Capítulo 4

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Noeli, a mãe de Igor, é um doce. Ela preparou um jantar magnífico para nós, com direito a velas e tudo o mais. Estamos sentados à mesa de madeira maciça, bem decorada e ela sai da cozinha com uma travessa de pernil com um cheiro delicioso.

- Esse é especial! - ela diz. - Feito com todo amor para o meu garotinho.

- Mãe! - ele diz em tom de repreensão.

- Não se preocupe, Dona Noeli... Nós somos amigos quase irmãos. Não vou espalhar isso no trabalho - pisco para ela.

Nos servimos e enchemos nossas taças de vinho.

- E então? Você tem um namorado, Sarah? - ela pergunta.

- Não. Sou solteira - respondo.

- Mas uma moça tão linda... - o pai de Igor diz.

- Obrigada - digo e coro as bochechas.

- Ela é muito... exigente - Igor diz.

- Exigente? - retruco. - É exigir demais querer alguém que me compreenda? Que goste mais de mim que do próprio carro e que queira algo sério? - começo a rir.

- É... E você, meu filho? Quando é que vai nos apresentar à namorada? - ela continua...

- Quando eu tiver uma - ele responde.

Nós acabamos e fomos para um alpendre onde os músicos já estão tocando baladinhas.

- Que bonitinho! - digo. - Parece festa na roça!

Ele olha para mim e sorri.

- É festa na roça.

Há um monte de gente comendo queijo quente e conversando ao redor da fogueira.
Os pais de Igor sentam-se em um banquinho.
Eles estão de mãos dadas e, de vez em quando, se beijam no rosto acariciam os cabelos um do outro. É tão bonitinho.

- Seus pais são ótimos - digo.

- São mesmo! - ele olha para os dois, cheio de ternura.

-Como eles se conheceram? Eu adoro saber como casais felizes se encontraram - digo, ainda os observando.

-Eles eram vizinhos - ele diz. - Moravam na mesma rua desde a adolescência.

- Sério? E foi tipo amor à primeira vista? Isso existe mesmo?

-Que nada! Eles demoraram anos para perceber - ele se aproxima de uma mesinha ao lado e pega um espeto. - Quer um queijo quente?

- Quero! - respondo, animada.- Sempre quis conhecê-los...Mas nunca dava, lembra? Sempre que eu combinava de vir, acontecia alguma coisa...

Ele se abaixa para assar o queijo na fogueira.

- Ei, vocês não vão dançar? - Dona Noeli se aproxima, saltitando.

- Eu não sei dançar - digo, constrangida.

É verdade. Não sei mesmo. Não tenho ritmo e sou capaz de acabar com o pé de qualquer um.

- Mas que bobagem! Vamos! - ela insiste.

Olho para Igor sem graça. Imagina nós dois dançando? Ele não tem a menor cara de dançarino. Seria um desastre total.

-Aproveitem a noite! Leva ela para dançar, filho! - Seu Tércio, o pai de Igor, incentiva.

- Isso vai ser um desastre -sussurro para ele.

Ignorando o que eu disse, ele pega minha mão e me leva para o meio do salão. Está cheio de gente, ainda bem. Assim ninguém vai prestar atenção em nós dois.
Está tocando um xote, um tipo de música junina. Igor coloca uma mão na minha cintura, ajeitando a minha coluna. Com a outra, segura firme a minha mão e dá um passo para frente, conduzindo-me para trás.
Eu não piso no seu pé e nem me desequilibro. Pelo contrário.
É como se, de repente, Ana Botafogo baixasse em mim e eu me pego
flutuando pelo salão, como se dançar fosse a minha maior habilidade.

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