Capítulo 15 - Civilização dos Inquebráveis. Parte I

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Estava quente demais, e a luz que os banhava era tão pálida e estranha

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Estava quente demais, e a luz que os banhava era tão pálida e estranha. Todo o céu girava sobre suas cabeças, mas aos poucos, as crianças foram recuperando os sentidos. Já começavam a enxergar com mais nitidez. De pé, Halva examinada a si própria, dando giros ainda cambaleantes para então se convencer que realmente estava em seu tamanho normal. Ela ajudou Flora a ficar de pé e Olati também, pois os dois ainda estavam confusos, assim como Corteo, mas este, não precisou de ajuda para se equilibrar. Depois foi a vez de Tonto, que permaneceu sentado por alguns instantes, olhando para as próprias mãos, ele queria vomitar, ou algo parecido. Seus sentidos demoraram a voltar ao normal, mas então sua mente foi atingida por memórias, lembranças de alguém. Um amigo.

Goque!

De pronto, o menino ficou de pé, e começou a olhar em todas as direções, queria encontrar seu amigo, pois este o esperava. Mas, além da Floresta Mimosa, havia apenas um campo de grama muito verde e aparentemente normal demais. Olhando para a floresta que acabaram de sair, tiveram a impressão de que aquilo não passava de um jardim, mesmo com sua imensidão que se perdia no horizonte até chegar na Floresta de Mármore.

— Que lugar é esse? — indagou Corteo.

— Não deve ser nenhum lugar importante — constatou Halva afundando os pés na grama verde. — Não imaginei que encontraríamos apenas um campo após aquela floresta maluca.

— Não devemos esperar nada desse mundo. Eu nem mesmo sabia da existência da floresta de Mármore e olhe onde estamos. Deve haver muito mais que isso — finalizou Corteo.

E ele estava certo, embora sua certeza lhe causasse formigamento no estômago. Havia algo errado em tudo aquilo, pois em suas vidas, aquelas crianças nunca ouviram falar em nada além dos seus próprios vales. O conhecimento do seu próprio mundo não estava em suas mãos, e por lástima, estavam sendo obrigados a enfrentar todo aquele desconhecido sem ao menos saber o que encontrariam. Era como estar, de repente, em um outro mundo.

— É como estar em um outro mundo — falou Tonto, melancólico.

Todos olharam para ele e viram sua expressão tão preocupada, cheia de tons amarelados de medo.
— Você está bem? — perguntou-lhe Halva.

— Estou — respondeu ele coçando a cabeça. — Mas eu esperava encontrar alguém aqui desse lado. Era para ele estar aqui.

— Alguém?

— Um amigo que conheci na floresta de Mármore, ele falou-me que estaria aqui, do outro lado da Floresta Mimosa.

— Talvez esse não seja o mesmo lado que ele te falou. Pode estar para aquele lado — Halva apontou para além da Floresta Mimosa, o lado oposto ao  que estavam. Mas, se Goque estivesse esse ali, seria visível, pois a floresta não passava dos joelhos de um homem adulto.

Tonto negou com a cabeça, pois ele não estava daquele lado, nem do outro. Goque não estava ali e ele não queria acreditar nisso.

— Seu amigo vai aparecer, você demorou para atravessar a floresta Mimosa. Ele deve estar em algum lugar procurando comida — falou Halva olhando ao longe, para além do horizonte verde daquele campo.

— Nós não vamos ficar aqui esperando por ele, não é? — exaltou Corteo.

— E se eu quiser esperar? Na verdade, eu vou esperar por ele — retrucou Tonto.

Os dois mais uma vez trocaram tabefes através de seus olhares cortantes. A sorte era que ambos estavam distantes e entre eles, estava Halva, carrancuda e decidida a estapear os dois se fosse necessário.

— Então fique aí, seu bobalhão! Assim, um bobo-cuia te pega e se distrai com você enquanto a gente foge — bravejou Corteo virando as costas para o garoto amarelo.

Flora acompanhava aquela discussão como quem queria interromper tudo e amenizar as coisas com um abraço e talvez cantigas alegres sobre as borboletas, mas ela nem precisou tentar, pois sabia que não adiantaria em nada.

— Nós temos que seguir — disse Halva por fim. — Precisamos mesmo sair daqui. Tonto, você quer mesmo ficar?

Aquela era uma pergunta que nem mesmo ele conseguia responder para o seu coração. Parte de seus pensamentos gritava para que ele ficasse e outra parte dizia para continuar.

Talvez ele esteja seguro em algum outro lugar, me esperando, foi o que pensou.

Deve-se dizer, que para todos ali, era difícil tomar a decisão de abandonar alguma coisa, ou deixar algo para trás. Visto que, nenhuma das crianças queriam lembrar de seus lares daquela forma. E vendo que Tonto tinha que tomar uma decisão como essa, todos lembraram melancolicamente de seus pais e avós, seus vales e suas vidas. E todos sentiam a angustia do menino, como se houvesse um fio de conexão entre eles, permitindo sentir as mesmas emoções, mesmo que não na mesma intensidade. E, sentindo o peso de tudo aquilo, Tonto caiu sobre a grama, ajoelhando-se e cobrindo o rosto com as mãos. Espantada, Halva se aproximou, mesmo que não soubesse o que fazer, apenas tocou sua mão pálida no ombro do garoto e em seguida foi a vez de Flora e Olati se aproximarem. Estavam compartilhando da mesma dor, até mesmo o garoto birrento em tons de ferrugem, olhou para trás e viu a cena dos quatro agachados na grama e sentiu em seu peito, algo lhe tocar profundamente.

O que aconteceu em seguida, não foi muito agradável. Uma desventura, mais uma talvez.

Perdidas naquela estranha sensação, as crianças não perceberam algo acontecer ao redor e talvez, mesmo se notassem, não adiantaria mais.

E foi isso: do chão ao redor, uma espécie de fumaça rosa começou a surgir lentamente, com tentáculos dançantes a se aproximar das crianças. No início era tímida, mas foi ganhando força e coragem, até rodear os cinco e então alguns começaram a tossir. Corteo inalou da fumaça e tentou se afastar dela agitando as mãos, mas seu corpo parecia atrair aquela coisa. Assim como Halva que tossia sem parar, ainda tentou cobrir as narinas com a manga do vestido, mas já havia inalado tanto daquela fumaça rosa, que logo perdeu os sentidos e os domínios sobre seu corpo.

— O que está acontecendo? Estamos perdidos — ela ainda conseguiu falar, embora sua voz estivesse distorcida e inaudível.

Envolvidos por toda aquela fumaça, não conseguiram ver nada do que aconteceu em seguida, pois estavam adormecidos.

Era possível ouvir ao longe, bem distante, vozes grossas e roucas demais para conseguir identificar uma palavra e vultos enormes rodearam os cinco.

Era possível ouvir ao longe, bem distante, vozes grossas e roucas demais para conseguir identificar uma palavra e vultos enormes rodearam os cinco

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