Capítulo 28

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Disponho umas torradas com patê no centro de mesa e separo duas taças. Procuro meu CD de Coldplay e acabo esbarrando no DVD de Harry & Sally. Preciso devolvê-lo ao Igor. Sempre
esqueço!

Deito no sofá e tento relaxar. De repente me vem à cabeça aquele encontro com Greta e o que ela disse sobre Bruno. Vou falar com ele sobre isso. Ele está demorando. Na verdade, nem disse a hora em que viria. Por isso, estico o braço e pego uma torradinha.

  Já ouvi todo o CD e até agora ele não apareceu. Já verifiquei o celular mil vezes e não há nenhuma mensagem. Já comi umas dez torradas, já me olhei no espelho e troquei de roupa. Tudo isso para não ceder à vontade louca de telefonar.

Uma mulher de verdade. Sem aquelas picuinhas de garotas. Relembro o que ele disse no barco. Eu posso ser essa mulher? Afinal, realmente preciso ser menos impulsiva e ansiosa. Mas ainda assim, pego o telefone e disco seu número.

Está chamando. Ensaio umas coisas para dizer. Vou tentar não parecer desesperada.

- Alô? - ele diz.

- Bruno! Você... - paro e tento me acalmar. - Você está bem? - pergunto.

- Princesa... - ele sussurra. - Estou no meio de uma reunião.

Reunião às 10 da noite?

- Ah... Reunião?

- Desculpe. Aquele cliente... - ele diz. -Eu ligo depois.

- Tá bom. Tudo bem - digo. - Depois a gente se fala. Um beijo...

Deixo-me cair no sofá. Por que não posso tê-lo o tempo todo?

Subitamente penso sobre ele estar com alguém. Não. Ele não faria de novo. Ele mudou. As pessoas mudam, não é? Se não mudassem, o mundo estaria perdido. Pego minha bolsa e saio para me distrair. Vou até o café da esquina.

A rua está movimentada, apesar da hora. Talvez todas essas pessoas estejam precisando de um café. Eu estou feliz. Eu sou feliz. Eu tenho o cara que sempre desejei ter. Mesmo depois de tudo o que ele me fez. Era isso que eu queria: tê-lo comigo, arrependido, me amando.

Meus passos ficam cada vez mais rápidos enquanto minha cabeça quase explode em pensamentos. Eu só preciso tê-lo mais perto. E isso vai acontecer naturalmente. A verdade é que estamos nos readaptando um ao outro.

Ah, meu Deus! Passei do café! Paro e coloco a mão na testa ao ver que já estou distante. Estou, estranhamente, quase em frente ao prédio de Igor. Eu poderia subir. Aproximo-me da entrada, mas paro, hesitante.

O que há? Eu fiz isso tantas vezes! O porteiro até já me deixava entrar sem anunciar. Mas agora, não consigo dar um passo a mais. Ah, quer saber? Forço-me a subir os degraus até a guarita.

Não. E se ele estiver com ela? Dou meia-volta.

- Boa noite! - ouço o barulhinho da entrada sendo liberada.

- Oi! Boa noite! - respondo.

- Seu Igor está em casa. Pode subir - o porteiro avisa.

- Ah, certo. Eu vou - entro no prédio.

O elevador chega e aperto o doze. À medida que os andares mudam no monitor, penso sobre o que devo dizer ao aparecer depois das 10 no apartamento dele. Isso é ridículo, porque já apareci aqui tantas vezes até depois da meia-noite só para conversar bobagens.

Eu deveria ter perguntado se ele estava sozinho.

Paro no hall bem decorado do prédio e hesito. Minhas mãos estão suadas. Que bobagem é essa? É só Igor. Não é o Presidente da República. Aperto o botão da campainha e espero.
Olho para os lados e para cima. Eu deveria ter algo nas mãos para dizer que estava passando porque fui comprar pão, por exemplo. É melhor eu ir embora. Dou um passo para o elevador quando a porta se abre.

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