Vinte e Quatro

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Peter atravessou a grande sala, seguido por Catherine. O sentimento de raiva o invadia por completo. Agora que ele parecia ter completado o quebra-cabeça, concluiu que odiava este lugar. Odiava a mentira que este lugar inspirava. Odiava o ser que se tornou e, principalmente, odiava ter que se olhar todos os dias no espelho e ver que aquele corpo já não era mais o seu, e sim o de uma criatura feia e tatuada.

A esta altura, Kyle tinha reunido um grande número de criaturas no jardim. Era a hora de Peter tomar posse do que era seu, era a hora dele assumir o reino que sempre foi seu. Passaram pelos guardas, que ficaram estupefatos por verem Peter ainda vivo. A sala do conselho estava vazia, e isso fez com que o garoto tivesse que procurar Ethan no único lugar onde ele realmente poderia estar: em sua sala.

Quando chegaram ao corredor, Peter diminuiu os passos. A porta da sala de Ethan estava encostada e uma conversa pairava no ar.

– A culpa disto tudo acontecer é sua, aposto que você sempre soube que era a Catherine e preferiu guardar segredo, não é mesmo? – Era a voz de Ethan. – Pois bem, agora de mais nada vale aquele coração.

– Ora Ethan, não se faça de bobo, se você soubesse que a garota era a namorada dele você já teria apanhado o coração para si. Pensa que não conheço o meu próprio irmão? Nessa história eu posso ter me tornado um demônio, mas tenho a certeza de que você tem uma mente mais perversa do que a de qualquer ser das profundezas.

Ethan riu.

– Vamos admitir que a ideia de você surgir com as suas almas no acampamento e tatuar sua caligrafia no braço de uma criança não foi nada ruim... Eu mesmo gostaria de ter escrito na pele de Allyssa, adoraria ter de ouvir seus gritos.

De súbito, um poder maligno dominou Peter. Ele queria invadir a sala, queria acabar com a vida de Ethan ali mesmo, mas foi impedido por Catherine.

Quem era Ethan?

– Quando você cravou o punhal em meu peito eu te odiei, Ethan. Sempre querendo mais, sempre querendo o que é meu. – disse a sombra, o irmão de Ethan. – Eu prometi que você não sairia impune. Fiz acordos com entidades, vendi a minha alma e, se eu tivesse o coração, poderia voltar à aparência que você me roubou. Agora já não posso mais, serei sempre uma fumaça negra, um demônio, enquanto você goza de poder. – a voz da sombra era medonha e brutal. – Juro, Ethan, que, se existir outro jeito de voltar a ser o que eu era antes, eu o matarei. Beberei de teu sangue e comerei de tua carne até a sua última vértebra.

A ideia criou um estado de repulsa na mente de Peter. No campo de visão do garoto estava lá, a fumaça negra num formato bípede. As coisas pareciam bem claras agora. Ethan queria o coração, para dominar os mundos; seu irmão queria o coração para ter sua aparência de volta, e para poder vinga-se do irmão, numa aliança inútil. As histórias que a criatura contava eram todas arquitetadas. Ninguém realmente sabia o que os Igniscruor queriam, mas o motivo deles terem consigo um bruxo era o mesmo motivo pelo qual, aparentemente, os Ignisalbus estavam lá, ou seja, eles também queriam trancafiar o coração de Catherine. Na verdade quem era o vilão desta história? Ethan, seu irmão, os Igniscruor ou, quem sabe, até mesmo Catherine?

Peter empurrou a porta.

Antes de desaparecer, os olhos da sombra focaram os de Peter, com um olhar que ele não soube identificar se assustado ou talvez curioso.

– Pelos deuses, que diabos é isto?!

Pelo tom da voz, podia-se perceber o desespero de Ethan, ele não podia acreditar que Peter estava mesmo vivo. Peter atravessou a sala em fúria excessiva e agarrou o pescoço de Ethan, que gritou atônito, com os olhos esbugalhados como se estivesse vendo o diabo em pessoa. O garoto queria estrangular a criatura, queria desmembrar o ser diabólico com as suas próprias mãos.

O último AdãoWhere stories live. Discover now