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Passamos o posto de controlo abandonado sem parar. Do outro lado, vejo Cara. Tem um grande hematoma num dos lados do rosto e uma ligadura na cabeça, mas não é isso que me preocupa. O que me preocupa é a sua expressão transtornada.

— O que se passa? — pergunto.

Cara abana a cabeça.

— Onde está a Tris? — pergunto de novo.

— Lamento, Tobias.

— Lamentas o quê? — pergunta Christina agressivamente. — Diz-nos o que aconteceu!

— A Tris foi ao Laboratório das Armas em vez do Caleb — explica Cara. — Sobreviveu ao soro da morte e detonou o soro da memória, mas... Foi atingida a tiro. E não sobreviveu. Sinto muito.

Na maioria das vezes, consigo perceber quando as pessoas estão a mentir e isto deve ser mentira, porque Tris ainda está viva, com os olhos cintilantes e as faces coradas e o seu pequeno corpo cheio de energia e de força, de pé sob um raio de luz no átrio.

Tris ainda está viva, não me deixou aqui sozinho, não tentaria entrar no Laboratório das Armas em vez de Caleb.

— Não — diz Christina, abanando a cabeça. — Não é possível. Deve haver algum engano.

Os olhos de Cara enchem-se de lágrimas.

E é então que compreendo: é claro que Tris tentaria entrar no Laboratório das Armas em vez de Caleb.

É claro que o faria.

Christina grita ali, mas a voz dela soa-me abafada, como se tivesse a cabeça mergulhada debaixo de água. Os traços do rosto de Cara também se tornaram difíceis de ver, o mundo funde-se em cores indistinguíveis.

Tudo que posso fazer é ficar parado. Sinto que, se me limitar a ficar imóvel, posso impedir que isto seja verdade, posso fingir que está tudo bem. Christina dobra-se para a frente, incapaz de suportar a própria dor, e Cara abraça-a. E tudo o que faço é ficar ali parado.

Tobias, in Convergente

Frases de Divergente 🔥Where stories live. Discover now