Conflitos familiares.

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Iara estava sentada de frente ao espelho da penteadeira, analisando a si mesma iluminada pela luz da manhã que vinha da janela. Ela ergueu a cabeça e focou os olhos naquelas duas perfurações em seu pescoço, se fechasse os olhos ainda podia sentir a dor daquela mordida e a sensação de seu sangue sendo sugado, mesmo que tudo aquilo tenha acontecido em um momento que estava sobre êxtase.

Ela estava cansada pela noite, fraca pela falta de sangue, mas feliz e satisfeita pelo prazer. E mesmo que tivesse amado a noite que Edgar lhe proporcionara, ela não resistiu em reclamar um pouco, só para não perder o costume.

— Quando você disse que eu era uma delícia não imaginei que fosse nesse sentido — resmungou ela passando a mão sobre a mordida.

A porta do banheiro se abriu e Edgar surgiu dentre o vapor que o chuveiro fizera. Ele estava sem camisa e Iara o fitou com um sorrisinho em notar que mesmo envelhecendo, Edgar prosseguia interessante.

Ele analisou de longe o pescoço dela e entortou os lábios.

— Perdão, querida. Tu sabes, é mais forte do que eu...

— É eu sei — disse Iara revirando os olhos e se levantando, Edgar então caminhou e se posicionou atrás dela, pegando-a pela cintura e a puxando para perto.

— A culpa não é minha se tu és realmente uma delícia, em todos os sentidos — sussurrou ele no ouvido dela, o que além de deixa-la arrepiada a fez soltar uma risadinha.

— É, eu também sei disso — disse ela convencida. — Sem contar que eu me vinguei.

Iara sorriu maldosa e Edgar passou a mão pelas próprias costas sentindo os relevos dos arranhões feitos em sua pele.

— Acho que estamos resolvidos então.

— Decerto — concordou Iara se virando e colocando os braços sobre os ombros dele — Sabe. É incrível como você conseguiu fingir-se de indiferente esses dias todos, mas foi só eu chamar que correu atrás de mim que nem um cachorrinho.

Edgar franziu os olhos.

— Bah. Claro que não... Eu fui atrás porque eu quis, para fazer minhas vontades, não as suas.

Iara riu.

— Eu sei que você não viveria sem mim.

— Queria ter sua autoestima — debochou.

— Você é orgulhoso de mais para admitir sua dependência de mim, mas nem precisa, eu leio mentes. Bem, agora preciso voltar para meu quarto, me arrumar, essas coisas. Hoje o dia será longo.

Ela deu um beijo de despedida em Edgar, mas ao dar o primeiro passo ele a pegou pelo braço e a puxou de volta.

— Aquele não precisa ser seu quarto — disse Edgar a puxando pela cintura — Porque não volta a deitar-se comigo?

Iara pegou o rosto dele.

— Qual a parte do "estamos separados" que você ainda não entendeu, Edgar?

— A parte em que eu não assinei divórcio algum — respondeu ele com um sorriso maldoso.

— Não assinou ainda, mas vai assinar, não vai? — disse ela em tom ameaçador.

Edgar suspirou.

— Vou, claro que vou, mas enquanto isso não acontece somos oficialmente casados e eu não consigo ver motivo para não nos comportarmos como tal.

Iara cruzou os braços.

— Por que eu não quero...

— Eu posso te fazer querer...

Folclore OcultoWhere stories live. Discover now