Capítulo 23

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Estou deitada no sofá, segurando o receptor do telefone, indecisa sobre ligar ou não para minha mãe. Por que eu não consigo chegar e falar tudo o que sinto para as pessoas? Por que eu tenho essa mania de ficar remoendo sozinha e me fazendo de forte?

Ouço o bip de chamada e penso em desistir. Mas aí ela atende.

- Oi.

- Sarah! - ela parece animada. - Como você está, filha?

- Bem.

- E o trabalho?

- Está tudo bem no trabalho... mãe... - digo, hesitante.

- Sim?

- Se eu fizesse uma coisa muito ruim... Vocês ainda me amariam? - acabo perguntando.

- O que foi que você fez? - ela parece assustada.

- Nada! Não fiz nada. Só estou perguntando...

- Não estou gostando dessa conversa, Sarah. Estou sentindo que você se meteu em encrenca - ela começa.

- Não mesmo, mãe. Só queria saber se vocês achariam muito ruim se eu aparecesse amanhã no aniversário da vovó com um... namorado - minha respiração está curta.

Ela fica em silêncio por alguns segundos.

- Meu Deus, Sarah! Você se apaixonou por um bandido. Foi isso? Você participou de alguma ação criminosa e está fugindo da polícia? - ela começa a falar desesperadamente quando a
interrompo.

- Claro que não! - quase grito.

- Então, o que houve?

- Não houve nada. Eu só queria saber se vocês não se importariam de ter alguém... não íntimo na festinha familiar - minto.

- Mas que bobagem. Por que nos importaríamos com isso?
O que ele faz? - posso imaginá-la se aninhando no sofá, abraçando
as pernas e apoiando o telefone entre o queixo e o ombro.

- Ele é publicitário - eu digo quando ouço a campainha tocar.

- Publicitário?

- É. Mãe, preciso atender a porta. Amanhã nos encontramos, então. Um beijo.

- Outro, filha. Até amanhã. Estou curiosa agora sobre seu novo namorado.

  Acho que telefonar para mamãe não foi a melhor coisa a se fazer.

Levanto e me dou uma olhada no espelho da sala. Dessa vez caprichei no visual. Coloquei um vestidinho preto e curtinho e dei umas borrifadas com meu perfume favorito. Ele chegou cedo hoje. Jogo os cabelos para frente e para trás antes de abrir a porta, respiro fundo e giro o trinco.

- Igor? - digo, surpresa.

Eu não esperava vê-lo hoje. E nem me preparei para isso. Ele me olha toda arrumada e sorri meio sem graça.

- Ocupada?

- Não! Entra - faço um gesto com a mão.

Agora estou mesmo encrencada. A qualquer momento Bruno pode chegar e não acho que eles vão gostar da situação.

- Você ia sair? - ele pergunta, andando até o sofá.

- Nada - respondo. - Senta. Quer um refrigerante?

- Não, obrigado - ele se senta, mas parece desconfortável.

Sento no pufe à sua frente e fico mexendo no controle remoto da TV, sem olhá-lo nos olhos.

- Sarah, vim aqui porque preciso te contar uma coisa.

- O que é? - encaro-o como se não imaginasse.

- Eu e Renata estamos namorando.

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