A fragilidade da vida

487 60 78
                                    


Matagal ficava a 20 quilômetros de Fim do Mundo e não era muito diferente desta ultima, também era precária, dominada por construções antigas e com poucos habitantes, porém, tinha uma estrutura consideravelmente melhor. Havia ruas asfaltadas no centro e alguns prédios com mais de quatro andares, entre estes o hospital de Matagal que era o que possuía mais estrutura da região e assim acabava por tratar de todos os pacientes graves das cidades vizinhas. Bem, não é surpresa que também viessem de matagal as maiores notícias, por isso era lá a sede de Quatro Cantos, o jornal administrado por Joaquim Assis.

Iara estacionou o jipe ao lado do prédio simples de dois andares e com a pintura bege desgastada onde o jornal era escrito e impresso. Ela e Núbia desceram do carro em simultâneo momento e logo fitaram uma viatura policial estacionada de frente a entrada. Núbia observou a tutora caminhar até o carro constatando que a viatura estava vazia.

A garota não a seguiu, mas notou que as pessoas que passavam na rua fitavam a entrada do prédio e cochichavam entre si, enquanto algumas outras ficavam paradas na calçada contrária com os olhos vidrados na sede do jornal e os lábios mexendo sem parar.

— Aconteceu algo aqui, Iara — avisou Núbia.

Iara assentiu, mas não disse nada, somente entrou no prédio e Núbia a seguiu. Já na entrada se depararam com uma fita amarela colocada de forma desleixada no início das escadas, e a direita havia uma sala de espera onde um policial conversava com uma moça que parecia nervosa e se atrapalhava nas palavras.

— Eu... Eu já disse tudo que sei, policial. Senhor Joaquim era muito fechado.

O policial bufou, mas quando notou a presença de Iara e Núbia, voltou-se para ambas com expressão indignada, mas dirigiu-se somente a Iara, provavelmente por ser a adulta.

— O que faz aqui, senhora? Essa é a cena de um crime agora.

Iara franziu os olhos, mas não se intimidou com a grosseria do policial.

— Crime é? Qual crime?

O policial a encarou com um olhar que dizia claramente: não te interessa. Já a moça ao lado não pensou em responder.

— Algo horrível. Assassinaram meu chefe durante a noite. Pobre senhor Joaquim — choramingou ela enxugando as lágrimas.

O policial revirou os olhos. Já Núbia e Iara se entreolharam com expressões espantadas.

— Seu nome é Lúcia, não é? Se não me engano você era a secretaria de Joaquim, certo? — perguntou Iara e a moça assentiu como resposta — Hum. O que exatamente aconteceu aqui?

Lúcia já iria responder quando o policial a interrompeu.

— Hei, quem faz as perguntas aqui sou eu — disse ele arrumando sua farda que parecia um tanto apertada para o homem fora de forma —. Aliás, quem exatamente é a senhora e qual sua relação com a vítima?

— Me chamo Iara — respondeu ela em voz firme —. Iara Tupânae. Sou uma... Amiga de Joaquim.

Lúcia franziu as sobrancelhas, mas não disse nada, e, Núbia ao notar a expressão da secretaria concluiu que a mentira de Iara não duraria muito.

— E a guria? — disse o policial apontando para Núbia, que fez uma cara entediada. Estava sendo difícil para ela se adaptar a mania que o povo do Sul tinha de chama-la de guria.

— Núbia Cabrall, é minha... enteada — respondeu Iara.

Núbia assentiu e o policial franziu os olhos, pensativo.

Folclore OcultoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora