Capítulo 15

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- Não vou me meter nisso, mamãe! - digo, consternada ao vê-la discutir com papai sobre a reforma no jardim.

- Seu pai é um verdadeiro turrão - ela está dizendo, com as mãos na cintura e um chapéu de palha na cabeça.

Está um dia ensolarado e mamãe decidiu há alguns dias que iria mudar nosso jardim. Papai não aceita muito bem a ideia, então os dois estão brigando feio por causa disso.

- Não é que eu seja turrão. Você que não se importa com a natureza! - ele diz, emburrado, se balançando na cadeira, enquanto lê um livro.

- Não custava nada entrar em acordo comigo. Eu fiz a minha parte... - ela está gritando lá de baixo, sob o sol quente. - Prometi que não iria gastar muito e cumpri! O projeto foi feito totalmente por mim, inspirado nas revistas - ela diz como forma de me atingir.

Mamãe me pediu um projeto de jardim e eu disse que não sou paisagista. Eu deveria ter procurado alguém para ajudá-la, mas minha vida não anda lá muito tranquila ultimamente, de modo que acabei deixando isso em segundo plano.

- Pode mudar seu jardim, querida - papai diz sem levantar os olhos do livro.

- Como? Se você não deixa que eu faça do meu jeito? Como? Se essa droga de laranjeira murcha está no meio do jardim, hein? - ela diz chateada.

Papai se levanta e eu dou graças a Deus por os dois estarem em andares diferentes.

- Droga de laranjeira murcha? É assim que você chama a laranjeira que eu plantei quando construímos a casa? -ele grita de lá.

- Laranjeira essa que nunca... nunca deu frutos! Laranjeira murcha, sim! -ela responde.

- Ah, vou voltar pra minha leitura - ele bate o pé e senta.

- Meu Deus, mamãe... Será que dá pra vocês dois pararem com isso? - digo, angustiada.

- Você não sabe o que ele fez, Sarah! Ele dormiu no jardim, ao lado da laranjeira, só porque eu disse que iria arrancá-la enquanto ele dormia - ela coloca a mão na testa e enxuga o suor.

- Puxa, mãe... Você bem que podia deixar essa plantinha aí.

- Para quê? Não serve pra nada! Não dá frutos! - ela exclama e eu fico pensando se caso eu não me casar e ter filhos um dia, ela iria me descartar.

Já faz quinze dias que o Igor não dá notícia. Tentei seu celular, mas está sempre desligado. Estou no shopping com uma cliente para escolher objetos de decoração. Essa é uma das partes de que mais gosto no meu trabalho. Fátima é engraçada. Aparentemente, o marido dela ficou rico com um lance da internet e ela fica totalmente deslumbrada com as coisas.
Inicialmente, ela queria uma cama redonda no quarto, espelho no teto, estampa de oncinha nas poltronas e cortina vermelha de veludo. Quase tive um ataque arquitetônico com isso. Mas aos poucos fui explicando coisas do tipo "menos é mais" e ela está aceitando bem.

- Que tal esse vaso? - aponto.

- Não sei, Sarah... É tão apagadinho - ela faz um muxoxo.

- Hum... Certo. Vamos ver outra coisa - tento encontrar algo que a agrade e que seja adequado.

- Ui! Esse quadro está um arraso! - ela aponta para um tipo de escultura de parede com o corpo de um homem nu. Começo a rir.

- Quero levar! - ela diz e fico em pânico.

- Levar para colocar onde? - pergunto.

- No quarto. Não fica ótimo? E depois podemos procurar um que seja uma mulher. Aí nós podemos pendurar na parede da cabeceira da cama, indicando os lugares onde dormimos. Que tal? Preciso admitir que ela é bem imaginativa.

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