Doze

11 0 0
                                    

  Dakotta era ligeiramente esguia, mas tinha os braços muito fortes. Seu abraço era apertado, quase apertado demais, mas não parecia sufocante, parecia reconfortante, me fazia sentir segura, confortável, incrivelmente gostoso. Eu também a apertava entre meus braços como se ela pudesse fugir de mim á qualquer momento.
Quando eu a conheci, tinha mais ou menos treze anos, e não me lembro bem dela na época. Eu convivi com ela por pouco tempo, porque entre sua partida e a de Jake para os campos houve uma diferença de apenas seis meses. Relativamente pouco tempo. Além disso, ela prestava trabalho comunitário á assistência social do nosso bairro, e não quase nunca estava por perto quando eu estava com Cassie, portanto nós não éramos próximas. E ali estávamos nós, abraçadas como irmãs. Provavelmente, era porque representávamos coisas muito importantes, uma para a outra. Éramos lembranças, provas que sobreviveram, de como tudo era antes. De um tempo diferente, mas bonito e distante.
-Já fazem tantos anos...-Ela sussurrou perto do meu ouvido...tinha a impressão de que não fala especificamente comigo.-Quatro- respondi, calculando rapidamente. Nos separamos e ela sorriu bondosamente para mim. Depois ofereceu uma cadeira á frente de uma mesa para mim e dirigiu-se para trás dela.-Sente-se, nós temos alguns assuntos para tratar. Primeiramente, você tem certeza de que está bem? Não se feriu?-Eu estou bem sim- respondi, me sentando- eu sei que é difícil de acreditar. "Sou praticamente imortal, a Supergirl" acrescentei mentalmente.
-Certo. E o que você fazia com aqueles soldados?- Ela perguntou, estreitando o olhar e diminuindo o sorriso gradualmente.-Eu estava sendo levada para um laboratório, servir de cobaia- respondi.-Não haviam outros com você, certo? Porque escolheram você em especial? Fixei os olhos nos seus e respirei fundo. Me sentia mal de mentir para ela logo agora, mas eu sentia que era necessário. Mais cedo, Arya havia me aconselhado de que eu não deveria contar sobre a minha mutação genética, ou sobre o vírus, porque isso poderia ser uma catástrofe. Mesmo que eles não tivessem intenção de aproveitar nenhum dos dois fatores, estariam interessados em me entregar para quem tivesse. Eu e o Apocalypse poderíamos ser facilmente nos tornar moedas de troca, e poderíamos extinguir a raça humana, uma vez que não se tem nem a metade das informações necessárias para um antídoto, ou pelo menos para um tratamento. Menos de uma gota de sangue (que deveria conter um átomo do vírus) foi suficiente para matar um homem como Ivan, não é possível imaginar isso em escala global. Portanto, apenas neguei com a cabeça.
-Não acho que tenham me escolhido- afirmei. Ela balançou a cabeça momentaneamente e pareceu acreditar sem nem ao menos pensar sobre.
-Bom, nós precisamos de ajuda- ela disse- Vamos oferecer liberdade, em troca dela.-Nós?- perguntei.-Gostamos de nos chamar de Entremeio- disse o garoto moreno, se aproximando da mesa. Para ser sincera, nem me lembrava que ele estava ali- Isso porque nós não tomamos partido político, não temos lado na guerra, e não participamos dela. Até agora, ele não tinha falado muito, e passava muito tempo sem nenhuma expressão no rosto, e parecia perigoso. Apesar disso era um pouco baixinho e não tinha "cara de mau".-Cole disse bem- Dakotta complementou- Nós apenas ajudamos as pessoas. De todos os lados dela. Órfãos, viúvas, veteranos de guerra, soldados que estiveram na guerra mas não podem mais combater, vítimas de atentados...normalmente nós só agimos em locais como a ponte hoje, mas nós até já evacuamos vilas inteiras. -E, infelizmente, nosso contingente de pessoas para vasculhar locais de risco tem diminuído- Cole continuou- Também precisamos de pessoas para proteger a sede...-Enfim, precisamos de você e de seus sequestradores.- Completou Dakotta.-Se estiverem totalmente dispostos á abrir mão do patriotismo, se é que me entende. Depois de terminarem seu discurso compartilhado, começaram a me encarar seriamente, esperando uma resposta, e foi um pouco desconfortável. No entanto, para mim, não havia sobre o que pensar, então disse:
-Eu estou dentro, até porque nunca fiz questão nenhuma dessa guerra. Mas eu não posso falar pelos meus amigos. Cole uniu as sobrancelhas numa expressão confusa. Demorei alguns segundos para entender que ele havia estranhado o fato de eu ter dito "amigos", ao envés de "sequestradores". Que se dane mesmo, eu até gostava deles.
-...e nós vamos observar um pouco, antes de confiar em vocês completamente...- Dakotta explicava, agora na sala onde estavam os outro quatro, algemados e sentados no chão. Era curioso. Cole estava por perto, escorado numa parede, e fazendo cara de mau, outra vez. Estava usando para observar todos eles, como se fosse amedronta-los. Quer dizer, Arya parecia extremamente incomodada, e apesar de estar prestando atenção em Dakotta, permanecia inquieta e devolvendo olhar furiosos para ele. Cloud parecia entediada e não parecia notar Cole. Parker estava alheio á garota que falava, e ficava olhando para Cole, suas algemas, e a porta. Kyah não tinha expressão no rosto, estava incrivelmente calmo, e seus olhos...um pouco inexpressivos demais.
-Quem estiver de acordo com os termos, e estiver disposto a aceitar o acordo, manifeste-se por favor- Dakotta encerrou sua fala.-Eu aceito- Arya disse, tão rápido que quase interrompeu a garota.-Também estou dentro- Cloud disse, olhando para Kyah com certa expectativa.-Aceito- Kyah disse, balançando a cabeça levemente. Os três se voltaram para Parker. Ele apenas acenou com a cabeça, confirmando. Não posso deixar de observar que era uma atitude um tanto curiosa. Mas tudo bem, porque eles haviam aceitado. Eles não eram mais os vilões. Kyah não era mais meu vilão, ele seria meu aliado, e isso confirma minha teoria de que...ele não era mau. Eu sempre soube isso.
-Perfeito. Cole vai solta-los, e Ryan, e você pode por favor me acompanhar? Eu não me lembro o endereço de mamãe e...-Espere, o endereço da senhora Kadam? Para que você quer?- perguntei, confusa.-Para mandar uma carta para minha família, é claro- ela disse- eles moravam perto de você, não se lembra? Minha boca se entreabriu. Durante todo esse tempo, não tinha parado para pensar que Dakotta não sabia da morte de Cassie, seu irmão mais novo e seus pais estavam...mortos.
-O que foi?- ela perguntou.-Eu...eu estava longe quando...- disse, sentindo a voz falhar- quando a bomba explodiu. Observei a respiração dela acelerar e sua expressão se transformar. Os olhos marejaram, a boca se torceu, a primeira lágrima desceu.
-Cassie, George...?- Ela perguntou. Não consegui responder imediatamente. Não conseguia pensar em nada, já que não podia falar a verdade. E era doloroso vê-la daquele jeito. Eu sabia o que ela estava sentindo, e de repente eu estava sentindo também. Enquanto não obtia resposta, olhava para mim com uma esperança tão frágil, e uma certeza tão aterradora, e me fazia sentir tanta saudade da minha mãe...
-Eu estava lá- Kyah respondeu- e daquele lado da cidade, não houveram sobreviventes. Quando ele falou, ela desviou o olhar de mim, e foi quase libertador. Não sei dizer muito bem. Apertei os olhos tentando impedir o choro mais não tive muito sucesso. Na verdade, o gesto fez com que duas ou três lágrimas escorressem pelas minhas bochechas. E, de olhos fechados, escutei quando ela negou repetidamente, com a voz embargada.
Ainda tentava não chorar. Mas não achava que ajudaria alguma coisa. Balancei a cabeça e, abrindo os olhos, mirei o teto. Mais lágrimas escorreram.
-Mas e se elas não estivessem perto da bomba? Como vocês podem ter certeza?- ela insistiu.-Foi uma bomba nuclear. Mesmo que não estivessem perto da bomba...- Kyah respondeu. Quanto mais ela negava, pior eu me sentia. Acabei deixando escapar um soluço e segurei a boca com as mãos, num impulso. Dakotta correu e saiu da sala, abrindo a porta com tanta força que ela bateu contra a parede e o ruído ecoou pelo lugar. Decidi seguir seu exemplo de saí também, mas eu caminhei e não olhei para trás. Já do lado de fora, senti quando alguém puxou meu braço. Me virei, e vi Kyah, e ele continuou me puxando até conseguir me envolver com os braços. Mas eu não queria outro braço. Empurrei-o e acertei um tapa em seu peito.-Isso também é culpa sua!- Disse, baixo e com muita raiva. Não sabia bem de onde isso tinha vindo, mas não me arrependia de ter dito.


(Recado breve, 

Caso encontrarem erros, por favor, comentem;) ) 

Radioativaजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें