Ideia arriscada

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Há muito não me sentia tão satisfeito como essa noite. Depois de cumprir minha missão e alegrar o dia da garota durona e mal humorada que estava triste e isolada do mundo, podia me sentir um pouquinho em paz. Eu consegui me divertir ao seu lado e ao lado de todas as pessoas presentes na lanchonete depois que tudo saiu melhor do que imaginei. Além de cantar, Samantha interagiu com as pessoas, com brincadeiras ou pedidos especiais e, ainda, com o destaque para a triste mulher traída pelo noivo. Cantar aquela música e fazer as lágrimas daquela mulher se transformarem, mesmo que momentaneamente, em sorrisos, só deixava ainda mais claro o carisma e o brilho natural que Samantha tinha para a música e o palco. Ela nasceu para brilhar.

Era tão fácil lidar com tudo isso que, de repente, percebi que começava a parecer com meu pai, bancando o caça talentos pelas ruas de Nova York. A diferença entre nós era o diamante bruto que havia cruzado meu caminho quando eu jamais pensei em procurá-lo. Samantha surgiu em minha vida e tudo aconteceu, eu não procurei por ela nem pelo seu talento. Com meu pai era diferente, pelo menos no início, já que agora as pessoas iam até ele.

Entre todas as coisas que eu desejava fazer, dar ao mundo a chance de conhecer Samantha e seu precioso talento se tornava uma das mais importantes.

...

Minha mente ainda estava ocupada em repetir "Hey Jude", a última música que cantamos hoje no Doran'z, a melhor parte da noite, com certeza. Acho que não toquei tão mal, mas precisava treinar mais um pouco já que teria que repetir a função de banda solitária de Samantha. Eu estava exausto e precisava dormir, mas não conseguia me desligar do mundo quando minha mente ainda funcionava tão rapidamente e meu corpo tinha adrenalina correndo pelas veias.

Eu sabia que deveria permanecer deitado na cama, pronto para dormir, mas tudo surgia diante dos meus olhos e ouvidos tão depressa que eu não podia esperar. O caderno estava no mesmo lugar de quando o joguei longe depois do meu desentendimento com Samantha. Desisti oficialmente de dormir e me levantei, abrindo o caderno e rabiscando meus pensamentos e melodias aleatórias.

Nem me lembro que horas marcava o relógio quando, finalmente, peguei no sono.


Não imaginei que fosse tão tarde, mas quando abri o notebook e olhei no canto da tela já passava das quatro da manhã. Eu sentia uma inspiração que me consumia vorazmente, o que jamais havia acontecido. Abri o bloco de notas e comecei a escrever o que vinha em minha cabeça. Era a segunda vez que uma inspiração súbita tomava conta de mim, e igualmente à primeira, eu não podia desperdiçá-la.

Samantha Walker, a garota do sonho americano.

Era óbvio que eu estava pensando alto, mas não era lá um título muito ruim. A história de Samantha, ou uma versão alternativa dela, seria o tema do meu trabalho de final de semestre. O que mais um jornalista aspirante a crítico musical, meu eu do futuro, poderia escrever? A inspiração estava logo ali ao meu lado, por que não usá-la?

O fato do meu professor ser o único a ler o trabalho ajudava, e no final eu mostraria o artigo a Samantha e podia apostar que adoraria. Eu poderia até usá-lo na minha tentativa de mostrá-la o quão talentosa era e como precisava acreditar mais em si mesma. Sendo assim, a ideia de pôr sua história no papel era fantástica.

Ela tinha uma história rica e emocionante, com um final brilhante em potencial, com ela alcançando o sucesso. Eu conseguia apostar minhas fichas nisso, que um dia Samantha seria famosa e que o mundo teria conhecimento de seu talento, então sentia segurança em afirmar tudo o que escrevia. E se por acaso não desse certo, a matéria não passava de um trabalho, era fictício.

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