Capítulo 18 - Uma guerreira

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Anne? — A chamou. — Você ia me dizer algo sobre a bolsa? — Perguntou.

Ela pareceu se recuperar e então abriu a bolsa e tirou uma coisa envolta em um pedaço de pano dali.

— Kol, eu provavelmente já deveria ter mencionado algo antes... — Começou a dizer, deixando o pacote de pano na mesa de centro da sala. — Mas eu tenho tido uns sonhos meio estranhos.

Kol sentou ao lado dela e esperou, preferia não dizer que a tinha escutado naquela noite.

— Começaram assim que me mudei para Clarence. Nos sonhos eu estou sendo perseguida por monstros... — Anne disse e então olhou em seus olhos. — Então, em algum momento do sonho você aparece e me salva.

— Eu apareço em seus sonhos? — Kol perguntou, se ajeitando no sofá de forma a ficar cara a cara com Anne. — Mas espera, você disse que eles começaram quando se mudou. Isso foi antes de nos conhecermos.

Anne assentiu e então continuou.

— Eu sei, é muito estranho. Tinha esperanças de você ter alguma explicação para isso.

Ela o olhava com expectativa.

— Desculpe, estou tão surpreso quanto você. — Ele disse. — Me fala mais sobre esses sonhos.

— No começo, eu só te via na sua forma de lobo. Não tinha como saber que era você, mas quando vi sua transformação no festival eu soube. Além disso, quando estive no hospital, tive um sonho onde você mudava de sua forma de lobo para a sua forma humana. E a imagem que vi em meu sonho, era você.

Kol se lembrou da reação dela quando foi até a fazenda a primeira vez.

— Por isso você se assustou ao me ver a primeira vez que fui a sua casa. Pensei que você tivesse me visto lutar com o Desaurido naquele dia.

— Eu estava perdendo os sentidos naquela hora, só escutei parte da luta. — Anne admitiu. — Meu susto foi porque, até então, você não passava de um sonho esquisito...

Kol considerou tudo aquilo. Será que de alguma forma Loki está tentando contatar Anne através de seus sonhos? Será que tentou avisá-la sobre mim?

— Tem mais, eu tenho certeza de que também vi as Norns em meus sonhos. — Anne continuou. A menção às Norns chamou a atenção de Kol. — Levei um tempo para associar as coisas, mas sei que são elas. Três mulheres tecendo o destino. Uma criança, uma mulher que me pareceu ter uns trinta anos e uma velha. Todas pareciam ser parentes.

— Soa como elas para mim. Urd, a mais velha, responsável pelo passado. Verdandi, o presente. E a mais nova, Skuld, a representação do futuro. — Kol explicou, estava ficando preocupado com o rumo daquela conversa. As Norns raramente se apresentavam a alguém. Ele já tinha escutado de alguns casos, mas nenhum tão recente. — Elas disseram alguma coisa?

Anne pareceu tentar se lembrar de tudo que ouvira delas. Então disse.

— A velha... Urd? — Ela perguntou e Kol confirmou. — É a que mais falava. Sempre me dizendo que não posso mudar o que foi decidido, que não posso salvar os nove mundos e nem a mim mesma. As outras não pareciam concordar tanto assim com ela. Principalmente Skuld.

— Se Skuld discordou de Urd, isso é um bom sinal. Quer dizer que elas não estão certas do seu futuro. — Ele disse, começava a entender porque as Norns estavam observando Anne. Ela é uma incógnita para elas. E eu aposto que Loki sabe disso.

Anne abriu o pacote na mesa, revelando uma adaga ali. Kol olhou, curioso, para a arma.

— No meu último sonho, eu acho que usei algum poder que herdei de meu pai. Estava presa a uma árvore gigantesca e elas iam... — Ela parou, parecia lutar com as palavras. Então respirou fundo e continuou. — Elas iam matar você.

A informação de que as Norns estavam com ele em sua mira fez Kol sentir um arrepio na coluna.

— Eu vi quando Urd se preparou para cortar um fio de lã e eu soube que de alguma forma aquele fio era a sua vida. — Anne continuou sua narrativa. — Eu entrei em chamas. Não sei como, mas meu corpo todo foi tomado pelo fogo que criei. Queimei os galhos que me prendiam e fiz essa arma surgir em minha mão, forjada das chamas.

— Você invocou o poder do fogo. Faz sentido, Loki pode fazer o mesmo. — Ele disse, já tinha considerado aquela opção e agora estava certo disso.

— Eu ia matá-las... eu sei que ia. Não ia deixar que tocassem no seu fio. Você sempre estava pronto para lutar por mim em meus sonhos e eu não ia te deixar na mão. — Anne continuou e Kol percebeu o quão difícil estava sendo reviver aqueles sonhos.

Ele passou um braço pelos ombros dela e a puxou para um abraço. Seu queixo ficou apoiado na cabeça dela e ele sentiu seu perfume doce.

— Hey, fica calma. — Ele disse, acariciando seu braço. — As Norns podem te fazer ver o que pensam ser o futuro, mas você precisa se lembrar do que Janet disse.

Anne levantou o rosto e o olhou nos olhos. Kol viu seus lábios desenharem um sorriso.

— Podemos fazer o nosso futuro. — Ela disse.

— Exatamente, elas não podem nos obrigar a seguir seus planos. — Ele concordou e então a encorajou. — Se quer saber, acho que é por isso que elas fizeram questão de perturbar seus sonhos. Acho que elas temem você.

Kol ficou encarando os lindos olhos verdes de Anne e sentiu uma vontade forte de beijá-la ali mesmo. Sério mesmo? Não temos coisas mais importantes a discutir no momento?

Não podia se dar ao luxo de distrações como aquela. Ele se forçou a se afastar de Anne e olhou para a adaga na mesa.

— Então essa adaga... — Disse, apontando para a arma.

Anne piscou algumas vezes, como que para acompanhar o raciocínio dele. Kol teve a impressão de ver alguma coisa em sua expressão. Por um segundo, ela me pareceu desapontada.

É a mesma de meu sonho. — Anne disse. — Acordei e ela estava na minha cama, não sei dizer como isso aconteceu.

— Essa deve ser uma das artes de Loki. Ele deve ter deixado essa arma com você, para que possa lutar na guerra contra os Titãs. — Kol considerou.

— Nossa, ele espera que eu lute em uma guerra contra coisas tão poderosas, e o melhor que pôde me dar foi uma adaga? — A garota disse, olhando para a lâmina com pouco respeito.

— Se isto é uma arma divina, deve ter algo de especial. Eu não julgaria só pela aparência. — Kol argumentou.

— Mas da onde Loki tirou a idéia de me dar isto? Nunca usei uma arma na minha vida! — Anne disse, ficando de pé.

Kol riu e então se espreguiçou no sofá.

— Nesse caso, — Disse, apoiando a cabeça nas mãos. — já temos o que fazer para passar o tempo.

— Como assim?

— Vou treinar você. — Kol disse, com um sorriso. — Vou fazer de você, uma guerreira.


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A FILHA DO FOGO : DESPERTAR (VENCEDOR DO WATTYS 2018)Where stories live. Discover now