Capítulo 08 - O menino do saco

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O bobo-cuia que puxava o trenó que tinha a máscara de coruja, o mais irritado, resmungava em grunhidos incompreensíveis, enquanto os outros dois trocavam tabefes e beliscos dolorosos. O da máscara de coruja se virou para os dois e começou a bater os pés no chão, largando o trenó de lado com o saco ainda a se mexer com fúria.

— Somte ueq ravel o Sinibio! — bravejou ele. Os outros dois pararam e se olharam. E então os três começaram a discutir de uma só vez.

O saco se agitou, caindo para fora do trenó com um baque abafado, em seguida, uma perna escapou pela boca do saco que estava amarrada de forma descuidada, depois outra perna e os dois braços saíram em seguida, ajudando a tirar o saco por completo.

Era um menino em tons de vermelho e marrom. Estava com uma corda amarrada na boca e havia chorado muito, pois seus olhos estavam inchados e irritados.

Para onde ele iria?

Halva!

Rapidamente, ela quebrou um pedaço de raiz da árvore onde estava escondida e com sua mira calculada, a jogou até acertar nas costas do menino, que estava confuso sem saber para onde deveria ir. Seus olhos se encontraram! Halva e Flora fizeram um sinal para que ele corresse até a árvore e assim ele fez, se jogando para dentro do buraco na raiz quando se aproximou o bastante.

Shhhh! — ela ordenou e tratou de ficar atenta aos Bobo-cuias que ainda brigavam.

— Halva, eles não vão parar! — sussurrou Flora.

Mas então, o que tinha a máscara de coruja olhou para o trenó, apontando com as mãos espalmadas para o vazio do saco e veio o espanto dos três em uníssono. Começaram a gritar e emitir sons que parecia um choro cheio de dor. A cada grito, Flora e Halva sentiam seus pêlos arrepiarem e o garoto logo atrás delas, não parava de olhar para o brilho que saía dos Sinibios das duas garotas, assim como o seu próprio Sinibio brilhava como nunca brilhou.

Os Bobo-cuias não souberam como proceder com aquilo, e começaram a caçar o garoto por cada metro da floresta mimosa, indo os três, na direção contrária de onde ele realmente estava.

A náusea deu lugar a um leve formigamento, depois, uma carícia no estômago e nada mais.

Com isso, Halva presumiu que eles já estavam distantes. E resolveu sair do buraco para examinar a redondeza. Tudo estava calmo e aparentemente livre de Bobo-cuias. Flora saiu do buraco, limpando o vestido e ainda tentando se recuperar daquela estranha sensação que sentira pela primeira vez, seguida de Olati, que sorria e que estranhamente, estava com o cabelo em tons de um azul mais forte.

Curiosa, Halva se voltou para o garoto que ainda estava em meio as raízes, ele estava abraçado aos joelhos e tremia como se sentisse um frio jamais suportável.

O tempo na Floresta Mimosa estava suspenso, enquanto ela queria se concentrar para saber se os Bobo-cuias haviam mesmo ido embora, queria também saber quem era aquele garoto.

— E-eles já foram! — exclamou ela apertando os olhos para vê-lo com mais nitidez.

Não houve resposta nem sinal de movimentos ali. Assustado, Olati estava agarrado a irmã e ambos também encaravam o menino dentro do buraco de raízes.

O garoto obviamente não queria sair dali, parecia estar paralisado ainda pelo medo, ou pela sensação que sentia por estar com aquelas criaturas que talvez não tivesse saído do seu corpo. Halva se irritou com aquilo tudo e decidiu ela mesma tirá-lo dali.

— Não seja um tolo! Nós não vamos machucar você — gritou ela puxando-o pelo braço até que ele estivesse totalmente fora do buraco.

Como um bicho do mato, o menino olhou para trás, como se quisesse voltar para se esconder mais uma vez, foi surpreendido por um beliscão de Halva.

O Inventor de EstaçõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora