t w e l v e

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Ten acordou com uma dor terrível em suas costas e o rosto dolorido e marcado. Havia passado a noite em sua varanda, após passar horas vagando pela cidade sem rumo e chorando, até decidir voltar para casa. Era três da manhã quando o garoto chegou, mas como estava sem suas chaves e não queria incomodar seus pais, acabou por dormir no chão. Sua camiseta ainda estava molhada por conta de suas incessantes lágrimas, que ele não fazia ideia de onde surgiam. Assim que ouviu o barulho da porta sendo destrancada, Ten se levantou desajeitadamente, dando de cara com seu pai.

— Ten! Está tudo bem? Onde passou a noite? Onde está seu amigo?

— Pai, depois, 'tá bom?

O tailandês passou por seu pai de cabeça baixa, e foi direto para seu quarto. Estava cansado, só queria poder entender o que estava passando em sua mente e em seu coração, queria chorar mais. Assim que adentrou em seu quarto, mergulhou em sua cama e chorou, Ten chorava tanto que soluços involuntários escapavam de sua garganta. Não sabia exatamente porquê chorava, estava confuso demais para raciocinar. Estava bravo e magoado com Sicheng, mas também estava se sentindo culpado com o mesmo por não ter o compreendido. Queria pedir desculpas a Taeyong, queria poder dizer que não queria magoá-lo, que era apenas sua maneira de ser. Queria dizer que gostava dele, mesmo com seu jeito de ser. Gostava de seus toques, do gosto doce de cerejas que sempre ficava em seus lábios após um beijo. Ele gostava de tudo aquilo, mas agora tudo aquilo estava o consumindo.


Era duas da tarde quando Ten foi acordado por leves batidas na porta de seu quarto. Havia pegado no sono enquanto chorava, e seu travesseiro estava encharcado. Ele se levantou lentamente e foi em direção à porta, sem se importar com o estado de suas roupas ou de seu rosto, levando um susto ao abrir a porta.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou, esfregando os olhos.

— Podemos conversar?

— Hum, claro...

Yuta adentrou o quarto, analisando cada canto do recinto. Ten ainda não fazia a mínima ideia do que ele estava fazendo ali, mas sabia que coisa boa não estava por vir, então decidiu ir direto ao ponto.

— O que você quer falar? — perguntou, cruzando os braços.

— Sobre a briga, eu vi tudo — respondeu Yuta, o encarando. — Você tem que consertar essa merda que você fez.

— Eu fiz? Eu só estava tentando proteger o meu irmão! — disse Ten, tentando controlar o tom de sua voz.

— Eu sei, eu entendo isso, por isso vim falar com você. Olha, eu não vou ser um babaca com Sicheng, eu gosto dele pra valer, como eu nunca gostei de ninguém. Ele é um menino tão doce, amável, eu não pude resistir, entende? Eu sempre vou respeitá-lo, nunca vou fazer nada que ele não queira, eu o amo.

Yuta dizia aquelas frases calmamente e com uma sinceridade que chegou a espantar Ten, que permanecia em silêncio.

— Ele está triste — continuou o japonês. — Ele queria ter o apoio do irmão, sabe? Queria poder contar com você, ter alguém pra dividir as coisas, mas você só o repreendia, e não tente me dizer o contrário pois ouvi isso do próprio.

— Eu só... Queria protegê-lo. Como eu poderia saber que você estava querendo algo mais sério?

— Talvez desde o momento em que parei de beijar todo mundo daquela escola? — Yuta fez uma pergunta retórica, que arrancou um riso fraco e envergonhado de Ten. — Olha, eu quero que vocês se acertem, eu quero ver ele feliz de novo, com aquele sorrisinho infantil fofo que ele tem, ele está tão desanimado sem você.

Envergonhado, essa era a palavra que poderia descrever Ten naquele instante. Vendo o jeito que Yuta falava de Sicheng, o sorriso bobo que surgia em seus lábios, os olhos brilhando ao lembrar de seu rosto, foi inevitável não se sentir idiota por tentar afastá-los. Queria poder enterrar sua cabeça em um buraco de tanta vergonha que sentia.

— Desculpa — disse, baixinho. — Desculpa por ter uma impressão errada, eu fui um idiota com vocês.

— Você não tem que pedir desculpas pra mim, entendo que você estava preocupado. Você deve desculpas ao Sicheng...

— Onde ele está? Quero falar com ele.

— ... e o Taeyong. Você também foi um babaca com ele.

Toda a empolgação de Ten acabou em poucos segundos. Falar de Taeyong era algo realmente complicado.

— Sei bem que você não quer nada com ele — disse Yuta, colocando as mãos no bolso. — Ou que está confuso. Então só vou te dizer algumas coisas sobre ele, ok?

— Ok, vá em frente.

— Olha, eu conheço o Tae faz pouco tempo, mas já somos quase como irmãos. O pai dele morreu quando ele tinha dez anos, era o único que realmente se importava com ele, e a mãe dele acabou sumindo no mundo. Ele é muito sozinho, então ele viu em você uma chance de sair da solidão, de ter alguém pra amar, por isso estava tão em cima. Pense só... em dar uma chance pra ele. Taeyong realmente gosta de você.

Ten encarou o chão por alguns segundos, respirando fundo. Sua mente aos poucos estava ficando menos confusa, e seu coração agitado. Sabia que gostava de Taeyong, mas gostava tanto assim para ficar ao seu lado? E se ele estivesse apenas precisando de alguma companhia, para ser menos sozinho? Ten não sabia o que pensar, ele apenas precisava de respostas, o mais rápido possível, antes que seu coração fosse explodir.

— Pode me levar até ele? — perguntou.

— Primeiro, vamos ver Sicheng. Ele é o que está com menos raiva de você no momento.

— Como assim?

— Taeyong não quer te ver nem pintado de ouro — respondeu Yuta, rindo. — Vamos ter muito trabalho com aquele cara. Mas, venha, Sicheng está no meu apartamento.

Yuta puxou Ten pelo braço, e no meio do caminho Ten o puxou delicadamente, com um sorriso nos lábios, e o abraçou.

— Obrigada — sussurrou.

— Não precisa agradecer, afinal, quem sabe no futuro não seremos da mesma família? Agora venha, vamos consertar essa porra.

cherry bomb - lty. + tcp.Where stories live. Discover now