Estou deitada no sofá, segurando o receptor do telefone, indecisa sobre ligar ou não para minha mãe. Por que eu não consigo chegar e falar tudo o que sinto para as pessoas? Por que eu tenho essa mania de ficar remoendo sozinha e me fazendo de forte?
Ouço o bip de chamada e penso em desistir. Mas aí ela atende.
- Oi.
- Sarah! - ela parece animada. - Como você está, filha?
- Bem.
- E o trabalho?
- Está tudo bem no trabalho... mãe... - digo, hesitante.
- Sim?
- Se eu fizesse uma coisa muito ruim... Vocês ainda me amariam? - acabo perguntando.
- O que foi que você fez? - ela parece assustada.
- Nada! Não fiz nada. Só estou perguntando...
- Não estou gostando dessa conversa, Sarah. Estou sentindo que você se meteu em encrenca - ela começa.
- Não mesmo, mãe. Só queria saber se vocês achariam muito ruim se eu aparecesse amanhã no aniversário da vovó com um... namorado - minha respiração está curta.
Ela fica em silêncio por alguns segundos.
- Meu Deus, Sarah! Você se apaixonou por um bandido. Foi isso? Você participou de alguma ação criminosa e está fugindo da polícia? - ela começa a falar desesperadamente quando a
interrompo.
- Claro que não! - quase grito.- Então, o que houve?
- Não houve nada. Eu só queria saber se vocês não se importariam de ter alguém... não íntimo na festinha familiar - minto.
- Mas que bobagem. Por que nos importaríamos com isso?
O que ele faz? - posso imaginá-la se aninhando no sofá, abraçando
as pernas e apoiando o telefone entre o queixo e o ombro.- Ele é publicitário - eu digo quando ouço a campainha tocar.
- Publicitário?
- É. Mãe, preciso atender a porta. Amanhã nos encontramos, então. Um beijo.
- Outro, filha. Até amanhã. Estou curiosa agora sobre seu novo namorado.
Acho que telefonar para mamãe não foi a melhor coisa a se fazer.
Levanto e me dou uma olhada no espelho da sala. Dessa vez caprichei no visual. Coloquei um vestidinho preto e curtinho e dei umas borrifadas com meu perfume favorito. Ele chegou cedo hoje. Jogo os cabelos para frente e para trás antes de abrir a porta, respiro fundo e giro o trinco.
- Igor? - digo, surpresa.
Eu não esperava vê-lo hoje. E nem me preparei para isso. Ele me olha toda arrumada e sorri meio sem graça.
- Ocupada?- Não! Entra - faço um gesto com a mão.
Agora estou mesmo encrencada. A qualquer momento Bruno pode chegar e não acho que eles vão gostar da situação.
- Você ia sair? - ele pergunta, andando até o sofá.
- Nada - respondo. - Senta. Quer um refrigerante?
- Não, obrigado - ele se senta, mas parece desconfortável.
Sento no pufe à sua frente e fico mexendo no controle remoto da TV, sem olhá-lo nos olhos.
- Sarah, vim aqui porque preciso te contar uma coisa.
- O que é? - encaro-o como se não imaginasse.- Eu e Renata estamos namorando.
ESTÁ A LER
Do Seu Lado
RomanceDo seu lado conta a história de Sarah, ela tem um melhor amigo chamado Igor, que ela conheceu na faculdade de Arquitetura. Até trabalhar junto, eles trabalham. Sarah compartilha tudo com ele, como se ele fosse uma garota, exceto pelo fato dele não s...