f o u r

4.1K 706 555
                                    

— Não.

— Mas, hyung...

— Mas nada, não é não.

— Por favor, você não precisa ir se não quiser...

— E deixar você sozinho numa festa onde eu sei que Nakamoto Yuta estará lá pronto pra te levar para o mal caminho? Não mesmo. Você não vai, eu não vou. Vai ser melhor assim.

Sicheng bateu os pés no chão e gritou de frustração. Ten era absurdamente teimoso e irritante com a sua calma aparente, e aquilo deixava Sicheng maluco. O garoto muitas vezes se sentia preso, queria poder sair, conhecer pessoas, estar com Yuta, mas Ten o mantinha do seu lado vinte e quatro horas por dia, o vigiando e afastando todos que tentassem alguma aproximação. Ele estava cansado disso, ele queria liberdade.

— Quantas vezes eu tenho que dizer que o Yuta é uma pessoa legal? Se você não fosse tão chato saberia disso — respondeu Sicheng, com os braços cruzados.

Ten desviou seu olhar de seu livro para Sicheng, e o encarou. Estava tranquilamente deitado em sua cama, e não seria Sicheng que o tiraria de seu descanso.

— Tenho motivos para ser assim, Sicheng. Não gosto de conversar com pessoas, mas sei exatamente como elas são. Yuta vai se aproveitar de sua inocência, vai te usar e depois te descartar como um brinquedo velho, como faz com todos aqueles garotos e garotas que ainda correm atrás dele mesmo com seus corações partidos. Se quiser se aventurar, vá em frente, vá nessa festa e arrisque-se a beijar Yuta bêbado. Vá para a cama dele e ouça suas mentiras. Depois não diga que eu não avisei.

Ten voltou a ler seu livro calmamente, com uma vontade enorme de sorrir. Sabia muito bem que Sicheng não iria fazer nada daquilo, ele não costumava desobedecê-lo, e não seria agora que o faria. Enquanto pensava nisso, Sicheng saiu de seu quarto furioso. Ele estava disposto a provar que Yuta não era uma má pessoa, e que ele sabia se cuidar sozinho. Ele não era um bebê, e Ten não era seu pai.

Durante o jantar, Ten não notou a falta de Sicheng. Estava envolvido demais em seu livro para prestar atenção ao seu redor. Apenas quando seu pai o perguntou sobre seu paradeiro que o garoto despertou e fechou seu livro.

— Ele não está lá em cima? — perguntou Ten, com a boca cheia de arroz.

— Ele não estava no quarto quando eu fui chamá-lo, pensei que ele estava no seu querido — sua madrasta respondeu, parecendo preocupada.

— Que horas são?

— Quase nove e meia.

Ten arregalou os olhos e quase se engasgou com a comida. Nove e meia era a hora em que a festa iria começar. A festa em que Taeyong e Yuta estariam. A festa em que Ten disse para Sicheng não ir. A festa onde provavelmente ele estava naquele exato momento.

— Se ele estiver onde eu estou pensando, eu o mato.

A tal festa era na casa de Seo Youngho, ou Johnny, um idiota riquinho que pagava de americano para todos e que odiava ser chamado pelo nome coreano, e que era o garoto mais cobiçado pelas garotas. Sua casa ficava do outro lado da cidade, no bairro mais rico, e Ten teve que pegar dois metrôs lotados e andar mais sete quarteirões para chegar, o que o fez querer matar Sicheng por apenas este motivo. Estava frio, Ten estava congelando até os ossos, estava quase pedindo por socorro por estar perdido em meio a mansões, até avistar uma única mansão no fim da rua que estava cheia de adolescentes bebendo e brincando de serem adultos. Enquanto andava, pensava na decoração do enterro de Sicheng. Cravos brancos, talvez com algumas rosas para a coroa de flores. Sicheng usaria um terno preto. Seu caixão seria com uma madeira bem polida.

Era brincadeira, claro. Mas por via das dúvidas, Ten anotaria o telefone de alguma funerária.

Todos que estavam no gramado da casa o olharam como se Ten fosse um alienígena, um estranho que não pertencia àquele lugar. E era exatamente assim que Ten que sentia. Não queria estar ali, ele não estaria ali se não fosse Sicheng. Da última vez, Ten acabara cometendo um erro, não iria repeti-lo. Ele iria entrar, pegar Sicheng e ir embora. Sem bebidas. Sem Taeyong.

Ao entrar na casa, todo o frio que sentia foi embora. O lugar estava cheio de pessoas que o aqueciam com todo aquele calor humano, e Ten se sentiu sufocado. Como iria encontrar Sicheng no meio daquele povo todo? E a luminosidade do local também não ajudava em nada, visto que a casa estava iluminada apenas por luzes negras e néon. Exatamente como naquela maldita festa.

Lentamente, Ten começou a andar por entre as pessoas, encontrando muitos rostos conhecidos da escola, menos o de Sicheng. Todos ao seu redor dançavam ao som da batida, se esfregando umas nas outras e, consequentemente em Ten, que queria morrer. Andou por toda a pista, olhando atentamente ao redor, mas nada de Sicheng. Estava prestes a ir para o segundo andar, quando alguém o puxou pelo braço e encostou a boca em seu ouvido.

— Sabia que você viria, docinho.

cherry bomb - lty. + tcp.Onde histórias criam vida. Descubra agora