Capitulo Dezessete

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Todos estavam tentando traçar uma nova rota, já que eles tinham perdido uma boa parcela do tempo que lhes restava, com as adoráveis sereias. Lizzie havia sugerido ir pelo caminho mais curto, porém mais perigoso; Ethan sugeriu irem pelo caminho mais longo, para evitar qualquer imprevisto, mas a questão não era o perigo e sim chegarem à montanha antes dos Igniscruor.

A discussão chegou ao fim quando Peter, aquele que agora assumira ser o alfa, decidiu que iriam pelo caminho mais curto, mesmo porque, o perigo era apenas uma hipótese, sem esquecer de que Peter tinha desenvolvido total confiança em Lizzie, condição que Ethan não conseguiu conquistar.

Sem pestanejar, as criaturas montaram em seus cavalos e seguiram rumo ao norte. Fazia bastante frio, pequenos flocos de neve rodopiavam no ar e se alojavam em qualquer superfície. Era possível se distrair com as flores afogadas em lama e gelo que marcavam a paisagem, com os gritos dos animais – até então inofensivos – e, às vezes, a cantiga de ninar que a mãe de Peter ensinara a Allyssa, escapava dos lábios da garota que tentava se distrair e ao mesmo tempo não esquecer de quem a ensinara a cantar pela primeira vez.

Peter a todo instante sentia-se à deriva, como se, repentinamente, uma flecha fosse atingir o seu peito e tudo terminasse ali. Mas logo ele desfazia esse pensamento, porque agora ele sabia o real motivo para estar neste mundo. E ele queria, mais do que nunca, acertar nas suas escolhas.

“Quando você nasceu, meus olhos encheram-se de lágrimas, porque, no momento em que o vi, eu soube que seria um grande homem, que encontraria uma saída para todas as escolhas que a vida lhe impusesse, e hoje vejo que não me enganei, se tornou mais do que um grande homem Peter.”

A voz de sua mãe era suave, parecia momentaneamente longe, mas mesmo assim ele podia ouvir cada palavra que ela dizia, sentada na beirada de sua cama, após o seu pai falecer, quando ele tinha onze anos de idade.

Uma lágrima escorreu do rosto de Peter; não por medo, não por coragem, mas por saber o quanto dói ver que quem você ama não está mais perto de você... E ele queria, mais do que qualquer outra coisa, que a sua mãe estivesse ao seu lado. Queria poder dizer a ela o quanto cresceu, quem ele era agora. Não importava o que tinha feito desde que colocou os pés ali, ele só tinha certeza de que sua mãe sentiria orgulho dele... Só que ela não estava ali e Peter se perguntava: onde está a saída?

Atrás de Peter, Catherine sentia tanto frio que os seus dentes trincavam-se sem controle. Estavam caminhando a horas sobre aquele terreno irregular e, se não tivessem uma bruxa como companhia, jamais chegariam ao seu destino final. Eles sabiam que os cavalos não resistiriam tanto tempo ao frio, e era nessa parte que Lizzie entrava, mantendo-os sempre aquecidos com os seus feitiços.

Catherine envolveu seus braços no corpo de Peter e a tatuagem – que agora começava a ganhar o braço do garoto – resplandeceu um pouco de luz, que logo se pagou. Pelo canto do olho Peter pôde perceber o espanto que isso causou em Lizzie, na verdade ele mesmo não entendia o porquê de sua tatuagem acender.

* QUINTO FATO QUE PETER DESCONHECIA *

Quando nos apaixonamos, sempre é difícil dizer adeus e, às vezes, é surpreendente como os humanos se apegam ao amor.

Peter admitia para si mesmo que estava começando a gostar do planeta Ignis, de suas criaturas estranhas, duma certa bruxa e – não podia esquecer – das sereias. Só que, no fundo, ele sabia que não pertencia àquele lugar.

A noite veio depressa, o corpo de Peter estava dormente e ele quase chegou a pensar que morreria de hipotermia, mas parecia óbvio que não seria naquele momento que ele partiria. Afinal, quando o santo é ruim, não tem reza que dê jeito.

O último AdãoWhere stories live. Discover now