Cinco

20 0 0
                                    

    Inclinei-me entre o banco da motorista e do passageiro e, esticando meu braço, girei o volante para a esquerda bruscamente. O solavanco fez com que eu quase acertasse Arya com o cotovelo acidentalmente, e após se recuperar do susto inicial, Ivan apertou as mãos no volante e retomou a direção, afundando a palma na buzina do veículo. A chuva estava prestes a nos alcançar, e eu podia distinguir sua coloração esverdeada, enquanto o asfalto começava a se desfazer discretamente á nossa frente. O carro acabou subindo num dos canteiros na virada brusca que eu causei, me jogando novamente para trás com violência. Quando percebi, as motos já nos acompanhavam na nossa nova direção.

-Nós vamos morrer...- Arya murmurou, agarrando-se ao apoio na sua porta.

    Colada ao vidro do carro, eu vi um enorme edifício de uns dez andares, com uma placa colorida e chamativa que dizia "West Sea Shopping Center" e os pontos se ligaram rapidamente na minha cabeça: Shopping significava estacionamento, e considerando que estávamos num carro, seria difícil encontrar lugar mais ideal. Apontei na direção dele, e antes mesmo que pudesse dizer algo, Rye girou o volante e fez a curva tão rápido que o carro deslizou lateralmente por alguns metros, deixando rastros de pneu no chão, antes de obedecer ao comando. As motos continuavam perigosamente perto, nas laterais e atrás. Ele se dirigiu a placa com letras grandes e em vermelho que indicava o estacionamento, mas o local tinha um enorme portão de ferro na entrada, e ele estava fechado. Abaixo dele, uma inclinação, como que numa rampa. Não tive muito tempo para pensar em algo, mas Ivan tinha sua própria ideia. Infelizmente, ela não era do tipo que vinha de pessoas sãs.

    Ele pisou no acelerador até que o pedal chegasse ao carpete do veículo, e o carro deu uma guinada pouco antes que a frente colidisse com o portão. O choque foi leve para nós, de dentro dele, e o portão foi arrancado quase sem esforço.  Ele arranhou um pouco o teto, mas seguiu seu caminho para trás do veículo, onde um dos soldados estava, em sua moto. Virei-me a tempo de ver. O motorista era um dos dois garotos, com toda certeza, e o portão ia na sua direção inclinadamente. Ele puxou o guiador e freou, até que a roda traseira girasse e, da mesma forma que o carro com tinha feito antes, deslizasse lateralmente e deixasse suas marcas na pista, e uma pequena fumaça se ergueu dos pneus. A moto parou de lado, inclinada em direção ao chão, e o motorista inclinou-se para trás até quase cair nele, e nada disso levou mais do que um segundo. O portão passou por cima dele, sem nem chegar a toca-lo, antes que o motorista caísse de costas no chão. A moto acabou caindo em cima de sua perna, eu podia ver que ele estava preso.

    A chuva chegara na entrada, e como a partir do portão estava uma rampa que descia, logo que o ácido formasse poças e começasse a escorrer, o cara estaria morto.

-Você ficou maluco?- Arya gritou, voltando-se para Ivan.

-Ele está preso!- avisei, apontando para trás de nós.

    As outras duas motos frearam, mas Ivan continuou na mesma velocidade, enquanto se esticava para ver pelo retrovisor, procurando saber sobre o que eu falava. Á frente, um paredão com duas placas, paredão este no qual estávamos prestes a bater, enquanto o motorista observava o estrago que acabara de fazer e perdia a oportunidade de impedir outro.

-Meu Deus- ele resmungou, quase assustado.

-Qual é o seu problema?- Arya apontou para a parede com as duas mãos, enquanto gritava com a voz quase rouca.

    Ivan finalmente virou-se, viu a parede e começou a frear desesperadamente, até mesmo puxando o freio de mão, mas não evitou a colisão. O impacto jogou todos para frente, e depois novamente para trás. Foi muito rápido, quando eu percebi, estava sentada com um corte no supercílio. Não sabia dizer onde eu havia batido com a cabeça, mas a dor não demorou a vir. Por sorte, não era muito intensa, e corte, pelo que eu podia ver no retrovisor, não era muito profundo. Os três motoqueiros haviam ficado para trás, e nós estávamos no final da rampa, o que me fez sair do carro rapidamente e conferir a situação.

RadioativaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora