1 • A raposa e o lobo.

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Ela havia mudado tanto ou ele que nunca a guardou nas memórias?

— Não sou americana, imbecil. — cuspiu.

O homem empurrou seu queixo para o lado com força e afastou-se, foi até seu chefe e sussurrou algo em seu ouvido, com os olhos vidrados nela, Rico concordou, e logo seu soldado retornava. A mesma estava em pé com os pulsos amarrados no alto, sendo segurada por uma corda presa no teto. Apenas as pontas dos pés tocavam o chão. Seus braços, ombros e costas doíam, assim como o nariz que deveria ter quebrado com um dos socos que recebeu enquanto estava desmaiada. Tudo estava um caos.

— O que irão fazer comigo? — indagou com um sorriso vacilante nos lábios.

Medo. Receio. Tensão. Tudo isso acumulado em sua mente.

O homem tornou a tocar seu queixo. Seus dedos ásperos lhe causavam enjoos, assim como o perfume italiano. Desprezava tudo que italiano usava: ternos, sapatos, relógios, perfumes... Tudo relacionado a eles. No geral, detestava a Itália ao ponto de nem querer colocar os pés lá. Mas a sede de vingança falou mais alto. Sempre gritou mais alto.

— Primeiro: Quem é você e de onde você é? — questionou, sério. Pelo olhar rígido dos homens ao redor, Kênia constatou que já não havia espaço para brincadeiras. Apesar dela não dar à mínima.

Contorceu-se, seus pulsos latejavam, e cada vez que respirava era como se as paredes internas do seu corpo pressionassem seu peito, dificultando sua respiração. Engoliu em seco com dificuldade para falar.

— Sou quem você quiser. — respondeu com outro sorriso vacilante. O homem lhe devolveu o sorriso, e junto dele um forte soco em seu rosto. Kênia respirou profundamente, contorcendo novamente o queixo, sentindo-o latejar. — Desgraçado!

Todos riram, com exceção de Rico Borelli, que manteve-se sério.

— Veja bem, tesouro, você tem o rosto muito bonito para apanhar. Não irá querer que eu o estrague, não é?

Olhou ao redor, para os homens que a observavam em silêncio, com os olhos tomados por ódio. Não iria baixar a cabeça para nenhum deles. Não retornou após tantos para ser humilhada.

— Vá em frente. — desafiou, provocativa.

Kênia não estava mais com medo. Durante sua vida, havia sido torturada inúmeras vezes, muitas durante seu rígido treinamento com Kai. Ele não mediu esforços para torná-la uma arma letal.

— Molto bene.

(Muito bem)

Ao ouvir sua resposta Kênia foi atingida por um gancho de direita, e então outro... mais outro, e muitos em seguida. A mulher nunca dava o braço a torcer, e muito menos fazia menção de suplicar pela vida. Apesar da força que o homem usava para machucá-la, ela nem ao menos se esforçava para tirar o sorriso dos lábios rachados. Deliberadamente sangue escorreu por seu corpo. Ela sentia o gosto metálico, o gosto do sangue quente descer pela sua garganta a ponto de se engasgar.

Já estava grogue, quase desmaiada, quando a voz aveludada de Rico soou um pouco distante.

— Já chega!

O homem esguio - com o semblante apático - se colocou de pé, deixando o copo sobre uma mesa redonda ao lado da poltrona e dirigindo-se até seu homem. A mulher em sua frente poderia ser destemida, e muito insana para gostar de apanhar sem ao menos interceder por algo que lhe ajudasse, mas Rico Borelli não dava ponto sem nó, justamente por isso não a mataria, ainda. Planos mirabolantes passavam em sua mente.

— Está tudo bem, chefe? — André perguntou ao se aproximar.

— Está sim. Só não quero ela morta antes de descobrir o que fazia naquele galpão, e como entrou. — proferiu, sério. Rico abotoou o terno Armani tranquilamente. A calmaria que exalava era assustadora. — Não quero que a torturem até a morte. Não agora.

O Grande Rico Borelli. - I Where stories live. Discover now