Vinte e Dois

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A chegada da manhã foi algo que Peter tentou adiar, desde que foi para sua cabana dormir. O único problema foi que ele não conseguiu obter êxito em sua tarefa de fechar os olhos. Agora ele tinha um rosto banhado em sono, um desconforto mental e uma tatuagem pronta para concluir sua metamorfose.

Em um campo aberto, tanto as criaturas, quanto os elfos, treinavam com as espadas, com arco e flecha e ensaiavam algumas estratégias para evitar que se tornassem alvos fáceis. O mais incrível do treino foi ver o que as elfas conseguiam fazer com o cabelo. Sim, elas usavam o cabelo como uma espécie de chicote. A primeira vista, aquilo parecia estranho, fazia com que Peter se sentisse preso em um RPG.

Treinaram o bastante, para o garoto se sentir exausto e ficar com o cabelo pingando suor. Comeram, beberam e descansaram por algumas horas.

– Espero que mantenha a promessa de cuidar de Allyssa por mim. É hora de dizer adeus.

Peter estava sério, mas já não sentia medo de seu destino. Pelo menos não naquele momento.

Catherine concordou com a cabeça. Os dedos de Peter escorregaram pelo cabelo dourado de Cath e a sua respiração ofegante parecia um dos primeiros indícios de um coagulo sanguíneo. Nada parecia no lugar, e Peter via no rosto da garota que sempre amou um desenho aterrorizador, traços que não condiziam com o semblante que ele sempre iria guardar em sua mente. Seus lábios tocaram-se e misturaram-se às lágrimas que escorriam do rosto de Cath. Agora existia um medo. Uma coragem. Uma mistura do querer e do perder. Um amor estranhamente tatuado.

– Eu te amo tanto. Independentemente de qualquer coisa, independentemente de qualquer ação, eu te amo.

O peso do corpo de Catherine estava em cima do de Peter; os dedos frios dela acariciavam o rosto do garoto. Ela sentia medo. Ele sentia dor, mas soube que sempre seria ela.

Dali em diante nada pareceu mudar, porque ali estava Peter, pronto para o fim, pronto para o desfecho de uma história que ele sempre aguardou e não seria agora que ele adiaria sua finalização. Ninguém mais do que ele sabia o que era deitar e não consegui dormir, ninguém sabia o que era ter o seu tempo cronometrado por uma tatuagem. Só Peter sentiu na pele cada segundo de pertencer a um mundo que sempre foi seu.

Quando avistaram a Montanha Thura, Peter sentiu alívio imediato e, ao mesmo tempo, imenso terror. A tatuagem agora estava em seu pulso, e era só o que ele poderia ver, já que a bota e calça dificultavam a visão da outra ponta da tatuagem.

Pararam em um campo bastante plano. O som do vento uivando era traduzido em um frio de fazer ranger os dentes, enquanto a neve caia aglomerando-se em qualquer superfície. Um anel feito de nuvens rodeava a montanha, criando um clima fantasmagórico. Peter procurou pelas criaturas, procurou por tatuagens negras. Nada. A montanha estava vazia.

Teriam eles conseguido o que queriam?

Ao descer do corcel, Peter deu dois passos e avistou uma fenda na rocha, acertando ao pensar que aquele era o santuário onde o coração deveria ser trancafiado. Parados e expostos ao frio, o grupo ficou ali, a ranger os dentes, por quase meia hora.

– Muito bem, onde está a garota?! Será que ela estará realmente aqui? Ou...

Ele não teve coragem de falar, mas a mesma pergunta pairava na mente de todos ali: será que os Igniscruor já haviam capturado o coração?

Peter engoliu as palavras, ao ver uma enorme tropa se aproximar. Homens com tatuagens negras e fortes músculos. Vozes ecoando na montanha, como se nada mais estivesse ali a não ser eles.

– Confiem em mim e esqueçam a garota por um instante, eles ainda não conseguiram o que querem, vamos atacar, porque se ganharmos a guerra teremos mais chances de conseguir o coração. – Ethan expôs sua ideia.

O último AdãoWhere stories live. Discover now