Capítulo 3: Caindo na real (Rafael)

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Assim que eles saíam um alívio tomava conta de mim. Esperava com ansiedade a entrada da enfermagem porque sabia que quando minhas visitas saíam e depois que o “sossega TORO” era administrado, eu recebia meu anjo. O que ninguém sabe é que eu fingia tomar os remédios no horário previsto. Eu realmente só os tomava, a seco, quando a anjinha ia embora.

Quando ela entrava no quarto e tocava minha mão, sentia uma eletricidade nos percorrer, algo muito louco que eu jamais senti. Com tanta novidade, meu amigão lá embaixo imediatamente ficava alerta. Era um alívio saber que o acidente não me deixou brocha. O que mais me deixava apreensivo durante aquele tempo era a possibilidade de que ela pudesse perceber minha barraca armada e sair correndo.

Confesso que, por vezes, fiquei tentado a abrir os olhos, mas o medo de assustá-la e fazê-la desaparecer era ainda maior. E isso eu não suportaria. Também tinha que me conter para não tocá-la nem sorrir. Ela era a responsável por eu ter saído da escuridão, eu voltei por ela. Eu amava sua espontaneidade e inteligência. Sofria calado quando ela me contava sobre os problemas com a auto-estima, me sentia inútil por não poder consolá-la ou abraçá-la. Ela era tão delicada que eu já não imaginava como poderia ser minha vida sem ela. Eu queria ir para a casa dela e ficar lá comendo pipoca e assistindo a filmes românticos com ela, o Dito, a Lolla e a Bá Binha.

Eu acho que fizeram transplantes de cérebro e de coração em mim durante esse tempo. Esse novo eu me surpreende. Por que o antigo eu pensando coisas românticas nunca existiu. Foda-se, mas era exatamente assim que eu me sentia quando ela estava por perto. Foda-se se eu tava caidinho por ela. Cacete essa mulher vai ser minha perdição!

Só queria saber quem era ela, independente de sua forma física, cor, classe social ou credo.

Após uma das visitas da minha anjinha, vieram verificar meu acesso venoso. Acordei meio sonolento e sondei com a enfermagem, mas ninguém sabia de quem eu falava, achavam que eu estava delirando, devido à medicação. Uma delas imaginou que eu me referia à Ava e disse que ela viria no dia seguinte. Logo voltei a dormir, sentindo-me derrotado.

Na outra manhã, ao abrir os olhos, fiquei em choque. Eu estava em outro lugar. Era um amplo quarto, que mais parecia um hotel. Porém, olhando mais atentamente percebi que era um luxuoso quarto de hospital.

O desespero bateu forte e comecei a gritar descontroladamente:

- QUE PORRA É ESSA? ONDE EU ESTOU? CADÊ MEU ANJO? 

Ava apareceu ao meu lado, toda disponível, passando a mão em mim. Eu senti náuseas, comecei a me debater e a empurrei para longe, quase a levando a nocaute.

Antes que eu quebrasse tudo que estava ao meu alcance, já que eu tinha arrancado meu soro e jogado alguns objetos no chão, ela apertou o botão para chamar a enfermagem. Eu senti dores insuportáveis, mas nada que se comparasse ao vazio que senti por saber que talvez nunca mais veria minha anja.

Eles chegaram agilmente - já que o hospital inteiro ouviu meus berros - e, com a ajuda dos seguranças, me colocaram para dormir (uma expressão que não é nada agradável para um lutador de MMA, diga-se de passagem).

Acordei na manhã seguinte tentando processar e digerir tudo o que estava acontecendo em minha vida - acho que devo ter dormido quase 24 horas. Novamente, tive vontade de continuar com os olhos fechados e pensava na minha família e em como eles me faziam falta. Passados alguns minutos, ouvi o ranger da porta e já me preparei para mais uma picada, mas não foi o que aconteceu. Eu agradeci a Deus por ele ter ouvido minhas preces quando um toque, uma voz e um perfume familiar me invadiram e trouxeram paz.

Abri meus olhos lentamente e quase não consegui falar, tamanha minha felicidade e emoção:

- Ma... mãaaaeeee!!! – a voz saiu rouca e quebrada, mas eu isso não importava.

Transformados pelo amor (Livro 1: Tinha que ser Você) -  disponível até 30/09Onde as histórias ganham vida. Descobre agora