e peço algo para comer, enquanto espero vou conhecer o chuveiro, tomo um banho rápido, coloco meu pijama fofinho e aguardo minha comida, sinto meu celular vibrar e fico boquiaberta com quem está me ligando, decido não atender e logo uma mensagem chega.

Miguel: Estou na frente de sua casa e sua madrinha me disse que você se mudou, poxa Sarah... Para onde você foi? Preciso te ver e ouvir sua voz, me atende.

Ele começa a me ligar novamente, não sei o que fazer, me pergunto como ele conseguiu meu número novo, quer dizer, tenho certeza que foi Ana quem passou, pois ela sempre gostou de nos ver juntos, porém tive meus motivos para terminarmos. Enfim a campainha toca e escolher entre Miguel e comida, eu escolho a comida, saboreio cada garfada enquanto meu celular continua a vibrar. Depois de tanta insistência o celular para e eu vou para o banheiro escovar os dentes, em minutos me deito na cama e espero o sono me consumir, me viro de um lado pro outro, mas nada dele, em um suspiro me levanto e vou dar uma olhada na cidade de minha janela, como imaginei, a rua está vazia, não tem uma alma viva e muito menos carros, típico cenário de filme de terror, olho para a floresta um pouco a frente e já imagino um Serial killer saindo dela com uma faca na mão. Acho que já passou da hora de dormir, me deito novamente na cama e fico fitando o teto, subo minha mão até o pescoço e pego no meu colar, o que será que aquele motorista quis dizer em "Você ainda não sabe."? Será que esse colar tem algo de especial? Apesar que sempre que o tiro acontece algo de ruim comigo, sempre me machuco, sinto dores de cabeça e quando vou dormir sem ele, apenas tenho pesadelos a noite toda, não sei se é coisa da minha cabeça ou se realmente tem algo mágico.

Continua...

O Que Desconheço.Where stories live. Discover now