Acabo de comprar um jogo novo para o meu smartphone.
Daqui a poucos minutos o meu melhor amigo, Igor, vem me buscar
para uma viagem curta à fazenda de seus pais numa cidadezinha a cento e vinte quilômetros daqui.
É o aniversário de casamento deles,
e não os conheço pessoalmente. A única coisa que sei é que não fazem o tipo "pessoas comuns". Sua mãe é escritora.
Não é estranho conhecer uma escritora? Quero dizer, escritores são pessoas que vivem por aí à paisana. Ficam famosos e ricos, mas não saem na Contigo, por exemplo.
E seu pai tem um negócio de touros reprodutores.
O fato é que Igor tem muita sorte de ter sido incentivado a ser arquiteto. Acredito que se ele quisesse ser vendedor de picolé, os pais iriam achar o máximo também. Não consigo imaginar minha mãe dizendo: "É isso aí, filha! Vai ser escritora!", por exemplo.
Quando eu quis ser cantora, ela disse que eu não iria sair por aí em um ônibus velho e cheio de hippies. Tentei explicar que eu seria
cantora pop e ela disse: "Hippies não são pop?".- Ei, senhor fazendeiro! - digo, batendo no vidro do carro de Igor.
- Olá! - ele sai e vai até o outro lado abrir a porta para mim. Isso é uma coisa engraçada que ele sempre fez.
- Que tem nessa mochila? - ele diz. quando a segura para colocar na mala.
- Kit Selva! - respondo.
- Que é isso?
- Repelente em loção, repelente em spray, mosquiteiro, um aparelhinho que emite ondas sonoras e espanta pernilongos, meias e mais meias - digo, enquanto clico no meu novo joguinho do smartphone.
- Sinto dizer, mas não vamos acampar - ele ri.
- Gracinha...
- E essa coisa aí? - ele se refere ao meu smartphone.
-Ah, isso é um smartphone! - levanto o aparelho e o aproximo de seu rosto.
- Eu sei! Quero saber o que você está fazendo com ele.
- Um jogo novo! Pra me distrair na estrada - sorrio.
- Hum...- Igor detesta quando fico vidrada nos meus joguinhos. _Ele
acha que se eu não estiver olhando, é porque não estou escutando.
Mas eu sou mulher e consigo fazer mil coisas ao mesmo tempo.- Cento e vinte quilômetros dão quantas horas? -pergunto.
- Uma hora e meia, por aí --responde.
- Então nós chegaremos dentro de umas três horas. Ele levanta as sobrancelhas.
- Lá vem você...
- Você está dirigindo como uma velhinha!
- Você sabia que um choque nessa velocidade projeta uma pessoa de sessenta quilos, como você, numa força de cerca de quatro toneladas?
- ele diz.- Eu não tenho sessenta quilos! - digo, revoltada. - Tenho cinquenta e nove!
- Rá, rá... -Igor é cheio de explicações físico-químicas. Ele sabe de tudo um pouco e isso, às vezes, me deixa irritada.
Especialmente porque ele quase sempre utiliza argumentos que me deixam em desvantagem.- Será que seus pais vão gostar de mim? - pergunto.
- Depende...
- De quê? - questiono, curiosa.
- Você é muito boba... - ele ri.
- É claro que eles vão adorar você. Quem não gosta de Sarah Albuquerque?- Tá bom! - digo e empurro seu ombro.
Durmo um pouco durante a viagem e, quando acordo, já estamos chegando.
- Já se passaram quantas horas? - pergunto meio atordoada.
ESTÁ A LER
Do Seu Lado
RomanceDo seu lado conta a história de Sarah, ela tem um melhor amigo chamado Igor, que ela conheceu na faculdade de Arquitetura. Até trabalhar junto, eles trabalham. Sarah compartilha tudo com ele, como se ele fosse uma garota, exceto pelo fato dele não s...