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❤️💔

— És demasiado importante para simplesmente... morreres. – Tobias abana a cabeça. Nem sequer olha direito para mim. Os olhos dele saltam do meu rosto para a parede atrás de mim ou para o teto por cima de mim ou para qualquer coisa que não eu. E fico tão atónita que nem consigo zangar-me.

— Eu não sou importante – afirmo. – Ficarão todos bem sem mim.

— Que interessam os outros?! Eu não te interesso?

Tobias baixa a cabeça e cobre o rosto com as mãos. Tem os dedos a tremer.
Depois atravessa o quarto em apenas duas passadas e cola os lábios aos meus. A delicada pressão deles apaga tudo o que aconteceu nos últimos meses e eu volto a ser a rapariga sentada nas rochas do abismo, a sentir a espuma da água nos tornozelos, a que o beijou nessa altura pela primeira vez. Sou de novo a rapariga que o agarrou pela mão no corredor só porque lhe apeteceu.

Retraio-me, a mão no peito dele para o manter à distância. O problema é que eu sou também a rapariga que matou Will e que mentiu a esse respeito, e que optou entre Hector e Marlene e que fez mais mil coisas entretanto. E tudo isto eu não consigo apagar.

Tu ficarás bem – digo-lhe, sem olhar para ele. Olho é para a T-shirt dele entre os meus dedos e para a tinta preta que lhe rodeia o pescoço. Mas não para o rosto. – De início, não. Mas seguirás em frente e farás o que tens a fazer.

Tobias passa o braço pela minha cintura e puxa-me para ele.

— Estás a mentir – diz-me, antes de me beijar outra vez.

Isto é errado. É errado esquecer aquilo em que me transformei e deixá-lo beijar-me quando sei o que vou fazer.
Mas é o que quero. Oh, se quero.

Ponho-me em bicos dos pés e envolvo-o nos meus braços. Ponho uma mão nas omoplatas dele e a outra por cima da nuca. Sinto a sua respiração na palma da minha mão, o corpo a expandir-se e a contrair-se e sei como ele é forte, firme e imparável. É tudo aquilo que eu preciso de ser e que não consigo, não consigo...

Tobias recua, levando-me com ele, e eu tropeço. Ao fazê-lo, os sapatos saem-me dos pés. Ele senta-se na beira da cama e eu fico de pé diante dele e estamos finalmente olhos nos olhos.

Ele toca-me no rosto e cobre-me as faces com as mãos, fazendo deslizar as pontas dos dedos pelo meu pescoço, adaptando as mãos às curvas suaves das minhas ancas.

Não posso parar.

Colo a minha boca à boca dele e saboreio-lhe o gosto a água e cheiro-lhe o aroma de ar puro. A minha mão desce-lhe do pescoço para as costas e para debaixo da camisola. Ele beija-me com mais intensidade.

Eu sabia que ele era forte. Mas não sabia até que ponto, até lhe sentir os músculos das costas ficarem tensos debaixo da pressão dos meus dedos.

Para!, ordeno a mim própria.

De repente, é como se tivéssemos pressa, os dedos dele a percorrerem-me o tronco por baixo da minha camisola, as minhas mãos agarradas a ele e a lutarem para o puxarem ainda mais para mim. Nunca desejei alguém desta maneira, nem tanto.

Tobias inclina a cabeça para trás, para os olhos dele poderem encontrar os meus debaixo das pálpebras quase fechadas.

— Promete – sussurra. – Promete-me que não vais. Por mim. Fá-lo por mim.

Poderei fazê-lo? Poderei ficar aqui, reconciliada com ele, deixando que outros morram por mim? Olhando para ele, acredito por instantes que o poderei fazer. E depois vejo Will. O vinco entre as sobrancelhas dele. Os olhos vazios tolhidos pela simulação. O corpo que cai.

Fá-lo por mim, pedem-me os olhos escuros dele.

Mas se eu não for para o quartel-general dos Eruditos, quem é que irá? Tobias? É o tipo de coisa que ele é capaz de fazer.

Sinto uma dor aguda no peito quando lhe minto:

— Está bem.

— Promete – diz ele, franzindo o sobrolho.

A dor espalha-se por todo o meu corpo - está tudo misturado: a culpa, o terror e o desejo.

— Prometo.

*

Tobias adormece sem me largar, agarrado a mim como se ele próprio fosse uma prisão capaz de salvar as nossas vidas. Mas eu aguardo, mantida bem desperta pelo choque dos corpos a tombar no pavimento, até o abraço dele afrouxar e a respiração ficar calma.

Não o deixarei ir ter com os Eruditos quando voltar a acontecer, quando morrer mais alguém. Não, não deixarei.

Solto-me de mansinho dos braços dele. Enfio uma das suas sweatshirts para poder levar comigo o cheiro que lhe pertence. Enfio os pés nos sapatos. Não levo armas nem objetos para o recordar.

Detenho-me à porta para olhar para ele, quase escondido por baixo da manta, forte e em paz.

— Amo-te – digo muito baixinho, como se testasse as palavras. E deixo a porta fechar-se atrás de mim.

Chegou o momento de pôr tudo como deve ser.

Tris, in Insurgente

Tris, in Insurgente

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