Capítulo 6 - Um cliente chato

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Era quase hora do almoço e provavelmente quase todo mundo que trabalhava por perto costumava comer ali. Ela também viu alguns caminhões estacionados em um posto de gasolina no fim do quarteirão e imaginou que viajantes também eram frequentes.

— Nossa, você chegou cedo. — Sarah disse assim que a viu. A mulher tinha uma jarra de café na mão e servia algumas mesas no salão.

Willis estava no balcão, retirando pedidos de um espaço retangular aberto na parede que dava visão para a cozinha, onde ela conseguia escutar o som de fritura e louça.

— Achei melhor começar um pouco mais cedo, para poder me acostumar com o movimento. — Anne explicou com um sorriso meio sem jeito. — Isto é, se estiver tudo bem por vocês.

— A garota já ganhou pontos comigo pela iniciativa. — Willis disse, dando de ombros quando a esposa o consultou.

— Realmente uma ajudinha agora seria ótimo. — Sarah sorriu. — Bom, então dá um pulo na cozinha e pede para o Luc te mostrar onde ficam os aventais e bandejas.

Anne fez como instruído pela mulher e foi até a cozinha onde conheceu o cozinheiro Luc, um sujeito moreno, de cabelos crespos que andava para lá e pra cá enquanto tentava manter os pedidos em ordem. Ele não parecia ser muito mais velho do que ela.

Anne viu que Luc tinha post-its espalhados em uma bancada cheia de ingredientes onde de tempo em tempo consultava suas anotações.

— Você deve ser a garota nova. — Disse assim que a viu. Ele tinha sotaque latino e seus olhos mal se focaram nela quando falou.

— Eu devo. Meu nome é Anne, prazer.

— Eu sou Lucas, mas pode me chamar de Luc, todo mundo aqui chama. Os aventais ficam naquele armário ali. — O garoto apontou com uma colher.

Anne foi até o lugar que Luc apontou e achou um avental branco com o logo da lanchonete bordado no centro do peito. Também achou uma bandeja e deu uma rápida espiada nos post-its, decorando o que ia onde. Pegou alguns pratos prontos e foi para o salão onde pediu para Sarah ensinar a ordem das mesas.

Só tinha doze delas, então isso não foi nenhum desafio. Não tinha se passado nem meia hora e logo ela já sabia de cabeça cada item do cardápio, nomes dos clientes mais frequentes, gostos particulares de cada um e também já tinha aprendido o sistema de organização que Luc usava na cozinha, assim conseguiu ajudá-lo quando estava livre.

— Você está se dando muito bem. — Sarah elogiou quando o movimento começou a acalmar.

Já era pouco mais das doze horas, as mesas já tinham sido servidas e os clientes almoçavam e conversavam animadamente.

— Eu já tinha trabalhado em restaurante antes. — Anne contou. — É o tipo de coisa que você pega o jeito e não esquece.

— A Julia se atrapalhou tanto nos primeiros dias. — Willis riu, achando muita graça da lembrança.

— Ela não foi assim tão mal. — Sarah interveio.

— Não? A garota confundiu frango frito com um suco! — O velho riu enquanto se lembrava daquilo.

A porta da lanchonete abriu e todos olharam, como de costume, para o recém chegado.

O homem era alto, e sua presença era tão intensa que parecia que salão tinha ficado menor. Tinha um corpo robusto, rosto barbudo com cara de problemas. Seus cabelos desgrenhados davam a ele o aspecto de alguém que não via um shampoo e tesouras a um bom tempo.

Vestia uma regata gasta e suja com uma jaqueta jeans por cima. As calças tinham o tecido amassado e alguns pontos rasgados. Seus coturnos sujos deixavam uma marca de terra por onde pisava e ele não parecia se importar muito com aquilo.

A FILHA DO FOGO : DESPERTAR (VENCEDOR DO WATTYS 2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora