Vinte e Um

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– Nunca vi esse tipo de pegada antes.

Lizzie estava agachada na neve, quase enfiando os olhos no branco gelado, que vez por outra parecia engoli-la feito areia movediça.

Todos estavam tentando descobrir que tipo de pegadas eram aquelas na neve. Se bem que as marcas não pareciam ser uma coisa tão estranha assim. Qualquer um poderia ter feito aquelas pegadas por brincadeira e para Peter isso parecia arte de Ethan, da criatura calma.

– Para mim, isso não passa de um pé quarenta e quatro. – disse Peter sentado num tronco de árvore antes coberto por uma camada fina de neve. – Vocês fazem mistério com tudo, hein? Se uma folha de árvore cair, quem a derrubou? Quem será este ser que derrubou a folha da árvore?

Lizzie passou o dedo de leve sobre uma das pegadas.

Fazendo piada com as preocupações da bruxa, Peter mordeu uma cereja congelada. Ainda agachada, Lizzie farejou a pegada, feito um cão vadio cheirando a comida; o garoto não conseguiu inibir o riso. Enquanto Lizzie se concentrava, Peter colocou a lã e a cota de malha, vendo seus dedos cobertos de bolhas por conta das rédeas.

– Por que você não larga de bancar a detetive e segue estas pegadas de uma vez? Isso seria o mais certo bruxa.

– Aham. Então você realmente acha que eu já não fiz isso? As pegadas simplesmente desaparecem na floresta... Parece arte de alguém que sabe voar ou talvez que possua um saber mágico.

As criaturas desarmavam as barracas de uma forma ágil. Todos estavam vestidos com grossos mantos negros com bordados vermelhos, com a figura de um cálice. A tatuagem agora ganhava o pulso, atingindo também o seu joelho e alcançando a garganta de Peter, numa forma fantasmagórica.

Existia motivo para que ele se desesperasse?

– Já parou para pensar que a neve deve ter coberto as outras pegadas? Eu ainda continuo com a minha tese de que isto é um pé, ok?

– E eu ainda continuo com a tese de que tinha alguém nos vigiando... Talvez as sombras? Ou os demônios? Quem estava aqui?

– Tá legal, fico com o ser misterioso. Agora vamos, Lizzie, pegue suas coisas, não vamos perder o tempo que nos resta.

Peter amarrou a pedra de Amita em um cordão, depois amarrou em seu pescoço. Ele acariciou a cara do corcel, que relinchou soltando baforadas gélidas que se perderam no ar. Um líquido quente escorreu do nariz de Peter, fazendo com que ele levasse a mão à face, que tinha um leve tom arroxeado, como se tivesse levado bofetadas e beliscões a noite inteira. Na luva negra o vermelho de destacou no couro.

Sem a luva Peter limpou o sangue com as costas da mão e apanhou um punhado de neve que foi levado ao seu nariz. Ninguém percebeu que ele tinha sangrado, ou se perceberam souberam fingir.

– Só estou tentando te proteger, seu idiota. Mas tudo bem, não vou mais falar nisso. Danem-se as pegadas, dane-se a proteção, temos todos o mesmo objetivo aqui. – resmungava Lizzie, amarrando as rédeas de seu corcel.

Vendo duas gotas de sangue na neve Peter espalhou o gelo com os pés, cubrindo-as.

Nestes dias de frio, quase todos os alimentos tinham congelado, e apenas a água mantinha-se no estado líquido. Peter descobriu que nada aqui era normal e, de certo, de alguma forma ele deveria amar este lugar, porque ele também não se sentia normal.

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Kyle olhava para Lizzie, como se fosse devorá-la e, se Peter não se enganava, o desejo da criatura pela bruxa era tão extraordinário, quanto ele pensou que seria.

O último AdãoWhere stories live. Discover now