Folclore Oculto

Fim do Mundo vota 666

Edgar despertou daquele sono pesado. Vozes, dor, luz, dor... Ele abriu os olhos e aos poucos as imagens foram se tornando nítidas, junto à voz de Iara falando sozinha.

Ele gemeu e tentou se sentar, mas uma dor estonteante dominou seu corpo o fazendo permanecer como estava, esticado como um cadáver sobre a cama.

— Bah... — reclamou ele tentando novamente se mexer, sem sucesso.

Iara que estava sentada de frente a penteadeira, se voltou para ele.

— Acordou! Até que enfim.

— Que horas são? — resmungou.

— Umas onze. Costumamos acordar mais cedo, mas o dia ontem foi cansativo, então nem julgo por todo mundo nessa casa estar parecendo um zumbi, e você, uma múmia.

— Que bela forma de começar o dia, sendo chamado de múmia — resmungou ele se sentando enfim.

Iara o fitou com curiosidade.

— Está bem?

— Tirando a dor no corpo todo, estou. E tu?

— Bem. Sinto um pouco de dor no estômago, mas acho que isso é o mínimo para quem foi atravessada por uma mão.

Edgar soltou uma risada rouca.

— Certamente, o mínimo. Aliás, tive a estranha impressão de que você estava conversando sozinha pouco antes.

Iara assentiu com entusiasmo e foi até ele sentando-se na cama.

— Sim! Estava organizando as ideias. É que ontem aconteceram certas coisas na vila. Encontrei alguém que eu acho que pode resolver um dos nossos problemas, eu poderia ter planejado isso melhor ontem mesmo se não tivesse que sair correndo salvar o donzelo indefeso.

Edgar revirou os olhos.

— Vai jogar isso na minha cara até quando?

— Até perder a graça.

Edgar bufou e Iara soltou uma risadinha.

— Tanto faz. Explique-me melhor isso.

— Explico, mas não aqui, vamos para sala de jantar assim eu já conto as novidades para todos de uma vez.

Edgar assentiu e logo pensou em algo:

— Já viu Núbia hoje? Ela está bem?

— Sim, ainda fraquinha, mas certamente vai melhorar, ela não parou de comer desde que acordou. Meu tupã, ela comeu um pão de forma sozinha!

Edgar conseguiu rir com aquilo.

— Isso é um bom sinal... E o Cícero? — disse ele agora com mais desdém.

Iara deu de ombros.

— Parece bem.

— Eu não quero saber se ele está bem.

Iara revirou os olhos.

— Claro. Deixe-me adivinhar o que realmente quer saber. Ele parece estar sobre influência demoníaca? A reposta é não. Ele dormiu no quarto de hóspedes? Também não. O que está fazendo? Competindo com Núbia para ver quem come mais, e...

— Espera — disse Edgar a interrompendo em tom nervoso —. Onde esse demônio dormiu?

— Você sabe a resposta, não se faça de idiota — disse ela abanando a mão com indiferença, enquanto Edgar deixava os olhos negros.