A joia de Isis

Capítulo 3

"– Como servirá ao rei com essa cara de descontento? É uma honra servir, Kaphiri, não estrague isso!

Ela estava farta de ter que se deitar com aquele homem. Suas duas esposas não se importavam com as necessidades dele e cabia à elas saciar o faraó.

Um deus vivo.

Em alguns momentos Kaphiri duvidava com todas as suas forças que isso fosse mesmo verdade.

O homem que brilhava poderia ser um deus vivo, mas seu faraó, Kaphiri duvidava.

- Não suporto mais! Que Anúbis o carregue e leve para o submundo! Por Ísis! O que fizemos de tão errado em outra vida para merecer isso?

Sua parceira de penitência a olhou com pesar. Kaphiri era a mulher mais determinada a ignorar todas as tradições que ela conhecia e por esse motivo a considerava extremamente corajosa.

- Que o soberano não lhe ouça ou quem encontrará Anúbis seremos nós!

Kaphiri se deslocou até os aposentos do faraó e se preparou para mais uma noite de provações.

Quando morresse e seu coração fosse pesado na balança, ela de fato seria mais do que merecedora de adentrar no paraíso, ao invés de ser devorada por Amnut.

- Kaphiri! – Ela ouviu seu nome com tristeza.

O soberano a aguardava em sua cama repleta de riquezas e a desejava como ela queria que não o fizesse.

A seda que cobria a luz da lua através do pilar, balançou tempestuosa e Kaphiri não notara, mas um ser poderoso e primitivo não gostara de saber que um humano que merecia tão pouco, poderia tocar a mulher que tanto desejara. Amon poderia ser apenas uma manifestação de poder, mas conseguia sentir claramente a repulsa na mente de Kaphiri.

Mandou um comando silencioso para o Faraó, fazendo com que caísse em um sono profundo e se esquecesse completamente do que desejava fazer.

Amon nunca prestara tanta atenção em uma mortal, porém algo nela o cativara e o deus não conseguia mais se ver livre do desejo.

- Kaphiri.

Ele falou alto, seco. Uma presença poderosa no quarto opulente de seu senhor. Uma presença que ela aceitava com alegria, por imaginar que a tivesse libertado do calvário, por uma noite apenas, mas ainda assim libertado.

- O faraó não a tocará mais.

A voz na cabeça de Kaphiri ameaçou e ela notou que parecia mais um rosnado de uma fera, do que a voz de Amon.

Poderia não ser ele, Kaphiri já não tinha tanta certeza.

- Quem é?

- Amon, Kaphiri.

Um brilho dourado ao lado da seda chamou sua atenção e ela se moveu hipnoticamente até ele, sentindo o calor que atingia a sua pele como o grande sol acima de todos.

Uma bênção.

Se ajoelhou.

- Levante, Kaphiri.

A luz bruxuleou enquanto a voz ficava mais forte. Enquanto ela olhava fixamente para o lugar, a figura do homem se manifestou clara e exuberante na sua frente. Toda a pele sustentando a luz dourada que antes brilhava sem qualquer sinal de presença humana.

Amon levantou a mão para tocá-la, mas desceu-a quando notou o erro e o desastre que causaria.

Não sabia como lidaria com seus poderes quando ela abaixasse novamente a muralha e o controle fosse praticamente impossível.