- Não vou me meter nisso, mamãe! - digo, consternada ao vê-la discutir com papai sobre a reforma no jardim.
- Seu pai é um verdadeiro turrão - ela está dizendo, com as mãos na cintura e um chapéu de palha na cabeça.
Está um dia ensolarado e mamãe decidiu há alguns dias que iria mudar nosso jardim. Papai não aceita muito bem a ideia, então os dois estão brigando feio por causa disso.
- Não é que eu seja turrão. Você que não se importa com a natureza! - ele diz, emburrado, se balançando na cadeira, enquanto lê um livro.
- Não custava nada entrar em acordo comigo. Eu fiz a minha parte... - ela está gritando lá de baixo, sob o sol quente. - Prometi que não iria gastar muito e cumpri! O projeto foi feito totalmente por mim, inspirado nas revistas - ela diz como forma de me atingir.
Mamãe me pediu um projeto de jardim e eu disse que não sou paisagista. Eu deveria ter procurado alguém para ajudá-la, mas minha vida não anda lá muito tranquila ultimamente, de modo que acabei deixando isso em segundo plano.
- Pode mudar seu jardim, querida - papai diz sem levantar os olhos do livro.
- Como? Se você não deixa que eu faça do meu jeito? Como? Se essa droga de laranjeira murcha está no meio do jardim, hein? - ela diz chateada.
Papai se levanta e eu dou graças a Deus por os dois estarem em andares diferentes.
- Droga de laranjeira murcha? É assim que você chama a laranjeira que eu plantei quando construímos a casa? -ele grita de lá.
- Laranjeira essa que nunca... nunca deu frutos! Laranjeira murcha, sim! -ela responde.
- Ah, vou voltar pra minha leitura - ele bate o pé e senta.
- Meu Deus, mamãe... Será que dá pra vocês dois pararem com isso? - digo, angustiada.
- Você não sabe o que ele fez, Sarah! Ele dormiu no jardim, ao lado da laranjeira, só porque eu disse que iria arrancá-la enquanto ele dormia - ela coloca a mão na testa e enxuga o suor.
- Puxa, mãe... Você bem que podia deixar essa plantinha aí.
- Para quê? Não serve pra nada! Não dá frutos! - ela exclama e eu fico pensando se caso eu não me casar e ter filhos um dia, ela iria me descartar.
Já faz quinze dias que o Igor não dá notícia. Tentei seu celular, mas está sempre desligado. Estou no shopping com uma cliente para escolher objetos de decoração. Essa é uma das partes de que mais gosto no meu trabalho. Fátima é engraçada. Aparentemente, o marido dela ficou rico com um lance da internet e ela fica totalmente deslumbrada com as coisas.
Inicialmente, ela queria uma cama redonda no quarto, espelho no teto, estampa de oncinha nas poltronas e cortina vermelha de veludo. Quase tive um ataque arquitetônico com isso. Mas aos poucos fui explicando coisas do tipo "menos é mais" e ela está aceitando bem.- Que tal esse vaso? - aponto.
- Não sei, Sarah... É tão apagadinho - ela faz um muxoxo.
- Hum... Certo. Vamos ver outra coisa - tento encontrar algo que a agrade e que seja adequado.
- Ui! Esse quadro está um arraso! - ela aponta para um tipo de escultura de parede com o corpo de um homem nu. Começo a rir.
- Quero levar! - ela diz e fico em pânico.
- Levar para colocar onde? - pergunto.
- No quarto. Não fica ótimo? E depois podemos procurar um que seja uma mulher. Aí nós podemos pendurar na parede da cabeceira da cama, indicando os lugares onde dormimos. Que tal? Preciso admitir que ela é bem imaginativa.
ESTÁ A LER
Do Seu Lado
RomanceDo seu lado conta a história de Sarah, ela tem um melhor amigo chamado Igor, que ela conheceu na faculdade de Arquitetura. Até trabalhar junto, eles trabalham. Sarah compartilha tudo com ele, como se ele fosse uma garota, exceto pelo fato dele não s...