Confronto final

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Núbia estava à espreita, escondida na mata e observando de longe quando Edgar ainda dialogava com Saci fora da cabana.

Ela tentou resistir ao impulso de salvar Edgar, mas ao ver Saci pronto para arrancar os olhos do avô, ela se levantou decidida a gritar e impedir Saci de prosseguir, mas antes que saísse de seu esconderijo ouviu os sons que vinham de dentro da cabana de Cícero e viu o sorriso aliviado de Edgar, que também lhe deixou mais tranquila e a fez voltar-se a posição de espreita.

Repentinamente Iara surgiu, o que encheu a garota de alívio, pois graças a tal distraio, Edgar teve tempo para se recuperar, não que Núbia tivesse prestado muita atenção nele, além do mais, os ataques de Iara com a água que ela tirou do subsolo foi quem protagonizou todo o show, e Núbia por um momento esqueceu-se da seriedade da situação e se sentiu como uma criança vendo a cena de batalha mais épica de um desenho. Ela só voltou à realidade, quando visualizou Saci com sua mão envolta por rajadas de vento atravessando as costas da Iara de maneira assustadora. Como uma espada, o braço do demônio entrou e saiu do corpo da mulher sem esforço algum, levando consigo carne e sangue. Núbia colocou a mão na boca abafando o grito e tentou pensar positivo para não entrar em desespero. Além do mais, Iara era uma deusa, e mesmo que Núbia não soubesse ao certo quais os limites desse poder, Edgar devia saber, então quando ele desapareceu junto à esposa, Núbia sentiu-se aliviada, porém prosseguiu ali sem ação ou solução.

Por outro lado, minutos após a fuga de Edgar, Núbia observou um comportamento curioso em Saci, ele rosnava e praguejava, com as mãos na cabeça, e aquilo só podia significar que Cícero estava agindo, porém, não poderia tomar o controle enquanto o Saci tivesse o auxílio do capuz.

Saci prosseguiu longos segundos parado, pensativo e falando "sozinho", porém, logo respirou fundo e fechou os punhos, depois sorriu de canto e olhou na direção de Núbia.

— E então, gracinha? Quando pretende aparecer e o que exatamente acha que pode fazer comigo? — perguntou ele em tom alto e Núbia somente arregalou os olhos, mas ficou em silêncio, rezando para que ele não estivesse falando com ela. Logo Saci se desfez em fumaça negra e surgiu à frente da garota, que quase caiu para trás. Saci, no entanto a pegou pelo pescoço e a ergueu.

— Olá, minha menina. Já havia sentido sua presença há um tempinho, mas estava meio ocupado com meu velho amigo Edgar, por isso não te dei a devida atenção. Mas agora somos só nos dois. — Ele aproximou o rosto do de Núbia e ela pode sentir o bafo quente de enxofre que saía dentre os dentes afiados do demônio.

— Nós três, você quis dizer — gemeu Núbia tentando falar mesmo com a mão em seu pescoço.

Saci repentino, a jogou para fora daquela mata, fazendo-a cair no quintal da cabana. Apesar da queda, ela se recompôs rápido, ignorou a dor e encarou Saci com fúria, enquanto ele se aproximava dando seus pulos em uma perna só.

— Suponho que esteja falando do nosso camarada, Cissa. É. Bem, ele realmente está tentando participar da conversa, mas digamos que o sinal está fraco — Saci riu e se curvou para se aproximar de Núbia que apesar de estar de pé, ainda era mais baixa. Ele então pegou o rosto da garota que já ficava vermelha, demonstrando uma futura crise de fúria. — Sabe o que ele diz, menina? "Não faça nada com ela", "deixe a menina em paz", "Núbia!" "Núbia!"...

Saci gargalhou e, em sua arrogância, sequer notou a mão sorrateira de Núbia ir até a cintura e tirar de lá o facão, até então, preso pelo cinto da calça.

— Não me chame de menina! — urrou Núbia fincando o facão na garganta de Saci.

Ele se afastou em um urro e Núbia também deu passos para trás, segurando o facão ensanguentado com firmeza.

Folclore OcultoWhere stories live. Discover now