Capítulo 14 - Wulfenkind e o deus do fogo

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— O quanto Kol te contou sobre o que nós somos? — Malcolm perguntou, sorrindo enquanto a olhava nos olhos.

— Ele me disse que vocês se transformam em lobos. Deixou a entender que são fortes e bem resistentes. — Anne disse, recordando as palavras de Kol na nascente do rio. — Mencionou também que o nome que usam para se referir a si mesmos vêm do alemão.

Ela se lembrou que aquela parte não era exatamente verdade. Então se corrigiu.

— Não, não era isso. Ele mencionou que vinha do antigo linguajar dos povos nórdicos.

— Precisamente. — Malcolm concordou. — Os Wulfenkind traçam suas origens até a Europa setentrional e do Atlântico norte. Onde hoje existem países como a Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia.

— Onde os deuses nórdicos eram cultuados antigamente. — Anne disse.

— Sim, e nossa espécie viveu entre os homens do norte, os famosos Vikings como viriam a ser lembrados. — Malcolm continuou a explicar. — Para os nórdicos, os Wulfenkind eram guerreiros ferozes e temíveis em combate. Diziam que eles lutavam como se fossem verdadeiros animais selvagens. Eles estavam muito certos quanto à essa parte. Posso mostrar a você algumas coisas sobre a nossa história?

Anne concordou, tinha sido fisgada pelo modo com que Malcolm falava sobre seu povo.

Ele a guiou até uma porta, em um pequeno corredor entre a sala de estar e a área da cozinha.

— E aqui é o meu humilde escritório. — Disse, abrindo-a e dando passagem para que ela entrasse.

A decoração ali era de bom gosto, como o resto da casa. Uma estante lateral exibia uma coleção invejável de livros. A mesa de madeira na sala tinha um ar clássico e moderno ao mesmo tempo, nela repousavam um macbook, alguns cadernos e livros. Tudo indicava que aquele era um ambiente de trabalho.

— Nossa, você tem um escritório muito legal. — Ela disse, parada no meio da sala, olhando para os títulos dos livros nas estantes.

Notou que boa parte deles se tratava de enciclopédias, livros de história geral, religião e muitos, mas muitos livros tratando de paganismo em diversas culturas.

— Acho que entendo por que o Kol disse que esta é sua especialização. — comentou.

— Eu sou professor de história, com especialização em culturas antigas, leciono na faculdade de Buffalo. — Malcolm explicou, indo até sua mesa, parou para pegar um livro grosso e de capa de couro na sua estante e sentou em sua cadeira de trabalho.

Anne sentou em outra cadeira e ficou ali, observando aquela sala, enquanto Malcolm folheava seu livro à procura de uma parte específica.

— Aqui está. — Disse, deixando o livro aberto na mesa.

Indicou a ilustração de um grupo de guerreiros, como os Vikings que ela já vira em séries de televisão, lutando contra um único guerreiro.

Este, não tinha armas, mas suas mãos mostravam garras poderosas e a cabeça dele não era humana e sim a de um lobo feroz. A legenda da imagem dizia: Wulfenkind, o lobisomem do norte.

— O termo lobisomem não é muito acurado, se me perguntar, mas há quem discorde. — Malcolm comentou.

— Kol pareceu bem ofendido quando perguntei se era isso o que ele era. — Anne disse, analisando a figura.

— O mito do lobisomem é algo comum em muitos povos. Para os gregos eles eram os filhos amaldiçoados do rei Lycaon, soberano de Arcádia. — Malcolm disse, parecendo bem a vontade com a conversa. — Mas em muitas dessas histórias um lobisomem é alguém que se transforma em um monstro irracional e sempre perigoso.

A FILHA DO FOGO : DESPERTAR (VENCEDOR DO WATTYS 2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora